Capítulo 29

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Capítulo 29.

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andré.

chego a concessionária pontualmente às oito da manhã, ciente do dia corrido que terei pela frente.

trabalhar longe do meu pai tem sido uma forma terapêutica de lidar com o tempo que terei que esperar.

meu tratamento psicológico no amor sublime também tem me ajudado muito, assim como as orações.

obviamente, tem dias e dias.

mas de forma geral estou conseguindo lidar com tudo.

trabalho diretamente com silvano, tenho minha própria sala mas geralmente fico com ele boa parte do dia.

como de praxe, passo pela recepção da sala notando que a secretária não está presente.

dou duas batidas na porta, abrindo lentamente.

"dá uma olhadinha nisso aqui, vê se eu tenho condição de trabalhar hoje". ele bate em um papel, ocupo a cadeira ao seu lado e fico perplexo com o que vejo.

é o processo do divórcio.

"desculpe silvano, mas o que aconteceu entre vocês para se separarem?". a surpresa em seu rosto com minha pergunta fica evidente.

"estou sendo invasivo?".

"não, é que você é a primeira pessoa que se senta para me ouvir a dois anos". "a minha esposa sempre cobrou de mim um pouco de atenção, tanto ela quanto a minha filha diziam que eu era muito ligado no trabalho, não construí esse império de carros à toa". "a minha esposa cresceu numa casa com os pais divorciados, e acredito que não se divorciou de mim antes por causa da nossa filha, não queria que a história se repetisse". "há dois anos atrás minha filha casou, foi embora e acabaram os motivos para minha esposa me aguentar". "quando notei o quão negligente fui tentei correr atrás do prejuízo no primeiro ano, quando não obtive êxito comecei a beber". "trinta anos de casamento jogados fora!".

pondero, pedindo a deus sabedoria mentalmente na hora de falar.

"silvano, se em algum momento você se sentir desrespeitado me perdoa, mas serei sincero com você".

Ele me dá espaço para falar, concordando com a cabeça.

"já estive dos dois lados da moeda". "já bebi, e muito, achei que dava para fugir dos meus problemas e afirmo a você, não dá". "todos ao nosso redor tem pena ou raiva de nós, é tudo que conseguimos bebendo, julgamentos e pena". "mas também já estive e ainda estou na posição da sua filha, não considero você tão ruim quanto meu pai, aí já é exagero mas a negligência paterna é muito dolorosa". percebo que atingi uma parte sensível de seu coração, tendo o máximo de empatia.

"perdi minha namorada e uma filha em um incêndio há 25 anos atrás, foi Então que comecei a me afundar, olhando apenas para mim mesmo". "você já parou para pensar que ao menos no seu caso, o sofrimento de hoje é a consequência dos atos de ontem?". "já parou para pensar que sua esposa pode não ter desistido do casamento antes porque ainda tinha esperanças de você mudar?". "parou para pensar que sua luta de um ano para reconquistá-la podia ter tido êxito se tivesse lutado mais um pouco e não desistido?".

"não, não parei para pensar nisso".

"é da natureza humana sermos egoístas, pensarmos apenas na dor que os outros causaram a nós, e não que nós causamos aos outros".

"desculpa andré, mas eu não consigo pensar no que um homem que perdeu a mulher e a filha pode causar de dor a outras pessoas, quem sofreu mais foi você". "a vida que não é justa mesmo!". a convicção palpável em suas palavras me faz compreender que é uma boa pessoa tem muita empatia pelo próximo.

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