Capítulo 10

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O imponente sol a preluzir além do horizonte, em toda sua luz, a glorificar ao senhor, resplandecendo seu calor que a alma dos fracos e desamparados abrasava, no topo ele irradiava o ápice de seu esplendor, pela minha janela aberta penetrava, assim aquecendo meu desnudo corpo, que minha alma consolava, uma leve ventania abafada que viera junto com aquele que trazia o dia, me causava tremores que me rejubilava, os pelos de meu corpo a se eriçar com o leve roçar do frescor, eu os observava oscilarem, para frente, e para trás, em cada parte de meu corpo onde eles habitavam, tão eretos quanto eu estava.

Eu sentia vontade de do dia rir, um regozijo apoderou-se de todos meus sentidos, o contentamento eterno enviado por Cristo,  isso era legítimo, indescritível, um sentido qual era a primeira vez que eu podia sentir em âmago, me dando o dom de poder ver o divino, jamais havia de cessar, pois ele, agora estava em mim, me guiando em minha missão na terra, e jamais sem amparo me deixaria.

Estendi meu torso, a me estimular a despertar, meus ossos a emitir sons de estalo, me tirando de um transe, busquei forças para levantar da cama, me pus de pé no chão, a madeira gélida a causar um arrepio por toda extensão de meu corpo.
Meu corpo desnudo necessitava de água quente a percorrer por ele, memórias da noite passada fazia minha face se repuxar, a revelar meus dentes, um sorriso que eu não era capaz de evitar, ele refletia minha alma, uma pureza consumia meu ser, a bagunça que havia se tornado minha batina, minha cama, e até mesmo respingos sobre o preto salto de Hilda Furacão, sobre seus brilhantes em sua ponta, o tomei em minhas mãos, levei comigo junto ao meu banheiro, onde a calorosa água se pôs a cair sobre mim, me abraçando em seu calor, um enlace divino, a lavar meu corpo. Minhas mãos para o alto levaram o sapato, a água caindo sobre ele, meus dedos finos por percorrê-lo.
O sabão por meu corpo a escorregar, sua espuma a fazer de meu corpo exalar frescor de lavanda que me fazia suspirar.

Logo a água cessou, e me retirei. Meu cabelo escorrido cobria meus olhos, a água pingava lentamente sobre meu rosto. A toalha branca a enxaguar todas gotas que de meu corpo vertiam, da janela aberta percorria uma leve corrente de vento, que fazia a cortina azul pairar sobre o ar, sem brusquidão, sereno, batia em meu corpo, a me refrescar, então pus sobre mim a batina branca, por Jesus abençoada, e foi então que senti que o dia era iniciado, antes era como viver em um sonho despertado, ou no próprio paraíso, como se tudo que havia por minha vida passado, desde o momento que encontrei o milagre em minha vida, até ontem, não fosse real, mas era, e isso fez minhas batidas se tornarem alegres, como se estivesse a proferirem um cântico.

Era real. Ela era real. Legítima, a verdade, incontestável. Ela era o realismo, era também o romantismo, o naturalismo. Tudo que os homens buscavam desde o princípio.
Ela era a causa, e também a solução. Ela era o pecado, e era o imaculado.
Ela era o começo. Ela era meio. Ela era o fim.

Pelo convento meus pés se apressaram, eu corria livremente entre os corredores, as imagens de santos a me encarar, como se meu interior conhecessem, como se a mim estivessem a sorrir, como se a mim glorificassem. Um dia seria eu, pensei,em uma imagem quando por fim minha jornada na terra estivesse findada, lá estaria eu, em um belo retrato, pinceladas em tinta a óleo, lágrimas pelos olhos daqueles cujo a alma desamparada implorava por misericórdia, em oração os joelhos dobrariam, e suas vozes rogariam por clemência. Ela, Hilda Furacão, a mim seria devota, sua boca iria proferir palavras para eu continuar guiando sua alma mesmo que do céu.

-Bom dia, irmãos em Cristo!-

Me dirigi aos outros freis que estavam diante de minha vista, interrompendo o assunto que articulavam, com algo em suas faces cujo eu não tinha condão para dirimir.

-Malthus, leia isso!-

Em suas mãos estava o jornal “Bom dia Belo Horizonte”, que ele estendeu a mim.

Meus olhos não eram aptos a discernir os vocábulos que estavam presentes ali, as conjunturas sobre minha pessoa proferidas.
A notícia estampava a capa do folheto amarelado, em letras negrito:

“Falso Santo! Malthus, novo frei em Belo Horizonte foi mais um dos homens a cair nos encantos da Cinderela Boêmia, Hilda Furacão”

A imagem que sucedia, arrancou uma parte de mim.

O momento mais sagrado em toda minha existência. Onde eu senti Deus em toda extensão de minha alma e corpo. O momento mais íntimo entre o divino e seu servo.

Eu via agora em outro ângulo seus lábios pondo um selar frágil em minhas mãos, as íris cujo eu conhecia o tom azulado, na imagem em preto e branco, se curvando perante a aquele que reconheci ser eu, totalmente ereto, a contemplá-la.

Era chegado a hora da minha prova, eu estava a ser testado.
Minha alma fraquejou, sem armaduras eu tentei contra ele lutar, achei que poderia ser como Jesus, que nunca cedia contra o inimigo em seus combates, eu pensava ser vigoroso! Mas o demônio já tinha posto seu enlace contra minha carne, para me devorar, já sentia suas garras em mim, a me estraçalhar.

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Notas da autora:

Gostaram do capítulo? Estou insegura quanto a ele, mas está sendo divertido escrever, e sempre fico querendo saber as reações de vocês, amo os comentários!

Agora a fic começou se agitar, teremos o pobre do santo sofrendo mt, provando o pão que o diabo amassou.

Bjss

A meretriz - Hilda Furacão Onde histórias criam vida. Descubra agora