Capítulo 17

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Katharine

    Os dias se passam e por mais que eu não queira admitir, aquela linda e bela rainha por quem eu me apaixonei está perdida e afundada num misto de choro, irritação, vômitos, desejos e reclamações. Me impressiona ver como ela emagreceu! Achei que o certo seria ela ganhar peso, mas como não está conseguindo comer quase nada, a perda de peso é algo esperado. Eu sempre achei que Amália fosse tirar sua gestação de letra, mas não está sendo nada fácil pra ela toda essa adaptação. E por mais que ela se mantenha forte e serena na frente dos estranhos, quando eles se dispersam e as portas do seu quarto se fecham, ela se desarma e começa seu ritual agonizante. Detesto usar esses termos, mas todos os dias são iguais e eu já me sinto consumida por toda a sua dor! Passarei por isso com ela sem pensar duas vezes e sei que isso tudo vai passar, mas não estou certa que Dárius terá essa mesma paciência. Com ele, ela também se permite expor toda sua vulnerabilidade. Ele se mostra solícito e compreensivo, mas depois que sai de seu quarto, vai beber e reclamar dela com Herbes. É bem típico dele! Mas enquanto ele se manter bem na frente dela, pra mim basta.

    Hoje Amália está acompanhada do médico real, da cozinheira e da costureira. Então sei que minha presença não será tão útil por aqui. Resolvo atender um dos pedidos dela levando uma carta até seu pai. Ela quer muito comunicar sua gravidez e também pede que ele vá visitá-la. Espero poder voltar com ele, ou pelo menos com a notícia que ele logo virá. Vou até o estábulo para tentar pegar a Cristal, mas o cuidador diz que seria bom levar o Argus para andar um pouco, visto que Amália não está podendo sair com ele. Acaricio o belo animal e percebo que assim como a dona, ele é super amável! Monto nele e logo começamos a trotar morro acima. A velocidade que Argus chega é incrível! E depois de tanto ficar no quarto com Amália, poder desfrutar um pouco dessa sensação de liberdade é delicioso!

    Ao chegar no vilarejo, logo avisto a casa do pai dela. Aquela cerquinha branca é mesmo encantadora! Incrível pensar que foi aqui que Amália cresceu. Por mais simples que ela seja, a realeza lhe cai bem! Paro com Argus em frente a casa e grito:

— Senhor Fontes!

Logo escuto sua voz ao fundo:

— Já vou!

Espero alguns instantes e a porta se abre. O semblante inicialmente tranquilo dele se transforma para apreensivo quando ele reconhece o Argus. Faço logo questão de me apresentar:

— Bom dia, meu nome é Katharine, sou a dama de companhia da Rainha Amália. Ela me enviou até aqui para falar com o senhor.

Ele se aproxima devagar com uma expressão mais tranquila, porém ainda tem uma certa estranheza em seu olhar.

— Desculpe minha menina, mas minha filha nunca quis ter damas de companhia. E também nunca vi nenhuma outra pessoa montada em seu cavalo.

Ele abre a cerca e logo vai acariciar o Argus.

— Entendo suas dúvidas, eu realmente estou na corte a pouco tempo. Impuseram a minha companhia a rainha, mas até que estamos nos dando muito bem. E em relação ao Argus, ele precisava passear um pouco pois a rainha está de repouso.

— Repouso? Ela está doente?

— Não senhor, não se preocupe. Vou deixar que descubra o motivo, o senhor mesmo. — Tiro a carta da minha bolsa e lhe entrego.

— Bem, desculpe a minha rispidez inicial. Eu já sou velho e vivo sozinho, acabo me perdendo um pouco na minha própria companhia. Entre por favor, vou lhe servir um chá e uma fatia de bolo.

Agradeço e aceito o convite de bom grado.

    Assim que passo para dentro da casa, me encanto com a simplicidade e com o capricho. Uma casa que parecia vinda de dentro de um dos livros de romance que eu li. Apesar de ser homem, o pai de Amália mantinha tudo na mais perfeita ordem, desde as almofadas sobre o antigo sofá de courino, até as panelas penduradas em cima da pia da cozinha. Ele coloca a água para ferver no bule para fazer o chá em seu fogão a lenha enquanto me pede para sentar no conjunto de cadeira e mesa feitas de madeira que ficam bem pertinho. Achei muito bonita a toalha que estava sobre a mesa, uma estampa simples de flores, mas ela me transportou para um sentimento de tanta leveza! Certamente aqui é um local de muita paz, completamente diferente da corte onde vivemos. Ele se senta na cadeira disposta a minha frente com a carta na mão e me diz:

A amante da rainhaOnde histórias criam vida. Descubra agora