Capítulo 15

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Nós três passamos o resto da tarde conversando e comendo. Gabe confessou que sentia falta de casa e sonhava em voltar para Argentina, disse também que estava cansado da figura de descolado e na verdade era um rapaz emotivo e que sonhava em ter uma família grande.

Foi um momento interessante, assim como ele, Juan e eu falamos sobre coisas pessoais e descobrimos muitas coisas em comum, como o fato de sermos intensos e lutarmos para controlar os sentimentos.
Honestamente, saber que não sou a única assim me fez respirar aliviada.

Quando o dia começou a escurecer mamãe me ligou por vídeo chamada e discretamente fui até a cozinha para atender. Me sento à mesa falando baixinho e evito que os dois olhem pra cá, mas foi em vão já que não tinham paredes separando os dois cômodos.

- Eles são só amigos, mãe. Um deles me pediu ajuda pra ler a Bíblia, sabia? - Insisto encarando mamãe.

- O que foi ? - Juan pergunta a alguns metros distante e eu erguo as sobrancelhas.

- Nada, é a minha mãe e a minha avó! - Aviso apontando para o telefone.

- Porque não avisou Samy, a gente vai embora. Vem, Juan. - Gabe se levanta e chama o amigo para ir.

- Juan? - Mamãe repete e ele congela. - O Juan tá aí?

- Tá mãe, mas não começa, eles já estão indo embora. - Respondo rápido.

- Não começar o quê? - Vovó pergunta confusa.

- Nada, mãe. - Dona Suzana tranquiliza e volta a me encarar. - Chama ele aqui, filha, deixa eu saber quem é. - Pede e eu escondo o rosto envergonhada.

- Ei, o que houve? - Juan sussurra parado entre a sala e a cozinha.

- Ela quer te ver. - Digo piscando devagar.

Gabe põe a mão na boca para conter o riso e encosta na parede assistindo a cena, Maria trava e percebo sua respiração ficar ofegante.

- Agora? - É tudo que ele diz.

- É, agora.

- Anda menino,vem! - Mamãe chama.

Sem saber o que fazer, ele se aproxima e puxa uma cadeira para perto de mim. O rapaz me olha desesperado, mas eu apenas mordo o lábio inferior e entrego o telefone.

- Hello - Ele diz acenando pra elas que fazem o mesmo.

- Hi, Juan. - Dona Suzana arrisca no inglês e ri. - Samyra, oquê ele faz? Estuda o quê? - Interroga e ele me olha confuso.

- Ela perguntou o que você faz ou estuda. - Traduzo devagar e apareço na chamada. - Ele estuda educação física e joga no time de basquete da Universidade, mãe.

- Basquete... yes. - Juan confirma com um joinha. - Diz pra ela que eu sou bom.

- Ele disse que joga bem.- Digo a elas rindo junto com ele.

- Hum... o rapaz é bonito, mas é cristão filha ? - Vovó faz a pergunta importante.

- É sim, e o amigo ali também. - Digo apontando a câmera para Gabe que ri e acena. - Estou dizendo a elas que vocês são cristãos também. - Surrurro em inglês.

Juan concorda com a cabeça e apenas me escuta falar com elas, Gabe se despede aparecendo para dar um tchauzinho e avisa que iria fazer um trabalho, quando fico sozinha com Maria em casa o clima parece ainda mais constrangedor.

- Diz a elas que eu quero conhecer o Brasil. - Ele pede baixinho com os olhos atentos.

- Tá.. Ele disse que quer conhecer o Brasil. - Digo e vovó ri.

- Manda ele vir, Samy. Como que fala isso em inglês? - Pergunta me fazendo gargalhar.

- É come to Brazil. - Digo devagar.

- Come to Brazil, filho. - Dona Celeste diz e Juan acha fofo.

Ajudei os dois a trocar mais algumas palavras e aparentemente eles se deram bem, já mamãe parecia estar na defensiva.

- Ei, ela tá brava ? - O rapaz pergunta.

- Não é isso, é que minha mãe é um pouco mais séria que a minha vó. Ela demora um pouco pra se abrir, relaxa. - Explico enquanto Juan me olha nos olhos, esse pequeno segundo fez minha pele arrepiar.

- Olha lá, eu disse que tinha alguma coisa aí, viu. Eu conheço a minha neta. - Vovó comenta e eu desejo sumir.

- Chega, eu ligo pra vocês depois. - Aviso acenando. - Até mais !

- Até mais. - Juan repete fazendo elas rirem.

- Até filha, depois conversamos. - Mamãe se despede e me manda um beijo.

- Tchau queridos, Deus abençoe e juízo. - Vovó alerta apontando para nós dois.

Antes que ela dissesse algo a mais, eu encerro a chamada e ponho o telefone na mesa respirando fundo.

- Gostei delas, mas fiquei nervoso. - O rapaz confessa esfregando a palma das mãos nas pernas.

- Obrigada, de verdade. - Agradeço pelo momento ao me lembrar de hoje cedo e de como me senti.

Estar sozinha aqui é difícil. Em casa, mamãe e vovó sempre conversavam comigo e a pressão desaparecia, mas sem elas eu estava me sentindo solitária, sem ter alguém pra desabafar verdadeiramente.
Juan não diz nada, apenas continua ao meu lado me observando e eu sorrio amarelo em sua direção  Ele estava se tornando alguém especial, um amigo com quem eu poderia facilmente passar horas falando da vida sem medo. Isso é bom, eu me sinto em casa com Juan.

Curado Pelo Amor | Romance CristãoOnde histórias criam vida. Descubra agora