Capítulo 32: Você confia em mim?

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Steve

Foi como quando você conhece tanto um som, que não nota mais ele ali. Eu ouvi esse som por muitos, incontáveis dias, então de primeira eu não reagi. Já estava acostumado.

Mais um.

Era o som que eu ouvia todos os dias no Iraque.

Mas não estávamos no Iraque.

Mais estalos ecoaram no prédio, rasgando o silêncio. Eu reconheceria o barulho de tiros em qualquer lugar.

Agarrei Natasha contra mim e corri até minha mesa, puxando-a para baixo. Nossas costas colaram no tampo de madeira.

- Ah, meu Deus. Ah meu Deus. Ah meu Deus.

- Shh - pedi, engolindo em seco. Minhas mãos formigavam com o pavor e não conseguia respirar. Aquilo estava mesmo acontecendo? Aquele medo voltou, era como viver todo aquele inferno novamente. Olhei para minhas mãos tremendo.

Mas não importa o quão apavorado eu estivesse. Eu tinha que fazer algo. Era meu dever.

Encontrei os olhos apavorados e cheios de lágrimas de Natasha e meu Deus, se algo acontecesse com ela eu não sei o que eu faria. Era o único pensamento que me ocorria.

Eu tinha que salvar Natasha.

- Vai ficar tudo bem - sussurrei.

Ela se encolheu contra mim e eu apenas a abracei mais, olhando ao redor para pensar o que fazer. Forcei minha mente a focar, entrando em um modo de sobrevivência calculista. Essa escola fica longe de absolutamente tudo, ninguém saberia o que estava acontecendo até alguém avisar.

Pensei em quem estava aqui. A banda da escola. Clube de química. Clube de astronomia. Reforço de inglês e física. E os atletas no campo. Provavelmente alguns funcionários espalhados, talvez alguns alunos perdidos. Os que estavam perto da entrada já foram atingidos, foram os tiros que ouvimos.

Fechei os olhos, me forçando a não perder o controle e parar de tremer. Você precisa proteger seus alunos. Você precisa proteger Natasha. E meu telefone estava no carro.

- Droga. - fechei os olhos. - Você está com seu celular?

Natasha olhou para mim e negou. Ela sempre estava agrrada naquela coisa, e agora não estava aqui!

Olhei para trás, tentando ver algo pela janela da porta. Não tinha ninguém. Nem sinal de tiros. Ele provavelmente ainda não chegou no segundo andar, que era onde todos os laboratórios ficavam. Eu tinha que fazer algo antes que ele chegasse aqui.

Me levantei, indo até a janela. Não tinha como sair dali. Voltei para a mesa.

- Natasha, presta atenção - disse, segurando seu rosto e a fiz olhar para mim. Tentei fingir que não estava com medo. - Você tem que ficar aqui. Não saia por nada nesse mundo.

- Não, Steve, não me deixa aqui! - Ela disse, soluçando e pressionei os lábios, sentindo meus próprios olhos marejarem. - Você não pode sair, vai acabar morto!

- Você confia em mim? - perguntei, e ela pensou por alguns segundos, mas por fim assentiu. - Se eu não sair, ninguém vai saber o que está acontecendo, e todos nós vamos morrer. Eu vou tentar arrumar um telefone.

- E se alguém já tiver ligado? - perguntou, tocando meu rosto e eu vi o quanto ela estava com medo. Eu também estava.

- Não podemos arriscar.

Ela fechou os olhos, deixando as lágrimas escorrerem e eu as limpei.

- Preciso que você seja forte. - pedi, e ela negou.

History Teacher - RomanogersOnde histórias criam vida. Descubra agora