Capítulo 17 - Neve

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Do lado de fora do bar, o céu noturno estava cheio de neve caindo. O vento gelado pegava os flocos e os transformava em formas antes de despedaçá-los. A neve, leve e fina, desapareceu antes de atingir o chão.


Roseanne estava prestes a reclamar do incômodo quando Lisa suspirou audivelmente ao seu lado. Lisa, com seus grandes olhos castanhos arregalados e os lábios entreabertos, olhava para as rajadas de neve como se fossem obras de arte de valor inestimável. Como se a neve fosse um milagre.


Tirando a luva, Lisa estendeu a mão com a palma para cima para pegar os flocos. Os que pousaram sobre ela derreteram assim que encontraram o calor de sua pele.


"Nunca vi neve", sussurrou Lisa tanto para si mesma quanto para Roseanne. "É tão bonito."


Algo no peito de Roseanne ganhou vida. Uma sensação de encantamento há muito perdida. Ela olhou para as rajadas novamente com novos olhos. Com os olhos de Lisa.


Mesmo que esse sentimento não tivesse surgido em si, havia algo especial na visão. Algo sereno. Como uma bênção ou um sinal de alguma deusa há muito esquecida. Aquele que vivia na mata e tinha cabelos feitos de musgo e pele enfeitada com flores.


Sob as luzes da rua, as rajadas de neve estavam vivas e com propósito. Roseanne voltou seu olhar para Lisa. Não havia como negar que ela era linda. Ainda mais do que a neve ou a divindade conjurada pela mente de Roseanne.


Com a mesma rapidez com que chegou, a neve desapareceu até parar. Os ombros de Lisa caíram em decepção e Roseanne sentiu o desejo repentino e avassalador de controlar o clima. Para trazer o momento de volta.


Ela não podia, é claro, então elas se enfiaram no banco de trás de um sedã e voltaram para o hotel. O tempo todo, Roseanne tentava tirar o estranho formigamento do peito. Estava competindo com a constante queimação ácida em seu estômago. Afogando tudo.


De volta ao hotel, decidiram assistir ao filme no quarto de Lisa. Ela era a que tinha duas camas. Conectar o iPad de Roseanne à TV foi uma ideia genial de Lisa, mas a TV se recusou a cooperar.


"Talvez devêssemos deixar isso para outro momento", sugeriu Roseanne, os efeitos de beber três cervejas em um período relativamente curto a afetavam. Ela não estava bêbada, mas certamente não estava sóbria, e isso estava começando a parecer uma má ideia.


Estar com ela. No quarto dela. No espaço dela. Era muito íntimo. Muito perto.


Do bolso da calça jeans, Roseanne tirou uma cartela de antiácidos e pegou dois, enquanto Lisa ainda tentava conectar o iPad. Lisa ergueu os olhos da tela bem a tempo de pegá-la em flagrante. Maldita seja a cerveja por irritar seu estômago.


"Você sempre precisa de tantos desses?" Lisa olhou para ela tão atentamente. Tão profundamente. Como se ela estivesse tentando mergulhar abaixo de sua superfície. Como se ela estivesse prestes a implodir de empatia e preocupação.


"É apenas uma crise de gastrite." Foi apenas meia mentira. Ela sofria de problemas estomacais há anos, mas apenas em épocas de grande estresse. Tudo começou quando sua irmã ficou doente e Roseanne desenvolveu uma úlcera. A última vez que foi tão ruim foi enquanto ela estudava para o exame da ordem.


Então Megan apareceu em sua porta e trouxe consigo a dor de volta.


"Estou bem", ela retrucou para garantir.


Lisa posicionou o tablet em cima de um travesseiro no centro da cama.


"Existem posturas de ioga para acalmar o ácido no estômago." Ela se mudou para o espaço entre as camas como se quisesse mostrar alguns movimentos naquele momento. "Fico feliz em te ensinar..."


Roseanne deu um passo para trás, mas não antes de Lisa invadir seu espaço. Ela era uma chama bruxuleante que trazia calor, perfume doce e uma agitação indefinível.


"Isso não vai funcionar", disse Roseanne, mais friamente do que pretendia. "A smart TV não faz jus ao nome."


Roseanne sabia que estava sendo bruta, mas sentiu uma vontade incontrolável de correr. Sua presença na sala, sua proximidade com Lisa, parecia perigosa de uma forma que Roseanne não conseguia definir.


Lisa hesitou, arregalando os olhos. "Eu ia colocar no iPad para a gente assistir nele mesmo, já que a TV não funciona", Lisa apontou para a cama perto da janela, "mas claro. Ok. Talvez outra hora.


Por que Lisa tinha que exibir todas as emoções em seu rosto? Ela alguma vez já reprimiu alguma emoção? Mesmo que apenas uma vez? A decepção emanava dela, o que não seria problema de Roseanne se não estivesse se infiltrando nela como um contágio.


Ela realmente esperava que Roseanne sentasse naquela cama com ela? A julgar pelo esmaecimento de seus grandes olhos suaves...aqueles que a seguiram quando ela saiu da sala, era óbvio que sim.




Deixa um voto? Me digam se estiverem curtindo, por favor. =)

Amantes (ChaeLisa)Onde histórias criam vida. Descubra agora