Curado Pelo Amor | Romance Cristão

Capítulo 4

No meio da madrugada um barulho alto me assusta e em um pulo já estou de pé, saio do quarto devagar e caminho até a sala em passos lentos. Escuto alguém rir e outra voz o acompanhar, nesse momento eu me sinto idiota por conta da preocupação, era obvio que Gabe havia chegado da tal festa acompanhado de alguma garota. Com um suspiro pesado me forço a entrar na sala e interromper o que quer que esteja acontecendo.

-- Gabriel, em outro lugar ! - Ordeno apontando pra porta e fazendo a garota se esconder de costas pra mim.

- Amigão, você tava ai. - Diz se aproximando com um sorriso sacana no rosto. -- Não quer dar uma volta, não ?

- Não, eu só quero voltar a dormir em paz, se é que vocês me permitem. - Digo sorrindo falso.

- Juan, só sai. Não vem atrapalhar a minha noite. - O ruivo sussurra me olhando ferozmente.

- Tá... mas você vai limpar a casa por um mês. - Aviso colocando o dedo em seu peito para reforçar o combinado.

Do lado de fora, após ser expulso da minha própria casa, escuto outra porta se fechar.

- Samy ? - Questiono surpreso ao vê-la.

- Oi, também não consegue dormir ? - Pergunta se aproximando.

- Na verdade não deixaram, sabe. - Comento apontando para a porta. - Ei, quer tomar alguma coisa lá embaixo? - Proponho tentando ignorar a frustração.

- Pode ser. - Ela aceita caminhando à minha frente. - Mas depende, eu não curto álcool.

- Nem eu, que tal um café? - Sugiro e ela concorda.

Nós andamos algum tempo à procura de alguma cafeteria ou algo do tipo, mas por conta do horário todas estavam fechadas, a solução encontrada foi comprarmos pizzas e comermos no gramado da universidade.

- Ok, me fala sobre você pra gente não ficar tão desconfortável. - Ela começa bebendo seu suco.

- Porque eu falaria sobre mim pra uma estranha ? Eu ainda não te conheço, sabia ? - Brinco e ela ri.

- Talvez porque tenha sido você quem convidou essa estranha pra cá. - Samy diz simplista enquanto eu dou uma mordida generosa na pizza de pepperoni.

- Verdade. - Concordo terminando de mastigar e olhando pra ela com atenção. - O que quer saber sobre mim ?

- Se você sempre é expulso de casa... Coisas simples. - A morena debocha e eu rio.

- Isso nunca acontece, o Gabriel me respeita. Hoje foi uma exceção, ouviu? - Explico e ela cai no riso.

- Certo, agora uma pergunta de verdade, qual a sua comida favorita?

- Boa! Panqueca não era, mas agora tá passando a ser. Tenho boas memórias comendo panqueca. - Assumo lembrando da minha infância e do treinador Blake. - E a sua?

- Pão de Queijo. - Samy diz e sua voz fica engraçada. - É um pãozinho com queijo dentro, é uma delícia mas só é gostoso no Brasil.

- Certo, agora você vai ter que me trazer isso. Parece gostoso. - Confesso.

Esse pequeno momento é completamente diferente de quando eu estou com o time, não tem peso nenhum sobre os meus ombros e não preciso fingir ser perfeito. A impressão que eu tenho é que somos amigos há muito tempo e apenas nos reencontramos.

- Juan, tá aí ? - Samy me chama estalando os dedos e eu noto que a encarava.

- Desculpa, eh... o que você tava falando?

- Perguntei o que você gosta de fazer. - Ela comenta mordendo uma fatia de pizza.

- Jogo desde de garoto e escolhi educação física porque caso eu não consiga ter uma grande carreira, posso ensinar sobre como o esporte me salvou. - Explico com certa vergonha de falar algo tão íntimo.

- Que bonito, mas acho difícil você não ter uma grande carreira. - A moça diz dando outra mordida.

- Ah é, porque ? - Insisto.

- Seus olhos brilham quando fala sobre isso, e você é dedicado, não tem como falhar. - Declara com certeza ao limpar as mãos.

Com as sobrancelhas franzidas eu a olho intrigado.

- Tá, vou fingir que isso não foi estranhamente motivador. Agora me fala sobre você. - Peço apoiando os cotovelos no gramado e olhando para o céu.

- Eu gosto de várias coisas, de desenhar, de costurar, mas principalmente de conversar e de cuidar das pessoas. - Confessa olhando para frente. - Parece clichê, mas é por isso que escolhi medicina.

- Os clichês e clássicos são ótimos, já leu Romeu e Julieta ? - Pergunto me virando pra ela.

- Já... você leu ?

- Ah qual é, só porque eu sou um cara gato e de um metro e noventa, não posso ler um romancezinho pra passar o tempo ? - Finjo estar ofendido e me sento novamente.

- Claro que pode, Montecchio. - Diz me empurrando pelo ombro enquanto rimos juntos.

- Ei, vocês aí ! - Uma voz grita e se aproxima junto a uma luz forte. - É proibido permanecer fora dos dormitórios após a meia noite.

Eu me levantei depressa e recolhi todo o lixo antes que Samy me olhasse desesperada. O homem estava a alguns metros de nós e pelo que enxerguei era um funcionário.

- Sabe correr, Julieta ? - Pergunto estendendo a mão pra ela, que segura e começa a correr comigo na direção contrária ao segurança