O Dia em Que o Sol Sumiu • Yoonseok (CONCLUÍDA)

bandeira branca.

Desde que era uma criança, Taehyung teve que aprender a lidar com as mudanças do próprio corpo. E, não, não estou falando com relação à puberdade, crescimento, nem nada desse tipo. Eram mudanças incomuns e que ele, particularmente, nunca tinha visto em nenhuma outra pessoa.

Taehyung foi diagnosticado com vitiligo quando tinha 10 anos. Ele se lembrava perfeitamente de um dia que era para ser totalmente comum, no fim de uma tarde com muita correria e sujeira com as brincadeiras que ele fazia com os coleguinhas da rua. Depois de tirar as roupas para entrar no banho, de frente para o espelho, ele reparou em uma manchinha branca perto de seu cotovelo esquerdo. Parecia apenas que ele tinha se sujado com alguma coisa enquanto brincava na rua, então, não deu muita atenção. Tomou seu banho tranquilamente, e quando saiu, notou a mancha ainda presente no seu braço, no mesmo lugar.

Quando sua mãe ficou sabendo disso, a mulher o levou ao médico para conferir do que se tratava. Com a mente assustada de uma mãe, Carolina já imaginava algo terrível, como uma doença de pele fatal, ou até um câncer de pele. Bem, era, sim, uma doença de pele, mas não era nada alarmante, para o alívio de todos. Taehyung nem sabia o que era vitiligo, nunca tinha ouvido essa palavra na vida, e com a explicação do médico, ele ficou mais confuso ainda.

— Essa doença não é contagiosa e nem maléfica. O que ela faz, basicamente, é retirar a pigmentação da sua pele aos poucos. Também pode tirar a pigmentação dos seus olhos e do seu cabelo, se atingir as áreas próximas. Isso não causa nenhum mal, e tem tratamento, caso vocês queiram. Não vai acabar com a doença, mas pode desacelerar o crescimento das manchas.

Foi preciso que o médico explicasse mais umas duas vezes, da forma mais didática possível, para que o garoto entendesse que ele não iria morrer por conta do vitiligo. Demorou um tempo para Taehyung aceitar, bastante tempo, na real. As manchas começaram a aparecer aos montes por várias partes do seu corpo, depois daquilo. Pescoço, pernas, barriga, costas, até no rosto. E por mais que ele tivesse a pele clara, as manchas eram bem mais brancas que o tom da sua pele, fazendo com que elas fossem mais evidentes.

No colégio, ficava cada vez mais difícil de esconder. Quando as manchas começaram a ficar mais visíveis no rosto, as piadinhas começaram. Risadinhas para cá, provocações para lá, e Taehyung apenas tentava ignorar tudo que ouvia. Simples crianças podiam ser as mais perversas quando não educadas da forma correta.

Com o tempo, Taehyung meio que se acostumou com as piadas e até começou a achar graça delas, mesmo sabendo que eram piadas maldosas e com o intuito de magoar. Mas, para ele chegar ao ponto de não se importar mais com elas, foi-se um longo período se trancando no banheiro para chorar escondido, faltando aulas de propósito e até cabulando para evitar os comentários e olhares. Ele se sentia um ser horrível, não se sentia como um humano digno de carinho, sempre ouvindo pelos corredores como sua aparência era esquisita e feia.

Numa dessas fugas da aula, ele resolveu ir até uma praça perto do colégio em que estudava, — Seus pais nem sabiam que ele matava aula de vez em quando, e o garoto pretendia continuar omitindo esse fato — e enquanto caminhava pelo lugar quase vazio, ele viu uma garota brincando não muito longe dali. Ela parecia bem feliz em seu mundinho de faz-de-conta, brincando com suas bonecas numa parte da praça perto dos brinquedos, onde o chão era coberto de areia ao invés de grama. Taehyung parou de andar e a encarou por um tempo. Ele reparou na pele daquela garota, também tinha várias manchas brancas espalhadas por todo lugar, algumas escondidas por um vestidinho de cor azul bebê que ela usava.

Ela meio que reparou que Taehyung a encarava, e com um pequeno sorriso no rosto, a garota acenou para ele. Só então, ele saiu do transe em que se encontrava, e acenou de volta, mesmo não a conhecendo e nunca a tendo visto. A garota se levantou e deu uma corridinha na direção dele, segurando uma boneca em cada mão.