No More Blues

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Lin ficou em silêncio, enquanto lhe tirava as meias grossas, sob as quais ela também usava uma malha de ginástica, que vestira ao perceber que teria de tentar chegar à clínica. Ela a ajudou a se erguer e abriu o zíper do vestido de veludo, tirando-o pela cabeça e deixando-a de pé com o pulôver de gola alta e a malha de ginástica.

— Posso fazer o resto.

Disse ela, nervosa.

— Deixe-me ir ao quarto vestir uma camisola.
— Tudo bem, se acha que pode fazê-lo.
— Claro que posso.

Vinha fazendo muito mais do que isso desde que Harry Alecki partira.

Mas mal dera dois passos quando outra contração a fez se encolher, dessa vez tão forte que a deixou sem ar.

Lágrimas involuntárias inundaram seus olhos. Sentiu dois braços em torno dela e Lin a ergueu e a colocou no colchão. Com movimentos ágeis tirou-lhe a malha de ginástica e cobriu-a com um lençol. Então, segurou-lhe a mão e a auxiliou com a respiração até que a contração cessou.

— Descanse por um minuto.

Ela a acalmou.

— Vou lavar as mãos para poder examiná-la. Eu já volto.

Kath relaxou exausta sobre o colchão, olhando para o teto manchado de infiltração, com lágrimas nos olhos.

O calor do fogo lhe aquecia o rosto, conferindo-lhe um brilho rosado à pele. Sentia-se tão cansada.

Tinha a sensação de que poderia dormir o restante do dia, mas não haveria descanso até o bebê nascer. Apertou as mãos em punhos, sentindo que a ansiedade voltava a dominá-la.

O bebê tinha de estar bem. Precisava estar. Então, a outra estava de volta, ajoelhando-se aos pés do colchão e levantando o lençol que a cobria.

Um rubor intenso tingiu-lhe o rosto. Kath virou a cabeça em direção ao fogo. Nunca se sentira muito confortável com intimidades.

Até mesmo suas visitas ao ginecologista eram ocasiões torturantes para ela.

Ter aquela mulher estranha, tocando-a e olhando-a... Lin olhou para cima, viu seu rosto corado, a expressão de constrangimento e sorriu, sentindo uma onda de ternura por aquela mulher. Parecia demasiado desconfiada, apesar de ter sido forçada a colocar seu bem-estar nas mãos dela!

Era um pouco tímida, como uma criatura selvagem que não estava acostumada a confiar em ninguém.

Também parecia assustada, pela vida do filho e pelo calvário que havia enfrentado. Por esse motivo, a examinou com extrema gentileza.

— Você não está totalmente dilatada. O bebê não está com tanta pressa, afinal. Não faça força durante as contrações. Vou lhe dizer quando deverá fazê-lo. Há quanto tempo às contrações começaram?
— Minhas costas doeram durante toda a noite passada.

Disse ela, cansada, fechando os olhos.

— A primeira contração foi por volta das dez horas da manhã.

Lin olhou para o relógio.

Ela entrara em trabalho de parto havia pouco mais de cinco horas e, talvez, ainda durasse uma hora ou mais. Não era um trabalho longo, sobretudo se tratando de uma primeira gravidez.

— Quando a bolsa rompeu?

Lin não a estava machucando, e seu embaraço foi desaparecendo.

Kath ainda se sentia sonolenta.

— Humm... há mais ou menos uma hora e meia.

Ela sentia as mãos da outra em seu ventre. Apalpadelas firmes e cuidadosas, tentando determinar a posição do bebê. A sonolência desapareceu quando sentiu uma nova contração, mas ao respirar do modo que a orientou, de alguma forma, não parecia tão dolorosa.

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