· Seven.

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Vidros com insetos

· Amélie ·

Já fazia um mês desde o início das aulas, eu tinha acabado de passar a chave para eu, meu irmão e Meri entrarmos em casa, tudo estava quieto, quieto demais, senti um frio na espinha, minha mãe descia as escadas e ao nos ver fez uma feição de desprezo, ordenando para Meri e Andy que fossem até seus quartos e fechassem as portas.

– Seu pai e eu precisamos falar com você. — ela falou assim que os dois subiram, parecia estar brava, mas com uma ponta de desgosto.

Subi as escadas com receio, a porta de meu quarto estava escancarada e todos os meus vidros com insetos estavam encima da cama, minhas pernas gelaram.

– Porque não consegue ser obediente e esquecer essa tolice? — meu pai falou assim que cruzei a porta. – Amélie Sophie Bernard, o que isso significa?!

O olhava fixo, permaneci calada.

– Amélie, o que isso significa?!

– São apenas insetos pai. — murmurei.

Ele me puxou pelo braço.

– O que acha que vai conseguir com animais asquerosos?! — gritou.

– Muitas coisas. — falei em mesmo tom. – Um diploma de biologia por exemplo?!

Meu coração estava a mil, eu estava farta dele impondo o que podia ou não fazer, o que podia ou não ser, admito, as vezes tinha inveja de Meredith, seu avô a apoiava em tudo, enquanto meus pais me oprimiam por querer ser mais do que esposa de algum idiota ela era ensinada a ser confiante sozinha, eu desde pequena era ensinada a ser uma boa menina, que sabe passar, costurar, bordar e cozinhar.

– Não levante sua voz para mim! — gritou meu pai.

– Se Andy quem estivesse com eles vocês nem iriam se importar. — murmurei.

Meu pai me soltou bruscamente.

– Está ouvindo Louise? — ele dirigiu a palavra a minha mãe. – isso é sua culpa! eu lhe disse que estava mal acostumando a garota, nunca devíamos ter mandado ela passar aquelas férias na casa daquele velho caduco.

A cinco anos, meus pais deixaram eu passar as férias de verão na mansão Kirke para brincar com Meri, lá o Professor Digory nos deixou ficar na biblioteca e assim peguei no meu primeiro livro de Entomologia, depois disso comecei a pintar borboletas e me interessar por todo tipo de animal, seja grande ou pequeno, marinho ou terrestre, mas em especial insetos.

– Ele não é caduco, é um gênio. — rebati.

– Você fique calada. — falou com o dedo indicador em meu rosto.

– É apenas minha culpa?! — minha mãe o olhou raivosa, finalmente falando algo. – onde você estava nos primeiros três anos de vida dela?!

Meu pai bufou, mas não disse nada, mamãe fez força para não chorar.

– Vou lhe dizer onde estava, estava na França construindo barquinhos.

– "barquinhos" os quais pagaram seus luxos. — papai urrou. – sabe que não teria metade do que tem se só tivesse o dinheiro da herança de seus pais.

– Não precisava de dinheiro, precisava de sua ajuda Vincent! — deixou escapar algumas lágrimas.

Minha respiração era oscilante, nunca vi minha mãe daquela forma, um nó se fez em minha garganta.

– Pai, não vê que está a maltratando?! — falei entrando entre os dois. – não é culpa de ninguém! Aceitem! Não quero viver em função de um homem como vocês dois querem que eu viva, apenas isso.

The Silver Age [02]Onde histórias criam vida. Descubra agora