Conto 1 - A Nevasca

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Margareth, ou simplesmente Marg, era uma menina magra, com cabelos lisos e negros e olhos verdes, olhou , a temperatura daquela amanhã indicava que iria nevar, mas as pessoas não ligavam, e andavam por aí.

A menina pegou o cachecol, as luvas e suas botas de couro, caminhou até uma pequena  rua, e de lá, observou um jardim, o menino que estava sentado se chamava Joan, mas é chamado por muitos de Sílvio, por que? Eu não sei.

Marg se aproximou de Joan, ele se virou, os olhos castanhos observaram a menina, que viu a sujeira das roupas do outro. Ela deu o sorriso mais amigável que conseguiu, mas a criança ao seu lado deu um suspiro.

- O que houve? - Margareth pergunta.

- Eu estou olhando para o campo, vê? - Ele aponta o jardim com grama.

- Por que?

- Não está vendo? Vai nascer flores por aqui na primavera, como a que perdi!

- ... Uh?

- Eu perdi uma flor neste inverno, talvez eu ganhe outra neste ano! Igualzinha aquela!

- Igualzinha não, pois nunca existirá outra flor como essa, mas por que essa espera? A primavera só chegará dois meses depois!

- Oh, não posso esperar tanto! - Reclamou o menino.

- Bem, mas o que houve? - Marg pergunta.

- Como expliquei, a flor era única, eu quero só encontrar ela novamente.

- Mas... Não tem como.

- Claro que tem! - O menino aponta aquele mesmo campo.

- Você é louco? - Perguntou a menina.

- Só tenho saudades.

- Uh, o seu caso é grave.

- Mas... Ela era única. Não posso perder...

- ... Você realmente não quer acreditar, não é? - Margareth se senta na grama, olhando a neve.

Os flocos de neve começaram a cair, eram brancos e finos, caiam como chuva, ficam colados na grama do jardim.

- O que quer dizer? - O menino também deu uma olhada nos flocos e se sentou.

- Você queria ter mais tempo? - Margareth simplesmente perguntou.

- Eu... Sim - Respondeu, cabisbaixo, Joan.

- Não há como, mas... Creio que temos como aproveitar o resto do tempo que você tem.

- Uh? Como assim?

Mas a menina apenas riu.

- Não posso dizer agora, você descobrirá.

- Espere... Qual seu nome?

- ... Alguns me chamam de Margareth, mas eu tenho um outro nome, o meu real.

E desceu do jardim. Os passos dela tornam o tempo mais devagar, os olhos passeiam de um lado para o outro, Margareth deixa o tal Joan para trás.

- Eu acho que é por aqui... - Ela sussurra.

E segue em frente. Mais flocos caem, com a quantia elevada demais para alguns, que se abrigam rapidamente em suas casas, a rua está quase vazia, um pequeno céu cinza se formou, Margareth não liga.

Ela continua a andar, os postes começam a se acender em pleno meio-dia, as ruas estão escuras e cinzas, a menina ainda andava, o andar começa a ficar torto.

O sopro congela as pontas dos dedos, mas a menina continua, indo sem rumo para algo que é indefinido. A neve continua a cair, os tremores surgem no corpo de Margareth, as mãos gelam e a alma começa a esfriar.

Foi quando uma mão quente lhe segurou, o olhar de Joan é reconfortante, ele sorriu, os dois se encararam, sem dizer uma palavra. As mãos de Margareth quase congelaram. O vapor frio da boca é contracenado pelo ar quente que sai de Sílvio.

Os dois continuam a caminhada, desta vez, a pequena mão de Sílvio abre uma porta, as duas crianças observam, não, elas estavam indo ao lugar errado, andaram novamente e pararam para descansar, Joan ainda tem o ar quente, mas Margareth está fria como o gelo.

- Vamos, estamos quase lá... - Joan diz.

Os dois caminham, eles então chegam em uma casa, a nevasca culpa as crianças, que se sentem meio fracas, mas Joan, ainda deu um passo para a frente e bateu na porta, as mãos de Margareth quase congelaram.

Até que, após uma nova batida, a menina e Sílvio se deitam, esperando alguém abrir a porta da casa. Foi quando, ao fechar seus olhos, Margareth viu... A luz de uma vela e a voz de uma mulher.

- Meu Deus! Joan! - Ela grita, olhando para o menino, sentado no chão.

A única coisa que Margareth fez foi sorrir, o corpo quase frio, congelado, inerte, mas um pouco de calor humano lhe arrasou a alma, e a esquentou por completo. Uma sopa que queimou-lhe a língua e o coração.

- O que houve... ? - A menina pergunta, ao acordar.

Joan estava deitado ao seu lado, encostando numa penteadeira.

- Ele não saiu do seu lado, jovem... - Diz uma mulher que apareceu de repente.

- Quem é a senhora?

- Sou a mãe do Joan.

- Espera, ele... Não estava no jardim? - Ela o encara.

- Não. Quem está no jardim é minha mãe... Graças a você, acho que ele também não foi levado pelo inverno.

E a mulher colocou uma pequena bacia na frente da menina. Que olhou o seu reflexo.

- Mas... Senhora... Eu não o ajudei, ele quem me ajudou.

- Ah, sim... Você estava esfriando, mas Joan apontou o seu corpo antes de desmaiar, ele acordou um pouco apenas para lhe achar, e deitar aqui ao seu lado.

E a mãe coçou a cabeça dele. Ao ver que ela sorria para o menino, Margareth sorriu.

- Qual seu nome, minha criança? - Pergunta a mulher.

- Meu nome? Margareth. Mas...

- Sim?

- Eu tinha outro nome.

- Oh, não se lembra mais dele?

- Creio que sim - Mentiu.

- Tudo bem, Margareth. E seus pais?

- ...

- ... Ah.

E nenhuma delas falou nada. Um homem e uma enfermeira aparecem, ele beija a testa da mulher e diz:

- Vejo que Joan arranjou mais do que uma brincadeira... - Sorriu.

O menino acordou logo depois, quando um cheiro de caldo veio da cozinha. Joan olhou para Margareth, dizendo:

- Bom dia, dormiu bem?

- Acho que sim... - Ela coça a cabeça.

- Hehe, no próximo ano, nós vamos ter uma nova nevasca?

- Não sei. Mas tomará que ela não leve mais ninguém.

Os dois saíram para brincar.

- Querida, venha ver o local onde brincam.

Ao ver, a mulher chorou.

- Qual seu nome verdadeiro? - Perguntou o menino.

- Nicole - Ela sorriu.

A Nevasca E Outros ContosOnde histórias criam vida. Descubra agora