A Balança

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                                                         Lara

Observo ao redor do campo, erguendo o rosto e encarando o céu, meu lar. Fecho os olhos e foco apenas no sentido auditivo, apreciando os pássaros cantarolar, murmurando um som de melodia, os acompanhando.
- Ora, vejam se não é a bichinha de estimação dos demônios desprotegida. - Devina zomba.
Abro os olhos imediatamente e recuo em passos para trás, batendo contra um corpo atrás do meu, sinto suas mãos segurar com firmezas meus pulsos em minhas costas, imobilizando. Balanço a cabeça negativamente e respiro fundo, ergo o rosto e noto que ao lado da ruiva de roupas escuras, há apenas mais um integrante, está faltando o quarto membro do grupo.
- Ele não está aqui, está procurando um pedaço de madeira para imobilizar meu pé torcido. - Ela diz entre risos.
- Devina, eu realmente não entendo porque tanto ódio, mas não sou sua inimiga, por favor me solt... - Sou interrompida sendo atingida por tiros de água no rosto e peito.
Fecho os olhos e desvio o olhar tentando evitar ser atingida diretamente no rosto, posso ouvir os assobios e comentários maliciosos por agora o tecido em meu peito estar transparente. Meus olhos começam a lacrimejar, logo escuto uma voz esbravejando.
- Parem agora!. - Lucas ordena irritado.
Meus pulsos livres, mas meus sentimentos não, mantenho o olhar abaixado, uso minhas mãos e braços para tentar esconder meu tronco exposto á sua frente.
- Larinha, você está bem?. - Ele pergunta, sem resposta.
Lucas retira a sua camiseta e entrega em minhas mãos, sem erguer o rosto, assenti e visto a sua peça, sentindo o seu perfume de imediato, respiro o fundo e levanto o olhar, observando seu abdômen definido na minha frente, sinto um incomodo em meu estômago, seria fome? Mas fome não me causaria calor, porém também não fiz exercícios. Oque é esse incomodo interno? Aperto minhas pernas, desconfortável. Seria vontade de fazer xixi?
Desviada de meus pensamentos confusos, Lucy se aproxima e acaricia o meu ombro, assenti e sorrio fraco, sabia que ela está preocupada. Caminho ao lado do grupo até os corredores que nos dividem, seguindo apenas nós duas novamente até o nosso dormitório.  

                                 •

   Encarava o teto do quarto, angustiada e confusa, as vezes é difícil conseguir ler todas as emoções dos seres e não conseguir interpretar a si, tenho familiaridade em conhecer sentimentos ruins mas oque estou sentindo não é como eles.
- Pai, você criou uma balança com defeito. - Resmungo alto.
Ponho as mãos de imediato sobre a boca em uma tentativa de abafar oque pronunciei, olho ao redor do quarto, apesar de estar sozinha no cômodo, quase todas as criaturas que vivem pela a academia possui uma ótima audição e seria problemático alguém saber que o mito da balança é real, todavia, que sou eu. A Balança é o Equilibro entre os mundos, Céu, Inferno e Terra, eu sou a luz, consigo ler sentimentos ruins como raiva, ódio, rancor, dor, tristeza, inveja, trago os sentimentos para meu interior e os purifico, limpando as almas dos seres quando necessário para manter o equilibro perfeito, todo mito tem suas variações de histórias, os seres humanos contam que sou como o "Juízo final", aquela que irá medir suas ações e pureza de sua alma, alguns também contam como "Santa advogada" que irá defender suas ações no julgamento final, os seres dos outros mundos me consideram como uma lenda, uma história a ser contada entre gerações mas jamais acreditar que é real, mas independente dos mundos e suas histórias variadas, não podem saber que sou real, as consequências poderiam ser cruéis para quem tentar desequilibrar a Balança, a melhor opção é ser apenas a Lara, não uma quarta filha de Deus que ele moldou do barro para ser a luz do mundo.
- Larinha, você está aí?. - Pergunta a voz que eu reconheceria a qualquer distância.
Sento no colchão da cama e arregalo os olhos, encaro o meu corpo lembrando que ainda vestia a camiseta dele. Levanto apressada, perdendo o equilíbrio e caindo no chão, batendo o rosto no piso, resmungo baixinho e posso ouvir a porta batendo contra a parede, revelando um demônio correndo até meu encontro, Lucas segura em minha cintura com firmeza, sentindo o mesmo desconforto quando ele retirou a camiseta na minha frente, quase perco o equilíbrio novamente quando ele me ajuda a levantar com o seu corpo colado ao meu. 
- Você está bem?. - Perguntou preocupado.
- Exceto a vergonha e o desconforto.. - Penso alto. - Estou bem sim. - Respondo.
- Eu te deixo desconfortável?. - Lucas pergunta tão preocupado quanto antes, afastando seu corpo.
- Sim. - Respondo de imediato, balanço a cabeça negativamente ao perceber o quanto aquilo poderia ser interpretado de outra forma. - Não! Quer dizer.. Não de uma forma ruim, eu não sei explicar, mas sinto umas coisas estranhas desde que tirou a camiseta na minha frente. - Explico confusa.
- Ah. - Ele murmura rindo. - Larinha, agora é você que está me deixando "Desconfortável" sendo fofa e ingênua assim. - Lucas diz, aproximou-se novamente se posicionando na minha frente, ergue sua mão e toca suavemente em meu rosto, acariciando minha bochecha com seu polegar, institivamente aproximo ainda mais meu rosto em sua mão, querendo sentir mais de seu toque.
- Lara.. Lara, LARA!. - Logan grita em meu ouvido, caio da cama ao despertar, eufórica. - Não sabia que você poderia ter sonhos eróticos, maninha. - Ele diz rindo.
Sonho? Um sonho? Levanto do chão, passo as mãos em meu rosto, sentindo a umidade em minhas palmas, caminho até o banheiro e encaro meu reflexo no espelho, noto o quanto estava suada, conseguia ouvir meu irmão do outro cômodo gargalhando com a situação, retorno e sento ao lado na cama.
- É melhor se banhar, menina travessa, temos mais uma aula após o almoço e uma festa secreta na cachoeira. - Logan diz e pisca.
Meu irmão beija minha testa e faz uma expressão de nojo pelo suor, fazendo - me rir, observo ele caminhar até a janela do quarto e saltar para fora do cômodo, foi assim que ele entrou enquanto eu estava dormindo?

                                  •

Minha próxima aula seria de Plantas e toxicologia, temos quatro aulas obrigatórias, mas há diversas aulas opcionais para se especializar. Caminho até a estufa da academia, no lado Sul, as portas são de vidro com detalhes delicados com desenhos de flores. Entro no local, o interior é mais impressionante, diversas flores rodeavam a estufa com todas as paredes de vidro, podendo apreciar a vista do exterior. Sento em uma cadeira de frente para uma mesa metalizada, no centro da estufa.
- Dormiu bem?. - Lucy pergunta sentando ao meu lado.
- Por favor, me diga que não ouviu meus comentários enquanto dormia. - Peço.
- Não. - Responde. - "Ai Lucas". - Ela fala manhosa em meu ouvido, provocando.
- Você é cruel. - Falo rindo.
  Somos interrompidas com a professora adentrando a estufa, seu sorriso animador conquista a atenção de todos. Ela é linda, seus cabelos platinados, olhos azuis e pele pálida, contraste com seu vestido com um decote suave, mangas longas transparente e delicadamente bufante, o vestido do tronco até as suas coxas é de veludo, mas suas pernas com um tule com borboletas bordadas.
- Olá meus queridos, meu nome é Zara, serei a professora de vocês. - Ela anuncia sem desmanchar o sorriso.
Aproximou-se e observava cada aluno, sorrindo gentilmente, caminhando entre os corredores formados pela as divisões das mesas.
- Estava tão ansiosa para conhecer vocês. Espero que também estejam animados, preparei algo especial para nossa primeira aula. - Professora Zara diz. - Plantas são seres como nós, precisam ser tratadas com o mesmo carinho e cuidado, quando temos um filho acredita que conhece os pais pelo o cuidado e criação que tu repassa á ele, então, cada um de vocês poderá escolher uma semente e cuidar com todo cuidado em seu coração durante o nosso ano letivo. - Conclui.
Viro - me animada para a Lucy e sorrio ansiosa, nos conhecemos quando crianças enquanto ela tentava apagar o fogo de uma florzinha aos prantos, não sobreviveu mas de sua raiz nasceu outra flor assim como a nossa amizade, meu irmão mais velho não gosta da nossa ligação, acredita que ela seja como o seu pai, Lúcifer, todos esses anos minha amiga tentou conquistar sua amizade, mas desistiu após o julgamento sem fim.
- Lara. - Cam chama, não tinha notado quando se aproximou.
- Sim, maninho..?. - Digo o olhando.
- Soube oque aconteceu na aula do Hayden, você está bem?. - Perguntou preocupado.
- Estou bem, meus amigos me ajudaram, mas porque você não estava na aula?. - Questiono sútil.
- Porque estava comigo. - Uma voz feminina responde ao se aproximar, reconheço de imediato, Isadora, irmã de Devina.
- Nossos irmãos tem péssimos gostos. - Lucy diz sem censura.
- Ciúmes?. - Cam provoca.
- De você? Nunca. - Ela responde rindo ironicamente.
Isadora segura no braço de meu irmão, puxando para que se afaste, parecia incomodada com a discussão dos dois herdeiros. Abano para Cam enquanto ele caminha para fora, retorno a atenção para minha amiga.
- Pronta para a aula de Batalha?. - Perguntou sorrindo travessa.

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