Mari
Era uma vez, a maior de todas as feiticeiras, a Deusa Hécates que tem o poder de controlar os três reinos: Terra, Céu e o Submundo. A Deusa se banhava em uma lua crescente quando um homem mais velho espreitava por perto, os dois se banharam juntos por toda a noite, a lua crescente lhe presenteou com uma bebê do casal, mas a Deusa não sabia que o homem era ganancioso e esse homem era um demônio, seu nome é Leviatã, o demônio da inveja, ele invejou o poder da Deusa, furioso que a sua filha herdaria tamanho poder, ele começou a perseguir mãe e filha no ventre para absorver o poder das duas, como ato de seu maior amor de uma mãe, Hécates se escondeu na Terra e criou a Kakurezato no mura, a Vila dos escondidos, bruxos de todos os lugares souberam e passaram a morar na Vila da Deusa, em uma noite de Lua Azul, Hécates deu à luz a sua filha, na mesma noite como o seu último ato de amor para a sua herdeira, ela se despediu e foi embora para ser a única procurada por Leviatã, abrindo mão de sua liberdade pela a de sua filha, Maristelice.
- Mari, está lendo esse livro de novo?. - Pergunto Sally. Ela vestia um kimono preto conjunto com a saia modelo Yukata, realça a sua pele clara, a peça tradicional que vestia combina com a cor de seu cabelo escuro. Sally ama se vestir com roupas tradicionais e elegantes como ela.
- Com a Lua Azul próxima fico melancólica. - Respondo e sorrio timidamente.
- Momo está nos esperando, você sabe o quanto é esperado para ela as sextas de leituras. - A mais velha recorda.
Guardo o livro de histórias de minha mãe de volta a prateleira da estante de madeira. Todos os moradores por aqui priorizam a leitura e principalmente os contos de minha mãe, ela escreveu todos os dias durante sua gestação, mas a sua maior obra foi "Jikan", significa Tempo, minha mãe pode controlar os três reinos, no Céu ela pode observar o que vai acontecer, na Terra ela vivência o que acontece, no Submundo, ela pode ver o pós acontecer. A cada viagem entre os três reinos, minha mãe escreveu uma profecia, as suas profecias inclui todos os seres, criei como hábito ler uma profecia por dia, talvez um dia encontre a minha profecia.
- É surpreendente como você que sempre morou aqui, continua a se encantar com algo diferente a cada dia, é como se vivesse em uma realidade só sua por aqui. - Sally comenta me observando com um sorriso gentil.
- Eu amo esse lugar. - Afirmo. - É o meu lugar. - Reafirmo.
Livros começam a serem arremessados das prateleiras, viro-me de frente para a estante e o livro Jikan é jogado em minha direção, seguro o livro aberto em minha mãos e os demais livros param de serem jogados de imediato, as páginas de Jikan começam a virar até parar em uma página específica.
- Quando os herdeiros se encontrarem, os fiéis se rebelaram. - Leio em voz alta.
Sally aproximou-se e arqueia as sobrancelhas ao me escutar, ela vira a página e retorna, a sua expressão de confusão é clara.
- Mari, não tem nada escrito.. - Ela diz. - É a sua profecia e não de sua mãe. - Afirmou. - Você teve uma profecia. - Concluiu.
Derrubo o livro com o choque momentâneo, agacho-me para apanhar o livro, escuto um estrondo alto e o corpo de Sally cai em minha frente no chão, havia uma flecha cravada em seu peito, seus olhos focam em mim com lágrimas escorrendo pelo o seu rosto.
- Continue abaixada... Ele não viu você.. – Sally diz com dificuldade enquanto fecha os seus olhos com o seu último suspiro.
Posiciono a minha mão sobre a boca, tentando abafar o choro, gritos desesperados começam do lado de fora da minha casa, os moradores tentavam se defender lançando feitiços, observo a flecha no peito de Sally, inalava magia, obviamente o assassino tem conhecimento de seu alvo. Engatinho pelo o chão e escondo-me atrás da poltrona de couro marrom que era da minha mãe, cubro os meus ouvidos com minhas mãos tentando abafar os gritos dos moradores que não posso fazer nada para ajudar, lágrimas escorriam desesperadamente pelo o meu rosto, forço os meus olhos a se manterem fechados por tanto tempo que logo adormeço.
- Mari.. Mari, você precisa acordar, não pode ficar aqui, eles irão voltar.. – A voz de Sally era como um sussurro em meu ouvido.
- Sally..?. – Pergunto confusa abrindo os olhos lentamente. – Mas como é possível? Você... – Digo e observo a visão da minha amiga, ela estava presente não de corpo, mas de alma, posso escuta-la mas não posso tocar.
Suspiro e levanto-me do chão da casa, caminho devagar cuidando onde piso e principalmente evitando olhar o corpo de Sally, continuo com passos suaves para fora da casa, o cenário que um dia foi de vida e alegria, agora é como um cemitério, corpos dos moradores empilhados um sobre o outro do modo que morreram, alguns haviam pedaços faltando de seus corpos ou com órgãos expostos como se fossem atacados por criaturas monstruosas, os tijolos das casas que foram construídas por seus habitantes estão manchadas pelo os sangues de seus arquitetos. Desde que nasci, fui criada por cada habitante da vila, eles me protegerão e me ensinaram sobre magia, apesar de eu demonstrar nascer com poderes precocemente, eles esperaram até meus dezesseis anos para me passarem seus ensinamentos, crueldade terem esse fim, não posso deixá-los.
Meu corpo está enfraquecido após dois dias exaustivos cavando covas, carregando os corpos dos moradores e os enterrando com um pouco de dignidade e respeito, meus dedos tremiam doloridos após escovar cada tijolo, vidraça e cacos com manchas de sangue, nunca mais Kakurezato no mura teria a mesma magia e vida com o massacre de seus moradores. As vezes podia sentir a presença de Sally, minha amiga demonstrava de outro plano o seu desgosto com a minha escolha de ficar, ela derruba objetos no chão como protesto, quase botou fogo na noite anterior após derrubar uma vela acessa.
Deito-me na poltrona, exausta após tanto trabalho nos últimos dias, fecho os olhos para tentar dormir mas um livro é arremessado na mesa de madeira em frente a estante, o livro se abre e as páginas começam a virar outra vez, parando em uma página especifica. Levanto-me e me aproximo do livro de escolhas próprias, ao contrário da primeira vez, está escrito na página uma canção, as letras pretas haviam um brilho dourado sombreando, deveria ser encantado.
- Você está indo à Feira de Scarborough?. – Leio cantando lentamente, o brilho das letras começam a refletir. - Salsa, sálvia, alecrim e tomilho, mande lembranças àquele que vive lá, pois ele já foi o meu amor verdadeiro. – Termino de cantar após sentir estar sendo observada, afasto-me do livro rapidamente.
O decorrer do dia tentei ignorar o ocorrido do livro, não consegui criar coragem para guardar o livro de volta ao seu lugar na estante, aquela presença me observando tinha certeza que não era a Sally, o massacre serviu como alerta para não mexer com o desconhecido. Na manhã seguinte, limpo a casa, a cada móvel que eu passava ao lado, o livro aparecia sobre ele e com vida própria ele continuou se movendo trocando de lugar para chamar a minha atenção.
- Ok! Eu vou ver o que você quer.. – Resmungo rendida, o livro compreende e logo se abre na mesma página com a canção, mas dessa vez, era outro trecho. - Diga a ele para lavá-la em um lugar seco, salsa, sálvia, alecrim e tomilho, onde a água brotou e a chuva jamais caiu, e ele será o meu amor verdadeiro. – Canto suavemente enquanto as letras refletiam um brilho maior, mas aquela canção parecia-me tão familiar, mas não conseguia recordar.
Fecho o livro rapidamente ao escutar passos do lado de fora, apanho o livro e me agacho rapidamente, sentia meu coração acelerado, estranhamente não sentia medo do desconhecido. Ergo um pouco a cabeça e espio sobre a mesa, conseguia ter a visão da janela, um homem de costas com roupas de couro preta justa em seu corpo, fios de cabelo branco, ombros largos e uma postura reta, apesar de estar de costas, é notável que o seu porte é atraente.
- Ele é bem gatinho.. – Sussura o espirito de Sally ao meu lado.
- Shh.. – Repreendo com o polegar sobre a boca.
O homem misterioso vira-se e me agacho outra vez, um segundo pergunta se ele havia notado algo, tinha certeza que sim, mas ele nega direcionado para outro lado, talvez seja impressão, não há razão para um desconhecido atraente me proteger.
- O que eu faço..?. – Pergunto-me em voz alta.
Desvio o olhar para o livro que começa a refletir uma luz, ergo o rosto para o espirito de minha amiga que sorria e assentindo com a cabeça, ela sempre quis que eu fosse embora e conhecesse o mundo, doía-me pensar na possibilidade de não ter o pouco de sua "presença".
- Mari.. Onde você estiver, eu vou estar, agora vai. – Sally manda.
Levanto-me em pé rapidamente e caminho apressada para o meu quarto, adentro o cômodo e fecho a porta atrás de mim, sigo até o meu roupeiro e apanho minha capa preta, sinto a peça ser arrancada de minhas mãos, arqueio a sobrancelha confusa para o espirito da minha amiga que apontava para uma peça de biquini na cama, modelo meia taça branco, nego com a cabeça de imediato, mas ela insistia tanto que cedo retirando o meu pijama e visto a peça de banho. O livro abre sozinho na mesma página, mas as letras não estavam refletindo o seu brilho. Fecho os meus olhos e ergo os braços, meu corpo sentia a mesma emoção de recordações, não preciso ler o que está escrito na página para saber o que cantar.
- Você está indo à Feira de Scarborough? Mande lembranças àquele que vive lá. – Começo a cantar dando giros com os braços erguidos. - Pois ele já foi o meu amor verdadeiro, você está indo à Feira de Scarborough?. – Abro os braços enquanto rodopiava e na minha mente a visão de minha mãe que não a conheci, mas sentia que era ela em um momento de sua vida dançando a canção como um encantamento. - Salsa, sálvia, alecrim e tomilho, mande lembranças àquele que vive lá, ele já foi o meu amor verdadeiro. – Finalizo a canção com o sentimento mais forte, parando de frente para os olhares que estavam focados em mim.
- Mari?. – Chamou a ruiva que por tanto tempo não havia visto, minha prima, Lucy.
- Oi.. – Falo com os olhos marejados antes de tudo escurecer.
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Mundo de Lucy
FantasyQuando os corvos gritarem, seu corpo irá nascer. Quando o céu escurecer, seu cabelo irá crescer. Com o choro dos inocentes, seus dentes irão ver. Através de desejos obscuros, seus olhos abrirão. No ferver das águas, ela despertará. Uma história d...