Conto 13 - Canção

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Kakau é um menino cego, sua única ajuda é a sua fiel muleta, que não se separa dele nem na hora do banho, por medo dele cair e não ter ninguém para ajudá-lo.

Todos os dias, ele acordava, vestia algo, e o dia começava com uma música, pode ser a pior, mas Kakau sorria e tentava melhorar o máximo possível seu humor e a música ao mesmo tempo.

O menino sempre quis ser cantor. Ele tinha o sonho de conquistar o mundo com sua voz, afinal:

- Se não tenho visão, mas tenho voz, usarei o que tenho! - Ele costumava dizer, rindo.

Seus pais o apoiavam, mas eles acabaram desviando do caminho, e uma curva errada os levou ao fim da vida. Mas Kakau não deu muitas lágrimas, mas sorriu, sabendo que a sua família o apoiava, só que em outro lugar melhor.

- Eu vou honrar meus pais, e seguir meus sonhos! - Ele costumava dizer.

Todos os dias, ele pegava o antigo violão que pertencia ao pai e começava a contar os seus contos em forma de prosas ou só por músicas, se fosse muito difícil.

Eu vivia minha vida na roça Juana;
Cantava de manhã até o entardecer!
Só não cantava em noite insana;
Pois seu pai sempre vem para adormecer!

Oh, linda Juana!
Cantei na janela de ti
Sim, eu fiz isto, tu era tão serena!
Mas tua mãe me arrebentou e assim parti!

Oh, oh, oh!!!
Partindo para perto...
Oh, oh, oh!!!
Meu destino é incerto!

O pessoal aplaudia, e pedia para ele dar um final feliz para essa história, o que este ser bem pequenino e mirrado, respondia:

- Não há final feliz ao certo, deixo o público lhe me dar o tal.

E chamava alguém para cantar o fim, todos podiam opinar, e todo dia era um diferente, um era comédia, outro era romântico, uma idosa dizia, outro menino retrucava.

Até que certo dia, Kakau não veio cantar.

- Cadê Kakau? - Perguntou uma velha.

- Não sei... - Respondeu o neto dela.

- Viram o Kakau? - O homem de chapéu diz ao de boné e sua mulher.

- Não vimos! - Respondeu o casal.

E todos começaram a procurar Kakau, mas aonde ele estava? Simplesmente um dia as cordas vocais do menino ficaram roucas e, sem saber como tratar isto, decidiu cantar somente quando descobrir a solução deste estranho secar de garganta.

Na manhã seguinte, Kakau também não foi para o lugar de costume, indo para um rio a fim de tentar beber água para ver se era só por estar com a garganta seca.

De nada adiantou, mesmo assim não saiu o mínimo acorde. Ele tentou beber mais uma vez, mas sua garganta apenas soltou esse líquido por meio de tosses grossas.

Até que ele escuta barulhos de passos nos gramados próximos. Ele tenta achar a sua bengala, mas reparou que ela não estava lá e, tateando pela grama, tentou achar o seu objeto.

Mas mal começou, tocou em algo macio e maleável. Sentiu uma certa curiosidade, os seus sentidos se aguçam e uma voz gentil e feminina pergunta:

- O que um forasteiro como você faz aqui?

Kakau começou a tentar achar um jeito de escapar daquela timidez que o consumiu e, aos poucos, suas bochechas esquentam.

- Perdoe... - Ele fala, roucamente. - Sou só o cantor de uma vila pequenina, que perdeu a voz de canção, estou aqui falando com um dificultar tremendo, por favor, peço-te que não se irrite e, se for mesmo uma moça de bom coração, me ajude a achar a bengala que perdi.

A estranha:

- OK. Vou te ajudar.

Eles começam a procurar. Enquanto isto, a moça fica curiosa sobre Kakau:

- Qual seu nome? - Perguntou ela.

- Kakau, e o seu?

- Meu nome é Grace. Princesa Grace.

Kakau se arrepiou até a alma.

- Oh! Perdoe princesa! - Ele diz, ajoelhando aonde acreditava ser o mais perto dos pés dela.

- Tudo bem, aqui, tome - Ela entrega o seu objeto, a bengala dele.

Ele sente as mãos dela, treme um pouco e pega a bengala.

- Muito obrigado, você é muito gentil... - Os dois ficam em silêncio. - .... Princesa, ainda está aí?

- Estou - Grace fala num sussuro.

Ele sente a respiração dela perto.

- Princesa, o que está fazendo?

Ela riu e dá um beijo em cada bochecha.

- Obrigado... Eu acho... - Kakau fica quente.

- Abre os olhos - Grace diz.

- Uh? - O menino parece confuso. Nunca ele tinha ouvido alguém falar para abrir seus olhos. - Tem certeza?

- Então pelo menos tire a sua venda... - Ela observa.

- Não sei o por que disso, mas... - Ele tira a venda e a luz do Sol quase o cega. - ... Hey!

Ele coloca a mão na frente dos olhos.

- Tudo bem? - Grace pergunta.

Kakau pisca os olhos.

- Eu... Estou vendo? - Ele fica surpreso.

- Está melhor? - Ela repete.

O menino finalmente a vê. Grace é albina, o olhar roxo dela os encara com curiosidade.

- Eu... Parti? - Kakau a encara.

A princesa solta uma risada educada.

- Oh Kakau, não. Eu apenas estou ajudando alguém que me auxiliou.

- Uh? Como assim? - Ele pergunta.

- Kakau, sua música me ajudou a viver, sem você, eu nem sei aonde mais eu estaria, só devo ser grata. Então, te dei graças, e agora além de ter uma voz muito mais linda, tem também os seus olhos lindos.

Ele se encara no espelho, ele é um menino de cabelos castanhos meio sujo, os olhos são cinza avermelhados e seus ombros se encontravam arranhados.

- Oh...

O menino observa as roupas dele, camiseta e calça azul escuro, sapatos gastos e a sua antiga bengala de carvalho.

- Obrigado, nem sei como agradecer... - Os seus olhos se encontram com a dela.

- De nada - Grace sorriu.

Eles ficam em silêncio. Kakau encara o rio novamente, tentando entender ainda o que está acontecendo.

- Tenho que ir... - Grace diz, o encarando.

- Oh, bem, até mais - O menino diz, olhando ela partir.

Mais tarde, Kakau volta a vila, todos olham espantados para o rapaz, que agora canta e vê muito bem. Todos questionam essa tal mágica, mas ele apenas responde com um:

- Graças de uma jovem.

A Nevasca E Outros ContosOnde histórias criam vida. Descubra agora