Capítulo 44

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Amália

    Termino de fechar os botões do meu vestido preto e cubro o rosto com o véu de renda escura. Me olho no espelho encarando a imagem da viúva que eu acabei de montar e aquilo me incomoda mais do que deveria. Apesar de ter a plena consciência de que Dárius mereceu o fim que teve, me arrumar para seu funeral ainda estava sendo difícil. Abro a gaveta para pegar meu par de luvas e encontro um dos colares que ele havia me dado. A cena dele o colocando em meu pescoço passa de forma rápida pela minha memória, mas é interrompida pela lembrança do terrível dia na biblioteca. Uma lágrima cai de meu rosto me mostrando que mesmo com sua morte, os traumas que ele me causou ainda estavam vivos dentro mim. Eu seguro o colar e o levo para próximo do meu peito, sentindo uma dor que não conseguia decifrar muito bem, mas o fato é que estava doendo e muito! Eu fecho os olhos e mesmo não querendo, permito que esse sentimento me domine e acabo por dizer:

— Por que Dárius? Por que tudo teve que ser assim? Por que você me colocou dentro de um sonho de rainha e o transformou em um pesadelo?

A ausência de uma resposta fez a dor em meu peito aumentar...

    Não havia mais amor, não havia mais desejo, não havia mais prazer em estar perto dele, mas foi ele quem fez de mim quem eu sou hoje: uma rainha e uma mãe. Ainda havia dentro de mim um pouco de consideração por ele como monarca e com o pai da minha filha. Mas ao mesmo tempo a raiva, o nojo, a revolta e a minha vontade de fazê-lo pagar pelo que fez comigo cresciam dia após dia, matando tudo isso dentro de mim pouco a pouco. Contudo, encarar a certeza de que ele está morto pela infelicidade que eu o causei, faz com que eu me sinta um pouco como ele. Eu sabia disso desde o momento em que me deitei com ele na minha primeira tentativa real de engravidar depois do ocorrido, eu havia começado a usar ele para conseguir o que queria e isso não era nada parecido com a minha personalidade de antes. Hoje eu enterro o corpo dele, mas infelizmente todas as marcas que ele deixou em mim, vão ficar pra sempre.

    Olho para Alina dormindo no berço e isso faz com que eu chore ainda mais. Como vai ser o futuro da minha pequena agora? Que Deus me dê forças para ser o melhor exemplo possível para ela. Agora eu sou o único exemplo que ela terá para seguir. Meus pensamentos são interrompidos por uma leve batida na porta.

— Entre!

Katharine passa pela porta e me sinto mal por ela me ver daquele jeito.

— Já está pronta, meu amor? — Ela diz segurando minha mão.

— Fisicamente, sim.

Ela se aproxima para tocar meu rosto, mas eu tento esconder minhas lágrimas. Ela percebe o que está acontecendo e segura meu rosto de forma delicada, jogando o meu véu para trás.

— Ei! Não precisa se preocupar comigo. Não quero que se sinta mal por sentir o que obviamente está sentindo. Você acabou de perder o seu marido, o seu rei, o homem para o qual você se entregou, se dedicou e mudou sua vida. É perfeitamente normal que você sinta essa perda apesar de todo mal que ele tenha nos causado. Eu entendo isso perfeitamente.

Seco as lágrimas com as costas da minha mão e digo:

— Mas eu não estou me sentindo assim! Eu estou com — faço uma pausa, tentando encontrar as palavras — com uma raiva... uma dor...

— Você está processando o luto!

— Eu não posso aceitar o fato de estar de luto pelo homem que abusava de mim, que me humilhava e me maltratava!

— Não é por ele que você está de luto! É por aquele Dárius que você conheceu no povoado, que você levou para conhecer seu pai, que levou flores para te cortejar... é pelo casamento que você queria ter tido com ELE e não com o Dárius que ele se transformou.

A amante da rainhaOnde histórias criam vida. Descubra agora