Prologue

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Não era para acontecer daquele modo.

Kath Armstrong pressionou o ventre abaulado com a mão, o rosto tenso de ansiedade, enquanto olhava mais uma vez, através da janela, a intensa tempestade de neve acompanhada por fortes rajadas de vento.

A visibilidade era tão limitada que ela sequer enxergava a cerca da pastagem, a menos de cinquenta metros de distância. A temperatura caíra vertiginosamente e, de acordo com o boletim meteorológico no rádio, era provável que aquela violenta nevasca natalina durasse o resto do dia e boa parte da noite. Não podia esperar tanto tempo. Estava em trabalho de parto, com quase um mês de antecedência.

O bebê poderia precisar de cuidados médicos. O desespero a dominou quando fechou a cortina e voltou à escura e pequena sala, iluminada apenas pelo fogo que ardia na lareira.

A eletricidade e o telefone estavam desligados havia cinco horas.

Duas horas depois, a incômoda dor nas costas, que passara a ser tão constante nas últimas semanas que ela ignorou, transformou-se em algo mais e começou a pressionar o ventre distendido.

Apenas um pouco preocupada, ela não dera importância, interpretando-a como um falso trabalho de parto, afinal ainda faltavam três semanas e cinco dias para a data prevista.

Então, meia hora antes, sua bolsa rompeu, e não havia mais qualquer dúvida: estava em trabalho de parto.

E também se encontrava sozinha e isolada

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E também se encontrava sozinha e isolada.

Aquela neve natalina, tão cobiçada por milhões de crianças, poderia significar a morte para seu bebê.

Seus olhos arderam com as lágrimas.

Suportara impassível um péssimo
casamento e o fim de suas ilusões.

Encarara a realidade de ficar sem dinheiro, sozinha e grávida.

Trabalhara longas horas como garçonete no esforço para se sustentar e dar um lar àquele bebê, embora, a princípio, tivesse se ressentido ferozmente de sua vida.

Mas então a minúscula vida começou a se mover dentro dela, pequenas e suaves vibrações no início, depois verdadeiros socos e pontapés, e tornou-se realidade, uma pessoa, um companheiro. Era seu bebê.

Ela o queria, queria abraçá-lo, amá-lo e lhe cantarolar canções de ninar.

Era a única pessoa que lhe restara no mundo, mas corria o risco de perdê-lo.

Talvez fosse um castigo por tê-lo renegado no início.

Que ironia carregá-lo no ventre todo aquele tempo, apenas para perdê-lo justo no dia de Natal! Era para ser um dia de esperança, fé e promessa, mas ela não tinha esperanças ou muita fé nas pessoas, e o futuro não lhe prometia nada, além de uma procissão interminável de dias sombrios.

Só contava consigo mesma e a pequena vida dentro dela, que estava em perigo. Podia dar à luz ali mesmo, sem ajuda.

O ambiente estava aquecido e de alguma maneira ela conseguiria manter o fogo aceso.

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