Capítulo 36: Final

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Steve

- Te peguei no flagra.

Natasha olhou para mim. Ela estava de pé na janela, olhando a neve secando. Usava aquelas camisolas de hospital e uma meia colorida que ia até a canela. Seus cabelos estavam presos em uma trança.

- Eu nem aproveitei a neve esse ano - reclamou.

- Vai aproveitar mil neves ainda. Anda, volta pra cama.

Deixei as flores no criado e ela bufou, andando devagarinho até a cama. Já tinha um mês que Natasha tinha saído da UTI, ela simplesmente já tinha lido cinquenta livros nesse período e perguntava todos os dias para a mulher se podia voltar para casa.

- Você vai amanhã.

- Sério?

- Sim.

Eu sorri.

- Mas ainda tem mais um mês de repouso total.

- Porra.

Me sentei na poltrona, sorrindo. Natasha me olhava.

- Não vou poder ver você.

- Eu sei - suspirou. - Já pensei nisso.

Ficamos em silêncio. Nesse mês Natasha fez fisioterapia e seus amigos sempre vinham ficar comigo, então eu ficava menos tempo no hospital. Até porque tinha que parar de dormir naquela poltrona, ou desenvolveria uma hérnia de disco. As aulas voltavam semana que vem, depois de um longo período de luto.

Natasha parecia diferente, como eu disse que aconteceria. Quase morrer muda as pessoas.

- Eu decidi.

- O que? - Me distraí dos meus pensamentos.

- O que vou fazer. Quero ficar um ano viajando e recuperando minha forma. Depois, vou fazer teste para a Julliard. E vou ser uma bailarina profissional.

Eu sorri.

- Então assim seja.

Natasha sorriu.

- Vai ficar bem perto, em Nova York.

- Não é na China, mas já é o suficiente. E você, o que vai fazer?

- Bem. Eu acho que quando se formarem, eu vou voltar para Boston. Sinto falta da minha mãe. E quero tentar aplicar para ser professor em Harvard.

- Uhhh, você vai ficar rico.

Eu gargalhei junto com ela. Quando morreu, eu sabia que tinha uma pergunta no ar.

E nós?

Natasha tinha lágrimas nos olhos.

- Depois de quase morrer, as coisas ficam engraçadas. Tão pequenas.

Eu concordei.

- Eu acho que você está certo. Não podemos viver escondidos. Não quero viver escondida. Não quero acabar com sua carreira. Nem com a minha.

Esperei ela continuar, mas Natasha não olhava para mim.

- Quero descobrir quem eu sou.

- Essa é uma ótima ideia.

Eu toquei sua mão.

- Olha pra mim.

Ela obedeceu, e vi lágrimas rolando de seus olhos.

- Não se preocupe. Boston fica há quatro horas de Nova York.

Ela assentiu.

Me levantei, e limpei suas lágrimas com os polegares.

Beijei o topo de sua cabeça.

Andei até a porta, e fui embora sem olhar para trás.

(...)

Cinco meses depois

- Martin Luther King disse uma vez "Se um homem não descobriu nada pelo qual morreria, não está pronto para viver". E Lana Del Rey disse "Só vale a pena viver se alguém está amando você."

Todos riram.

- Isso só mostra que, mais que sucesso, precisamos de amor.

Pepper discursou. Eu procurei Natasha entre as pessoas de azul, e vi que ela me olhava. Sorri para ela.

Natasha estava linda. O azul da beca ressaltava seus cabelos, e o batom vermelho seus cabelos. Ela estava feliz, não parava de conversar com Carol e Wanda, que eu vi que chorou mil vezes com o discurso de Pepper.

- Natalie Rushman!

Natálie subiu no palco, com saltos enormes e a beca azul esvoaçando no calor do final de julho. Pegou seu diploma, passou pela homenagem aos mortos esse ano, e cumprimentou os professores. Na minha vez estalou um beijo com batom vermelho na minha bochecha, e eu limpei descaradamente.

Natasha segurava uma risada.

- Natasha Romanoff!

Ela se levantou e todo mundo aplaudiu ds pé. Como uma miss, ela andou acenando, com um enorme sorriso. Sua mãe estava lá trás. Natasha estava maravilhosa, com seus cabelos ruivos brilhando no sol. Ela subiu as escadas, com uma classe absurda. Pegou o diploma. Apertou a mão de todos.

Quando se virou para mim, foi como se o mundo todo parasse. Ela abriu um sorriso enorme e apertou minha mão.

- Estou orgulhoso.

Ela me lançou um daqueles olhares diabólicos, o que me fez sorrir mais. Claro, depois do tiroteio, ninguém nunca mais sequer pensou naquela fofoca mais verdadeira do que deveria ser. Talvez até aquele momento, mas não importava mais.

Ela estava indo, eu estava indo. Viver nossas vidas separados, mas o destino não funciona assim.

Algumas pessoas sempre estão destinadas a se encontrarem.

History Teacher - RomanogersOnde histórias criam vida. Descubra agora