Capítulo 6

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Aproveitando o último fim de semana das férias, e a minha folga do time, decidi treinar sozinho em uma pracinha aqui perto. Mas a ideia de ir sozinho não me agradava, então tomei coragem para bater na porta de Samy e enquanto esperava, tentei fazer uma pose legal com o braço apoiado na parede. Falhei ridiculamente e antes que eu mudasse, ela aparece me olhando com um sorriso divertido.

- Oi... - Ela diz cruzando os braços.

- Eai, tudo bem? - Pergunto lhe olhando sério.

- Tudo sim, você tá vindo do treino? - Ela questiona notado a minha blusa do time.

- Não, na verdade eu tô indo. Você quer me ajudar? - Convido encostando a cabeça no batente da porta e assim como ela, cruzando os braços.

- Juan eu tenho algumas coisas pra arrumar, acho melhor eu ficar. - Diz apontando pra bagunça e eu ergo o pescoço tentando ver.

- Ah vai, quando a gente voltar eu te ajudo. - Insisto empurrando levemente seu ombro. - Te prometo um sorvete, isso é tudo o que eu tenho.

Ela ri e se rende voltando para buscar o telefone, antes de partirmos.
Durante o caminho até a quadra pública, Samy se rende me contando sobre os vestibulares e de como aprendeu inglês praticamente sozinha. Sério, eu fiquei chocado com a determinação dela.

- É sério cara, isso é insano! Aprender um idioma do zero sozinha e tirar a maior nota no exame, Samy... você é incrível. - Comento chamando ela para um toca aqui.

- Eu não consegui completamente sozinha, minhas professoras e amigas me ajudaram. - Explicou meio sem jeito.

- Tá pode até ser, mas o esforço e dedicação foram seus. Parabéns por isso! - Finalizo olhando em seus olhos, mas a moça desvia.

Quando chegamos na esquina do prédio, encontramos a quadra que já estava cheia. Samy para e pisca algumas vezes chocada. Eu apenas faço um sinal de cabeça e a chamo para se aproximar, devagar a brasileira observa tudo ao redor com cuidado e curiosidade.

- É aqui que eu sou o Juan Maria de verdade. - Assumo e ela franze o cenho.

- Maria? O seu nome é Juan Maria, mesmo? - Questiona ao entrarmos na quadra

Respondo apenas tirando a mochila apontando para minhas próprias costas onde o nome feminino estava estampado juntamente com o número três. A reação dela é rápida, as sobrancelhas se ergueram juntas e seus olhos piscam lentamente.

- Na verdade é só Juan, mas desde que a minha avó faleceu eu uso o nome dela. - Digo evitando manter contato visual por causa da vergonha.

Falar de coisas íntimas para os outros sempre foi difícil, e mesmo que eu me orgulhe muito dessa história, algo impede que eu seja completamente aberto a falar disso.

- Que bonito, eu aposto que ela ainda é a sua maior fã. - Samy comenta chamando a minha atenção.

Eu sorrio como um agradecimento silencioso e a moça faz o mesmo. As poucas palavras ditas me causaram uma sensação de conforto que não sinto à anos.
Tenho certeza que se não fossem pelos gritos e comemorações exageradas na quadra, eu ficaria meio aéreo por um tempo.

- Ei, não é melhor eu sair? Eu posso te esperar lá fora. - A menor propõe tocando meu braço.

- Você fica mocinha ! - Ordeno segurando seus ombros e a conduzindo até um canto vazio. - Preparada pra me dar alguns rebotes?

- Não. - Confessa e eu rio com sua sinceridade.

Coloquei a mochila no chão, próximo de nós, e me dediquei em explicar a Samy como me ajudar. Em algumas horas ela já conseguia fazer passes perfeitos e arriscava uma defesa. A minha surpresa foi com o seu condicionamento físico pois ela me chamou pra lançar algumas bolas, de brincadeira, e ainda assim a moça conseguiu acertar mais que eu.

- Tá, vamos dar um tempo. - Peço ofegante ao me sentar no chão da quadra vazia.

- O que... a estrela da Toronto University tá cansada? - Ela provoca enquanto prende o cabelo em um coque frouxo.

Ergo o olhar e percebo o pôr do sol atrás dela, o vento balançando seus fios soltos deixou a cena ainda mais bonita.
Sinto meu coração saltar e é estranho, como se meu corpo estivesse quente, mas não daquele jeito, e sim do jeito que me faz paralisar e não saber como agir. Sinto as pontas dos meus dedos gelarem e sou obrigado a balançar a cabeça com força na tentativa de me livrar desses pensamentos confusos.

- Quer tomar aquele sorvete? - Sugiro correndo pra pegar minha mochila.

- Claro, o perdedor paga. - Ela diz abraçando a bola e dando alguns pulinhos animada.

- Uau, não sabia que ensinar você a arremessar te tornaria uma jogadora tão esnobe. - Entro na brincadeira e saio da quadra fingindo estar chateado.

Assim que ela se aproxima eu tento imitar seu jeito de andar como pirraça e a gargalhada alta confessa o quão à vontade a brasileira estava.
Não muito longe daqui havia algumas sorveterias e como eu iria pagar, Samy ficou encarregada de escolher os sabores.

- Aqui está. - Diz ao voltar para a mesa com dois copinhos.

- Do que é isso? A cor não é bonita. - Confesso encarando a sobremesa que ela me deu.

- Prove e descubra, aposto que não é tão ruim quanto parece. - A moça tenta ajudar.

Sem opção, eu provo o sorvete que tinha gosto de chá, café, pimenta e tinta. Meu Deus, essa era de longe a coisa mais nojenta que já comi, é sério!

- A sua cara, ai... a sua cara foi a melhor. - A brasileira gargalha.

- Muito bonito, maltratando o seu único amigo aqui no Canadá. - Comento cruzando os braços.

- Relaxa Maria, essa aí é uma amostra grátis do novo sabor, o seu sorvete tá chegando. - Ela anuncia exatamente quando o garçom põe uma taça de milkshake na mesa. - Melhor?

- Muito. - Murmuro encarando a taça rosa sem reação.

Essa garota não cansa de me surpreender, não?

Curado Pelo Amor | Romance CristãoOnde histórias criam vida. Descubra agora