Capítulo 28

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Amália

    Eu só conseguia falar pra mim mesma: "respira Amália, força!" por incontáveis minutos! Como eu queria que essas dores me dessem um mísero intervalo que fosse! Desde que cheguei ao palácio, no único momento em que eu consegui respirar sem dor, Herbet e Dárius aproveitaram para me carregar até o quarto, que se transformou num verdadeiro caos. Empregadas circulando por todo lado trazendo toalhas e mais toalhas, vasilhas com água, panos para secar meu rosto e sabe-se lá mais o quê! Eu só queria um pouco mais de tranquilidade, mas o sangue não parava de escorrer pelas minhas pernas e eu não conseguia fazer nada que não fosse suar, gritar, chorar e fazer alguma força quando a Senhora Thompson mandava. Segurava na cabeceira da cama como se eu fosse conseguir tirar dali alguma força sobrenatural pra continuar tentando. Meus olhos pesavam, o ar não circulava direito em meus pulmões, sentia meu corpo em febre e a dor se fazia presente em cada músculo meu! Por vários instantes eu sentia que ia desmaiar, mas de alguma forma eu ainda conseguia me manter consciente. Em um dado momento, escuto a voz da senhora Thompson dizendo: 

— Vai minha rainha! Continue! Logo logo o nosso príncipe estará aqui conosco!

Respiro fundo e tento mais uma vez:

— Aaaaah! — grito com a dor mesclada em desespero!

A contração que meu corpo fazia de forma involuntária parecia torcer o meu tronco devagar. Quando eu fazia força na tentativa de empurrar o bebê, a pressão lá embaixo era indescritível! Parecia que meu corpo estava se rasgando de dentro pra fora! A dor que isso causava estava me matando aos poucos... o suor escorria na minha testa, sentia a força escapando pelos dedos e por um instante minha consciência apaga. 

    Desperto sentindo um pano úmido tocar meu rosto e escuto uma voz bem baixinha:

— Isso… calma meu amor, você está indo bem! Mais um pouco e você vai conseguir! Eu estou aqui! 

Era a voz dela... eu sabia que Katharine não iria me deixar sozinha nem por um segundo. Faço um esforço para abrir os olhos e testar a veracidade do que eu penso. O rosto dela preenche a minha visão e seu sorriso me ilumina, assim como eu previa.

— Eu amo você! Como nunca amei ninguém! Se algo me acontecer, não saia de perto do meu bebê nem por um segundo! Ele vai precisar de uma mãe…

— E ele vai ter duas! Nem pense em deixar a parte difícil pra mim, Vossa Majestade! — ela refresca meu rosto novamente e continua — Vamos lá! Respire fundo, se recomponha e vamos trazer mais um rei para a Romênia!

Fecho os olhos e como se fosse um combinado a contração vem novamente. Puxo o ar, seguro a mão de Katharine e empurro com toda a força que consigo! A pressão aumenta e logo em seguida sinto a dor me rasgar por inteira.

— Ele está vindo! 

Empurro mais uma vez e consigo sentir meu corpo terminar o trabalho por mim. Escuto um choro alto e intenso preencher o ambiente, mas principalmente ele preenche o meu coração de alegria! Abro os olhos e vejo meu bebê nos braços da Senhora Thompson que o enrola em uma toalha e vem em minha direção. Meu olhos se enchem de lágrimas e o amor me toma de uma forma que eu nunca havia sentido antes! 

— Diga oi pra sua mamãe!

Seguro meu bebê nos braços tentando controlar a emoção intensa que me tomava. Meu sonho se realizou! Agora eu sou mãe e o trono da Romênia tem um sucess...

— É uma linda menina! — Disse a Senhora Thompson.

— Vai reinar lindamente como a sua mãe! — Completou Katharine.

Aquelas palavras deveriam me preocupar, pois eu bem sei como as mulheres aqui neste meio são tratadas. Depois de tanto tempo aguardando um herdeiro, não sei se Dárius se contentaria em por sua coroa na cabeça de uma mulher. Mas ao olhar pro rostinho dela, tudo isso perdeu a importância! Ela era a coisa mais linda que eu já tinha visto! A minha felicidade em ter minha filha nos meus braços era muito mais forte do que toda a dor que eu acabara de sentir. Passo a mão em seu rostinho tentando acalmá-la e talvez conseguir passar pra ela alguma fração da paz que eu estava sentindo. Seu choro cessa e logo em seguida ela abre seus olhinhos na direção do meu rosto. Não sei como, mas dentro daquele olhar eu conseguia ver e sentir algo diferente. Nunca havia sentido nada parecido com isso antes. Pelo visto o tal do "amor incondicional" agora tinha um rosto e se perdia dentro de um lindo mar de azul dentro daquele parzinho de olhos tão pequenos. Eu lhe dou um sorriso e digo pra ela:

A amante da rainhaOnde histórias criam vida. Descubra agora