Gold

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Lin despertou Kath antes que o bebê começasse a chorar para valer e sentou-a com cuidado para que ela amamentasse a criança.

Ainda estava sonolenta, mas parecia mais alerta do que antes. Ela segurou o bebê ao peito, acariciando o rosto acetinado com a ponta do dedo, enquanto olhava para a filha.

— Que horas são?

Perguntou com um ar sonhador. Lin mudou de posição para consultar o relógio de pulso.

— Quase nove.
— Só? Tenho a impressão que dormi horas.

Ela riu.

— Você dormiu querida. Estava exausta.

Os olhos castanhos de Kath a fitaram.

— Ela está bem?

O bebê escolheu aquele exato momento para fazer um ruído com a boca quando o mamilo escapou dos lábios.

Freneticamente a boca diminuta procurou o mamilo outra vez e, ao encontrá-lo, fez outro ruído estridente.

As duas adultas riram.

— Ela é forte para o tamanho.

Disse, erguendo a mão minúscula que repousava sobre a pele de marfim, com veias azuis, do seio de Kath.

A mão era tão pequena, a palma não maior que uma moeda de dez centavos, mas as unhas estavam perfeitamente formadas e exibiam uma cor de rosa agradável.

O suor escorria pela testa de Lin, e via um brilho fino no peito de Kath, mas pelo menos o bebê estava aquecido o suficiente. Kath tentou se afastar, o olhar afiado, considerando a reação da outra, mas seu corpo protestou contra o movimento, e com um gemido ela voltou a afundar em seu peito.

— O que quer dizer com ela é forte para o tamanho? Está tudo bem, não é?
— Ela precisa de uma incubadora.

Respondeu, passando o braço em torno de Kath, sustentando-lhe o peso leve.

— E por essa razão que estou mantendo a sala bem aquecida. Ela é miúda demais para, que o corpo possa regular a própria temperatura.

O rosto de Kath, de imediato, ficou pálido e tenso. Pensara que estava tudo bem, apesar de o bebê ter nascido com um mês de antecedência.

O súbito conhecimento de que a criança ainda se encontrava em uma situação precária a surpreendeu.

— Não se preocupe.

Acalmou Lin, embalando-a.

— Enquanto a mantivermos confortável e aquecida, não haverá problema algum. Manterei uma estreita vigilância sobre ela esta noite, e assim que o tempo melhorar nós a levaremos para uma incubadora aconchegante.

Lin estudou a mãozinha frágil por mais um momento, em seguida, pousou-a com ternura no peito de Kath.

— Que nome vai lhe dar?
— Sara Namo.

Murmurou Kath.

— Sara é... era o nome da minha mãe. Mas vou chamá-la de Namo.

O rosto de Lin ficou imóvel, quase transbordando emoção pelos olhos escuros, enquanto olhava para o bebê.

— Sara com h ou sem?
— Sem.

Continuava sendo o mesmo nome, o nome que se tornara sinônimo de amor na mente de Lin. Tinha 15 anos quando sentira, pela primeira vez, um amor arrebatador e indestrutível no rosto de Sarah Matthews e percebera, então, que jamais se contentaria com menos. Era o que ela queria sentir, o que queria dar, o que queria em troca.

O amor de Sarah era imenso e poderoso, contagiando a todos que a rodeavam, porque ela o dava desinteressadamente.

Agradecia a Sarah o fato de ter se tornado uma médica, por ter terminado a faculdade em um ritmo acelerado e pela família amorosa e maior, quando antes era apenas ela e a mãe. Aquela nova vida a estava conduzindo para o tipo de amor que esperava, portanto, o nome Sara era bastante apropriado.

Lin sorriu ao pensar em Sarah segurando seu homônimo nos braços. Ela e o marido, Rome, poderiam ser padrinhos do bebê, embora talvez tivessem de compartilhar a honra com Heng e Nam Kirk, outros dois amigos muito especiais e parte da família ampliada. Ela sabia que todos receberiam Kath e o bebê, mas desejou saber como Kath se sentiria cercada por todos aqueles estranhos amorosos.

Ansiosa? Ameaçada?

Levaria algum tempo para ensiná-la a amá-la e a todas as pessoas que faziam parte da sua vida, mas tinha todo o tempo do mundo.

O resto da vida. O bebê dormia, e gentilmente o tirou dos braços da mãe.

— Namo

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— Namo.

Murmurou, experimentando o nome na língua. Sim, as duas juntas podiam encher Kath de amor.



(...)


Kath cochilou o restante da noite, e toda vez que acordava via Lin com sua filha nos braços. A imagem da mulher alta, esguia, segurando uma criança tão frágil, com tanta preocupação, lhe suscitava uma emoção que não conseguia identificar, como se algo fizesse seu peito expandir.

Ela não se descuidou um minuto sequer durante toda a noite, mantendo uma vigília constante sobre a criança e o ambiente aquecido e confortável.

Lin a erguia para que ela pudesse amamentar, sempre que o gritinho
engraçado e indignado lhe dizia que o bebê estava ficando com fome.

Em algum momento durante a noite, Lin retirara a camisa, e a vez seguinte que ela acordou ficou surpresa com a beleza primitiva da imagem que a outra compunha, sentada de pernas cruzadas em frente à lareira, a pele do colo úmido brilhando enquanto embalava o bebê. Ocorreu-lhe, então, que Lin não era como os homens, mas estava sonolenta e cansada demais para aprofundar o pensamento.

Seu corpo todo doía, e ela se sentia dominada por uma poderosa prostração que lhe mantinha os pensamentos e os movimentos reduzidos ao mínimo. No dia seguinte, teria tempo para pensar.

Havia parado de nevar ao amanhecer e o vento forte e uivante cessara.

Foi o silêncio sepulcral que a despertou.

Sentou-se com cuidado, mas estremeceu com o peso na metade inferior do corpo.

Lin deitou o bebê no colchão e estendeu o braço para ajudá-la.

— Eu preciso ir...

Começou ela, então parou de repente sem saber como poderia exprimir aquela necessidade urgente a uma estranha.

— Já estava na hora.

Disse, ajudando-a a se erguer.

Kath ficou rubra de embaraço, enquanto ela a conduzia pelo corredor escuro e estreito.

— Não preciso de ajuda!

Lin segurou-a em pé do lado de fora da porta do banheiro, até as pernas dela pararem de tremer.

— Coloquei algumas velas aí dentro ontem à noite. Vou acendê-las, depois sairei, mas ficarei aqui fora caso precise de mim.

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