girassóis de van gogh.

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Às vezes, era bem difícil achar espaço naquela casa enorme. Era até irônico pensar algo desse tipo, mas era verdade. Por maior que fosse a quantidade de cômodos, Park Jimin ficava em seu quarto na grande maioria do tempo. Não gostava muito de sair, e se sentia extremamente sozinho em qualquer outro lugar da casa. Em seu quarto, ele podia fazer o que quisesse e ser quem ele quisesse sem ser julgado por isso, e, só ali, ele tinha paz de verdade. Desde sempre, sua vida foi assim.

Quando Jimin era criança, ele passava a maior parte do seu dia com uma babá. Ele gostava muito dela, pois ela o fazia companhia, brincava com ele, e o ajudava com as tarefinhas da creche. Seu nome era Marina, e ele a chamava de tia Mari. Jimin se lembrava perfeitamente, em noites chuvosas e de muita trovoada, ela sempre fazia uma barraquinha na sala com travesseiros, pufes e cobertas, e os dois assistiam a vários filmes com um baldão de pipoca com manteiga. Ele gostava tanto dessas noites.

— Tia! Tia! Que filme a gente vai ver hoje? — o garotinho perguntou para a mulher, assim que ela entrou na cabaninha.

— Não sei, meu amor. Que filme você quer ver?

Marina se sentou ao lado de Jimin e deixou o balde de pipoca no meio dos dois. Começou a procurar por algum filme interessante dentre os vários DVDs que estavam guardados nos armários da mesa de televisão.

— Eu quero ver Lilo e Stiti!

— De novo? Já vimos esse filme dez vezes!

— Sim, por favor!

A mulher riu, e escolheu o filme que o garotinho pediu. Park não se cansava de ver aquele filme. Poderia assisti-lo todos os dias durante anos, e não enjoaria. Até hoje, ainda era seu filme favorito de toda a vida.

Ele meio que se identificava com o Stitch, mesmo que nunca tivesse percebido ou admitido isso. Eu sei que você pode pensar: "Nossa, é um garoto privilegiado, classe média, sempre morou em bairro nobre, e sempre teve tudo que queria. É um mimadinho! Como ele pode se identificar com o Stitch?!" E Park se sentia um pouco culpado de pensar isso, mas ele se sentia como um alienígena em seu próprio planeta. Se sentia deslocado, desconfortável, e como se fosse um ser desconhecido no meio de tantos humanos, e no meio da própria família. Ninguém conseguia o entender, de verdade. Não conseguiam compreender sua mente, seus pensamentos e suas vontades, e ele não sabia impor elas quando precisava.

Ele sabia que, simplesmente, por ser um membro de uma família com dinheiro, ele não deveria reclamar. Sabia que tinham milhões de pessoas em situação mil vezes pior que a dele. Mas, se ter dinheiro o fazia ser privilegiado, por que ele não se sentia feliz?

Tinham vezes, em sua pré-adolescência, em que ele faltava o colégio por pura e simples desmotivação para levantar da cama. Seus pais o repreendiam até o fim do mundo por isso. Ele achava engraçado que os mais velhos não estavam presentes para o acordar de manhã, ou para levá-lo ao colégio, mas quando chegavam em casa à noite e descobriam que ele tinha faltado aula, os insultos e sermões eram quase garantidos. Ele passava semanas trancado em seu quarto, não saía para absolutamente nada, e passava todo esse tempo dormindo ou com a cara no computador jogando League of Legends, Call of Duty e outros jogos online durante horas, onde ele poderia se esconder atrás da máscara que era a distância entre jogadores.

Seu irmão mais velho era o favorito, e isso não era segredo para ninguém. Sempre via seus pais idolatrando Fernando por ser um aluno exemplar, tirar notas impecáveis no colégio, e ser o "filho perfeito" que eles tanto almejavam. Jimin se sentia como a tentativa falha de seus pais de fazer um segundo filho perfeito. Ele sabia que jamais chegaria aos pés de Fernando e de sua grandeza. Sempre inteligente, educado, prestativo. E ele também sempre ficava com as melhores coisas, em relação a Jimin. Isso cabia em qualquer situação, desde ficar com o maior quarto, até os melhores brinquedos ou o celular mais caro.

O Dia em Que o Sol Sumiu • Yoonseok (CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora