Drop of water

All The Things Lost

Oie gente! Mais um capítulo para vocês, espero que gostem.A música do título do capítulo é do MS MR.Boa leitura!

**

Lewis riu. O som leve e divertido se tornou macabro porque os gritos de Lydia reverberavam pela pequena garagem. Ela estava de joelhos no chão, inclinada para frente em um ângulo estranho devido às algemas que forçavam os braços para trás. Em seu desespero, a mulher encostava a testa no peito de Peter enquanto palavras de angústia eram proferidas entre os soluços altos do choro que fazia com que o tronco tremesse. Lágrimas gordas choviam sobre o corpo sem vida e ela lutava inutilmente contra a prisão dos punhos no anseio de tocar no ex-namorado e exigir que ele voltasse à vida.

— Não, não, não, por favor, v-você...

Lydia derramava o resquício de energia nas palavras repetidas e confusas. As frases se embaralhavam na cabeça e saíam entrecortadas pelos lábios afastados um do outro pelo horror que se alastrava por todo o peito. Milhões de pensamentos convulsionavam dentro de si, não conseguia processar o que estava acontecendo. Até o movimento falho dos pulmões era dolorido. Por mais que falasse, chorasse e gritasse, não ouvia a própria voz. Um apito estranho e ensurdecedor ressoava sem parar nos ouvidos.

A mulher descobriu que havia arame farpado dentro do corpo, envolvendo e esmagando o estômago, provocando uma dor quase tão forte quanto a da cabeça. Ela não via nada além do rosto desfigurado de Peter, os olhos verdes arregalados fixos naquela imagem nauseante. Poços de angústia eram cavados em seu peito e ela despencava dentro de si mesma, afundando, se perdendo em um lugar onde não havia nenhuma luz. Um lugar sem esperança, sem alívio.

Os momentos aterrorizantes aos poucos eram costurados em sua mente por uma tecelã ardilosa. As memórias recentes se fundiam a sua alma e pensamentos, unidos por linhas de titânio que se certificavam de que jamais esqueceria o terror que ainda se desenrolava no passar dos segundos. Sentia, aos poucos, o momento presente manchar seu passado e marcar seu futuro de maneira irreparável. Sua cabeça estava cheia de imagens difusas de Scott e Peter. Ondas de culpa, confusão, dor e raiva desabavam sobre o couro cabeludo e escorriam através das veias até tomá-la por inteiro.

Lydia sentiu o chão se mover sob seus pés e foi incapaz de se firmar. Tudo em seu cerne e ao redor tremia, doía e se distorcia. As confianças e os afetos estavam se despedaçando, desabando, se misturando e se afastando. Não havia mais nenhuma segurança, nenhuma verdade ou sensação de estabilidade. A vida se tornou uma habitação desconhecida, aterrorizante e incerta, o corpo não era nada além de uma prisão que a encarcerava no mundo, a impedindo de encontrar libertação da agonia sem fim.

O tempo e o espaço não faziam sentido. De repente, as concepções de lugar, presente e passado se tornaram muito fluídas e incompreensíveis. Lydia estava ajoelhada diante de Peter e então, não estava mais. Viu, sem entender, o corpo do ex-namorado ficar cada vez mais longe. Tentou se agarrar a ele, mas os pés foram suspensos e foi roubada de sentir o peso do próprio corpo. O ambiente ao seu redor se movimentou, a luz mudou de intensidade, as paredes assumiram uma nova cor, objetos surgiram e desapareceram. Um gosto amargo dominou a boca e não soube se tinha vomitado ou controlado o enjoo.

Lydia foi carregada por mãos desconhecidas e, em algum momento, os seus braços doloridos foram libertos das algemas. Ela não percebeu que foi trancada em um quarto pequeno, vazio e escuro. Levou as mãos ao rosto e se surpreendeu ao sentir as lágrimas que banhavam as bochechas febris. Sentindo-se sozinha e desorientada, deitou-se no chão e se encolheu, agarrando as pernas até encostar os joelhos contra o peito. Fechou os olhos. O desespero e a confusão debochavam de sua sanidade. Estremeceu de frio, choramingou palavras que ninguém ouviu e rezou para que tudo aquilo fosse apenas um pesadelo.