Capítulo 39

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Katharine

    Os dias longe de Amália têm sido difíceis. Eu digo longe, pois mesmo que estejamos no mesmo ambiente, não poder agir naturalmente como o meu coração e extintos mandam, é como se eu simplesmente não estivesse lá. Achei que nossa briga "boba" não iria durar mais de um dia, eu mesma estava disposta a deixar tudo pra lá no dia seguinte. Mas quando eu acordei e vi Alina brincando com ela e Dárius no tapete do quarto em um retrato perfeito de "família feliz" eu simplesmente me retirei e me fechei. Parece que não adianta, pra sempre vai existir essa sensação terrível de estar sobrando.

    A festa de aniversário de Alina foi linda! E um verdadeiro sucesso para a imagem que Dárius precisa manter perante a sociedade. Tecidos em dourado e rosa combinavam com várias flores em tons parecidos decorando o salão de baile, trazendo a temática de princesa para a festa toda. Alina estava linda! Toda vestida de rosa bebê. Tudo estava perfeito até chegar a hora do parabéns. Logo após Amália e Dárius apagarem as velinhas do bolo, Dárius a segurou pela cintura e estalou um beijo rápido em sua boca que arrancou aplausos de todos, menos de mim obviamente.

    Depois do cessar da festa, foi possível escutar a discussão entres eles nos aposentos de Amália enquanto eu tentava colocar Alina para dormir em seu quarto. Escutei Amália dizer:

— Nunca mais encoste em mim novamente! Eu não sou mais sua mulher e você sabe disso!

E instantes depois ele responde:

— Perante a alta sociedade você é! E eu vou beijar a minha esposa a hora que eu quiser!

Meu estômago se revira, mas ela responde:

— Experimenta fazer isso de novo pra ver se eu não estalo um tapa na sua cara na frente de todos!

O silêncio se estabeleceu e logo escuto a porta do quarto bater. Por mais que as palavras de Amália tenham me trazido algum conforto, ela não veio mais me procurar. E o fato é, que por mais que eles dois já não tenham mais nenhuma intimidade, a quantidade de vezes que eu sinto que poderia ser substituída por uma mera babá, anda me consumindo de maneira constante. Minha vida amorosa com Amália sempre foi movida a picos de emoções fortes e também sinto que ela é feita de pequenas brechas entres os momentos bons e ruins entre Amália e Dárius. Por mais que ele não a tenha mais em sua cama, o título de esposo, pai de sua filha e seu rei... sempre serão dele! E por mais que meu amor por ela seja enorme, fica difícil remar contra essa maré constantemente…

    Deitada na grama verde, afundo meus olhos em um livro que relata um pouco das histórias e guerras sofridas pelo nosso país e por seus países próximos. É inacreditável a quantidade de sangue derramado por soldados fortemente armados em prol de uma bandeira, por motivos territorialistas ou mesmo por uma tal de "honra" que pra mim é absolutamente seletiva, aparecendo de tempos em tempos pelos motivos mais fúteis que existem. Quanto mais eu leio, mais revoltada eu me sinto e mais amargurada também, fico tentando entender um motivo nisso tudo, viver não era pra ser leve e natural? Desde quando o homem começou a se enfrentar desse jeito? E principalmente, desde quando decidiu bolar táticas de ataque iniciando guerras sangrentas e absolutamente bárbaras? Pra quê? Só pelo prazer de fincar uma bandeira em um solo novo? Só para ter mais moedas de ouro sua em posse? Fecho o livro com raiva e decido terminá-lo em outro momento, pelo menos quando eu não estiver com a cabeça tão confusa e o coração tão apertado.

    Aproveito que já estou aqui fora para espairecer um pouco, tiro os sapatos, me levanto e começo a caminhar sentindo o atrito gostoso da grama em meus pés descalços. Caminho em qualquer direção que me leve pra longe do castelo, longe de tudo aquilo me causa esse peso estranho aqui dentro. Observo os pássaros voando, o vento balançando os galhos das árvores e ao mesmo tempo tocando meu rosto, me trazendo uma sensação gostosa e nostálgica. Me lembro de quando eu caminhava assim acompanhada de um livro qualquer nas terras de meu pai quando eu era mais nova. Engraçado que a sensação de não pertencer aos lugares sempre me acompanhou, de alguma forma eu nunca estive em um lugar que tivesse sido feito pra mim. Até mesmo meu quarto na casa dos meus pais havia sido decorado para receber um menino, os empregados falam que no dia em que eu nasci meu pai nem me pegou no colo, tamanha a sua revolta por eu ser mulher. Sacudo a cabeça tentando afastar meus pensamentos e avisto de longe a árvore próxima ao rio que eu e Amália costumamos ficar em nossas fugas do castelo.

A amante da rainhaOnde histórias criam vida. Descubra agora