Capítulo 7

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A noite de domingo passou rápido, depois de orar, eu deitei e não me lembro quanto tempo levei pra dormir. Meu corpo estava cansado e saber que a rotina de aulas iria recomeçar me deixava sob pressão já que o tratamento da Universidade com os atletas é rigoroso.

Pela manhã não tive energia para cozinhar, apenas coloquei um sanduíche na mochila e saí. O clima estava frio e pelo horário haviam poucas pessoas na entrada do campus, o que achei estranho, mas do lado de dentro notei que muita gente já tinha chegado e vários rostos diferentes estavam circulando.

Uma certa ansiedade circula no ar e me deixa animado, quem sabe esse pode ser um novo começo pra mim também?

Aproveito a energia dos calouros e caminho animado até a sala.

- A Samy deve estar animada. - Comento sozinho ao sentar na carreira.

No geral a minha manhã foi tranquila, algumas aulas bem teóricas me deixaram tonto, mas por sorte a pausa do almoço me deu algum tempo de descanso.

- Fala ai, Maria ! - Gabe grita assim que entro no refeitório e a minha vontade é de sumir.

Eu o cumprimento de longe e busco minha comida sem falar com ninguém. Tento sentar sozinho, mas o ruivo vem atrás de mim e me obriga a sentar com o time.

Deus, para que eu vim aqui... o único assunto que os caras sabem falar é de bebida e mulher. - Penso sentindo um desconforto enorme.

Do outro lado da mesa, Tyler me olha firme e trava o maxilar. O negro de pele clara parecia não descansar em momento algum, sempre esperando uma oportunidade de acabar comigo.
Cansado dessa situação, eu me levanto deixando a bandeja cheia na mesa e saio do refeitório sem olhar pra trás.

Me resolver com Gabriel seria fácil, bastava algumas horas jogando, ou explicando matéria pra ele. O que eu não posso é ficar em lugares que me lembram a todo momento de quem eu era, das coisas que eu fiz, ou dos vícios que eu tinha.

Coloco meus fones de ouvido e caminho pelo corredor respirando fundo, a música aos poucos me acalma e manda embora toda a tensão do meu corpo.
Checo o relógio por um segundo e quando ergo a cabeça vejo Samyra conversando com algumas meninas, imediatamente sinto um sorriso nascer no meu rosto porém tento contê-lo. A moça sorria alegre e penso que poderia soar rude passar por ela e não dar um oi, então sigo meu caminho controlando os meus passos com calma.

- Samy... oi. - Digo sorrindo amarelo enquanto ponho uma mão em seu ombro.

- Juan, oi ! Gente, esse é o meu vizinho. Aquele que eu disse ter me ajudado. - Ela explica animada pondo a mão por cima da minha.

- Ah, a gente conhece... Eai Juan. - A loira diz com certo deboche.

- Eai. - Respondo por educação e me volto completamente para a brasileira. - Como está sendo o primeiro dia? Já conheceu a Universidade?

- Sendo sincera, é um pouco difícil, mas mesmo assim é como um sonho. -- Seus olhos escuros brilham ao falar. - As salas são enormes. Você já viu o laboratório? Juan lá é incrível !

Gosto de como ela fala, animada e dando 300 informações por segundo, parece que somos amigos de longa data e honestamente sinto que realmente somos. Nós nos entendemos desde o primeiro instante e diferente das outras pessoas aqui, com ela eu posso mostrar a minha realidade vulnerável e esperar o mesmo.

- Nunca entrei lá, me mostra depois? - Proponho sorrindo e ela assente com a cabeça. - Eu posso te levar pra conhecer o resto do campus se quiser.

- Claro, mas jura que não vai me levar pra conhecer só o ginásio? - Brinca cruzando os braços.

- Só o ginásio não, respeita a minha casa. - Devolvo.

Ela ri e sem que eu percebesse, também estou sorrindo.
Enquanto me perdia nos olhos negros da moça, percebo que nos últimos dias eu tenho sorrido mais que nos últimos dois anos. Isso é assustador e também reconfortante, pois me dá a impressão de que tudo está caminhando para longe daquela nuvem escura.

Quebrando o clima feliz, uma das meninas chama Samy pra ir embora e ela pondera me olhando. Eu somente concordo e sorrio amarelo, ignorando a vontade de passar as próximas quatro horas falando com ela.

- A gente se vê na saída? - Antes que se afastasse, a brasileira me entrega o celular aberto na agenda.

- Claro, eu te espero aqui. - Digo devolvendo o celular com meu número salvo. - Até mais.

- Até ! - Ela acena já alguns passos afastada e faz meu coração se aquecer.

"Juan para com isso, não vai estragar tudo quando finalmente você encontrou uma amiga." - Meu subconsciente alerta e eu me comprometo a conter possíveis sentimentos.

🏀

"Oi vizinho, passando aqui só pra ter certeza de que não vou te esperar vão."

Eu deixo uma risada escapar ao ler a mensagem dela, mas nem tenho o trabalho de responder.

- Tava pensando em ir embora, é? - Pergunto me aproximando dela com uma cara de desconfiado.

- Claro que não. - Diz se virando pra mim e sorrindo. - Você já tá livre?

- Tô sim, me mostra o laboratório?

- Uhum, vem comigo. - A morena chama e começa a me guiar pelos corredores.

De fato a sala era enorme e repleta de materiais os quais eu não faço a menor ideia. Passei alguns minutos ouvindo Samy falar sobre como tudo isso era sonho pra ela e fico feliz por tê-la conhecido. Em cada uma de nossas conversas e em cada momento, eu tenho a certeza do quão inteligente e madura ela é.

- Acho que já vimos tudo. - Assume vindo até a mesa onde eu estava. - Para onde vamos agora?

- Olha, pelo horário... - Começo conferindo o relógio. - A gente pode almoçar antes de ir a mais lugares. O que acha?

- Por favor, eu to com muita fome. - Samy implora em tom de brincadeira e eu não seguro o riso.

- Vamos alimentar a fera

Curado Pelo Amor | Romance CristãoOnde histórias criam vida. Descubra agora