Treze

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O encaixe perfeito

Não conseguia pregar o olho dentro da caverna, enquanto todos dormiam calmamente. A chuva ainda caía no lado de fora, e estávamos a apenas duas horas tentando descansar. O fogo realmente nos aqueceu, aparentemente não teria nenhum perigo eminente, e eu sequer conseguia pregar os olhos. Itachi permanecia ao meu lado, e os outros rapazes mais à frente. Naruto e Sasuke foram os últimos a fecharem os olhos, depois de tanto conversarem.

Quem diria que no final das contas eles realmente eram muito amigos.

Itachi parecia uma estátua. Nossas mãos não estavam mais uma na outra, entretanto, sua cabeça estava agora em meu colo e eu não consegui afastá-lo.

Ninguém mais havia visto a cena, somente eu. Aproveitei para fazer um carinho em seus cabelos lisos, da cor da escuridão. Analisava cada linha de seu rosto, ainda mais fascinada com sua beleza. Lembrava de seu passado, e do presente, das coisas que Tsunade e Naruto me contaram a seu respeito.

Ele era um homem admirável, e não odiável.

Ele deveria ser Hokage por sua bravura. Por ter feito algo que um deveria fazer, e não simplesmente forçar um adolescente a fazer todo o trabalho sujo. Ele encarou como uma missão. Itachi era um verdadeiro ninja, admirável.

E eu estava o admirando naquele momento – até muito para o meu gosto. Não deixei de sorrir ao vê-lo se aconchegar mais em meu colo. Ainda faltavam umas quatro horas até o amanhecer e eu queria apenas estar na minha casa. Por outro lado, a companhia de uma pessoa inesperada, de um Uchiha mais velho, aquecia meu coração.

Eu estava sentindo algo a mais por ele, e não conseguia dizer se isso era uma coisa boa, ou ruim.

Eu amei uma pessoa, e tive meu coração partido em milhões de pedaços. Jurei a mim mesma que jamais sentiria isso de novo, não por alguém que não demonstrasse sentir o mesmo.

E me apaixonar por Itachi Uchiha, depois de me desapaixonar pelo irmão mais novo dele me fazia querer sumir do mapa.

Isso não deveria estar no roteiro da minha história.

E para piorar toda a situação, Sasuke estava de volta na vila, me pediu perdão por tudo o que fez, e o nosso trio da equipe sete estava de volta como se nada tivesse acontecido.

Eu não sei se conseguia lidar com tantas informações.

— Não consegue dormir? – uma voz baixa, como num sussurro me assustou.

Meus dedos ainda passeavam pelos fios capilares de Itachi, mas meus olhos estavam sobre o teto da caverna, pensando. A voz vinha exatamente da pessoa que invadia cada parte da minha mente. O encarei, tentando não transparecer nada em minha feição. Seus olhos negros me analisavam, um pouco sonolento. Uma pequena marca do tecido de minha perna estava em seu rosto. Ele realmente havia cochilado.

— As vozes na minha cabeça estão inquietas. – respondi, sorrindo levemente.

Não era uma mentira.

— E sobre o que elas estão conversando? – tornou a perguntar, procurando uma de minhas mãos, tornando a toca-la.

Pensei se responderia sua pergunta com sinceridade, e talvez não fosse a coisa errada a ser feita. Eu estava cansada de guardar sentimentos somente para mim. Desta vez eu seria honesta, diria de uma forma tranquila, e se fosse para ser, iria ser. Caso não, eu seguiria minha vida normalmente.

As vezes tudo não passava de algo passageiro, movido pela nossa curiosidade um no outro.

— Sobre eu estar gostando de você, depois de ter me desapaixonado pelo seu irmão. – falei, sem gaguejar, respirando fundo em seguida. — Me desculpe, Itachi. Eu sei que não deveria estar falando nada disso, tampouco sentir algo por voc...

E, sem conseguir finalizar minha frase, o senti perto o suficiente de meu rosto, quase sentindo seus lábios sobre os meus. Conforme eu falava, mantendo meus olhos vidrados a minha frente, sem conseguir olhá-lo na cara, sequer notei que ele se moveu.

Permaneci em silêncio, apenas olhando dentro de seus olhos. Estávamos em um contato visual profundo, até mesmo um pouco envergonhada e vulnerável. A boca entreaberta, esperando algo que a muito tempo não fazia. Seu nariz se encostou no meu e, finalmente, como se eu tivesse ansiando aquilo por muito tempo, senti sua boca grudar na minha.

Todas as outras vozes em minha mente se calaram, me permitindo poder ouvir a minha própria, sentindo todo o fervor que era estar beijando um garoto.

Seus lábios eram macios, e um pouco quente, apesar da sua pele estar sempre um gelo. Naquele momento estava diferente, aquecido e confortável. Me permiti soltar minha mão, apoiando-a em seu peito. Eu sentia seu coração bater ainda mais rápido quando os movimentos de nossos lábios se tornou um pouco mais intensos. Seu braço me puxou mais para ele, podendo sentir meu busto agora em seu peito. Nossas línguas encostavam uma na outra conforme movíamos nossa boca.

Era como se estivéssemos prontos e perfeitamente encaixados para aquele instante.

Paramos, ainda com a boca entreaberta, meus olhos permaneceram fechados, com medo de abri-los. Meu peito subia e descia em um ritmo mais acelerado, denunciando o quão ofegante estava. Eu não queria estar parecendo uma tola.
Seu toque em minha bochecha me acendeu, passando levemente seu polegar em um vai e vem, segurando meu queixo com as pontas dos dedos.

— Eu também estou gostando de você, Sakura. – sua voz grossa e baixa para que não acordasse os outros, retribuindo o que eu o disse antes do beijo.

Eu queria sorrir, sentia isso em um formigamento em minhas bochechas.

Porem, mesmo que eu estivesse contente por ele sentir o mesmo, como estávamos gostando um do outro tão repentinamente? Como isso tudo aconteceu?

— Eu não esperava por isso. — murmurei.

E não esperava mesmo. Meu único amor não foi correspondido. Meu único amor foi um Uchiha problematico e não era justo o meu destino estar entrelaçado de novo com outro Uchiha.
Senti a lágrima quente escorrer em minha bochecha direita, demonstrando o quão emotiva e traumatizada eu ainda estava.

— Eu não sou o Sasuke e não irei ferir seus sentimentos. – me falou, secando meu rosto. — Me desculpa se o beijo foi muito para você.

— Eu não sou mais aquela garota, só que as memórias ainda estão aqui. – apontei para a minha cabeça. — E você ser o irmão mais velho dele não ajuda muito. – ri, colocando a mão em minha boca em reprovação.

Não seria nada agradável acordar os outros. Kakashi provavelmente já se ligou no que estava acontecendo, mas ainda assim seria um caos se todos descobrissem. Não queria que nada daquilo se tornasse em murmurinhos na vila.

Pelo menos Kakashi era o meu amigo.

— E eu gostei mais do beijo do que deveria. – mordi o lábio inferior, não querendo pensar em nada de ruim naquele momento. — Eu não quero ser taxada como a louca pelos Uchiha's, Itachi. – abaixei os olhos, querendo costurar a minha boca por falar demais.

— Podemos manter em segredo, se preferir. Eu não quero que murmurinhos estraguem algo que deva ser só entre nós dois.

— E você quer que o que aconteceu aqui, hm, se repita?

E, perguntando isso, pude ver seu sorriso entre a iluminação da fogueira, o deixando tão bonito que poderia ficar ali por horas.

— Podemos repetir agora.

Meu Defensor - ItaSakuOnde histórias criam vida. Descubra agora