A investigadora Jessie Gláuks estava certa sobre sua previsão de que não iria conseguir desvendar o caso do assassinato da Festa da Fogueira. Após ser deixada para trás pelos paladinos Boi e Dragão concluiu que o caso já não era mais tratado com importância pelo Patriarca, o líder da ilha. Deste modo, tomou a decisão de arquivar o caso.
–Será que vou conseguir dormir sabendo que tem um caso que não consegui resolver?
Jessie era brilhante e nunca encontrou um quebra-cabeça que não pudesse resolver, inclusive teve um caso que passou dois anos investigando até que o desvendasse. Mas isto havia sido na capital Lenmos e ela não pretendia passar todo aquele tempo na cidadezinha Martelo.
–Eu juro que um dia ainda irei desvendar este caso. Nem que pra isso eu tenha que vir pra cá todo ano na Festa da Fogueira.
O assassino tinha matado dois rapazes gays em dois anos seguidos, era plausível acreditar que ele tentaria novamente no ano seguinte. Deste modo, foi anunciado oficialmente que o caso fora arquivado.
Os pais da vítima ficaram revoltados, mas logo se acalmaram, pois tiveram a sensação de ciclo encerrado. As pessoas aos poucos pararam de falar do assunto e seguiram com suas vidas.
Com tudo voltando ao normal as atividades da escola Valentes retornaram a ativa, incluindo as competições esportivas. O time de basquete voltou a treinar e de modo redobrado. Antônio estava sem tempo nem pra respirar.
–Eles vão se matar desse jeito –Luiz reclamou no refeitório.
–Eles dão conta. Você só está chateado pelo Antônio não ter muito tempo pra te dar atenção –Brenda o alfinetou com um sorrisinho venenoso.
–Você não tem nenhum professor pra dar em cima não? –Luiz contra-atacou.
–Ei! Ok. Você ganhou essa.
Brenda estava gostando muito de seu retorno as aulas e ter virado amiga do Luiz. Os dois adoravam ficar trocando veneno enquanto o Antônio ficava desesperado achando que as brigas eram sérias, em seguida os dois caíam na risada pela preocupação dele.
O que a garota não iria admitir é que pensou várias vezes em ir até a casa do professor Ricardo. "Melhor deixar as coisas como estão afinal ele vai embora. Deixarei que nossa última lembrança tenha sido na delegacia. Ao menos, espero que ele seja feliz, mas que nunca esqueça de mim".
O bondoso professor Ricardo estava voltando para a capital para tentar se reconciliar com sua esposa. Naquela manhã estava sorrindo lendo uma mensagem enviada por ela.
–É um menino e se chamará Benedito que significa abençoado.
Sua participação nessa história simples na cidade Martelo estava terminando, agora ele desejava retornar para sua antiga vida e tentar concurso para se tornar um professor universitário. Já gostaria de ter ido embora antes, mas preferiu esperar que o caso do assassinato do Arthur fosse solucionado, afinal como um suspeito não queria dar mais motivos para a investigadora Jessie Gláuks o perseguisse.
Ricardo pegou um trem junto com a maior parte de sua bagagem. Enquanto observava o horizonte tinha uma preocupação que afligia seu coração. Ele torcia que desse tudo certo no transporte clandestino do restante de sua bagagem, principalmente com os dois potes de vidro cheios de uma mistura de formol e outros conservantes que preservavam os tecidos das cabeças de dois garotos gays que ele tinha matado e decapitado.
Luiz voltou para sua casa sem ter trocado muitas frases com o Antônio, o que o deixou meio pra baixo. Sozinho tirou um tempo para refletir sobre sua vida. Nunca tinha parado para pensar se era gay. Cada um tem sua própria experiência, a maioria sabe desde sempre, outros se descobrem ao longo da vida, mesmo que lutem contra o que sentem.
Ser gay não era um problema para Luiz, mas era algo novo que estava aprendendo a lidar. Cansado de debates internos sobre sexualidade, autoestima e se aguentaria ou não a rola enorme do Antônio dentro dele, o baixinho resolveu sair para matar o tempo.
Chegando ao shopping andou por algumas lojas sem muita pretensão até que avistou o Marcus sentado num banco tomando milk-shake enquanto olhava fixamente para um corredor que dava nos banheiros.
–Nossa, nunca ouvi falar na modalidade esportiva de encarar um banheiro.
–Hã? Opa, pequeno príncipe. Senta aí! Tudo bem com você? –Marcus o cumprimentou sempre simpático e com uma energia envolvente.
–Estou bem. E você? –De repente veio a mente de Luiz o motivo do outro estar encarando o banheiro e ficou vermelho –Não me diga que estou atrapalhando aquele seu jogo com o Benjamim?
–Não é nada disso –Marcus deu um sorriso abatido –E o Benjamim se mudou para Lenmos.
–Eita. Foi mal.
–Não se preocupe. Não é nada de mais.
Marcus dizia aquilo, mas seu olhar mostrava o contrário. Luiz não precisava ler mentes para entender que ali tinha uma história interrompida pela metade.
–Agora só quero seguir em frente. Aí estou olhando para esse banheiro e pensando se tenho coragem de ir lá fazer uma brotheragem com um cara aleatório. Provavelmente um homem casado incubado de curte espiar paus nos mictórios.
–Eu acho que você merece mais do que isso. Um cara cor de âmbar lindo e popular como você pode conseguir um namorado rapidinho.
Marcus rapidamente tapou a boca de Luiz como se este tivesse falado que ele tinha assassinado alguém ou roubado um tesouro de algum banco.
–Fala baixo. Não quero que as pessoas saibam que curto homens.
Luiz namorava escondido com o Antônio, mas nunca pensou que o Marcus seria mais incubado do que ele. Alguém que exalava confiança e sensualidade brincando ao flertar com todo mundo na escola na verdade tinha um medo absurdo de ser descoberto?
No final das contas, os dois conversaram por um tempo e depois Marcus foi ao banheiro e demorou muito pra voltar. Luiz ficou se perguntando se ele tinha tido uma dor de barriga ou se realmente estava fazendo brotheragem. A imaginação sobre a fantasia sexual o deixou ofegante, mas ele sacudiu a cabeça e foi embora antes que seu pau completasse a ereção.
A conversa com o Marcus o fez se questionar por quanto tempo manteria seu relacionamento em segredo. Será que ele e o Antônio ficariam sempre as escondidas? Luiz deixou essa preocupação de lado, mal tinha uma semana que tinham nomeado como namoro sua relação.
Uma mensagem chegou no celular de Luiz, era um convite:
–Não perca nesse fim de semana a festa de comemoração da vitória do time de basquete. Contamos com sua presença. Traga sua bebida. Local...
Luiz riu, eles ainda nem tinham jogado e já estavam marcando a festa da vitória. Aqueles atletas se achavam de mais. No convite tinha uma foto do time, lá estava o mais alto deles no meio, Antônio, o gigante.
Luiz respondeu a mensagem confirmando sua presença na festa. O garoto também decidiu que pela primeira vez iria assistia ao jogo e torcer loucamente pelos Valentes.
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Amor Gigante
RomanceDois rapazes completamente diferentes encontram um no outro um porto seguro e aos poucos vão entendendo que "tamanho não é documento" principalmente quanto a questão é o amor. Venha aquecer seu coração com a história de amor de Antônio e Luiz. (Hist...