Capítulo 06: Brenda

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A garota mais inteligente do bairro, a esperança da família, a única que seria alguém na vida. Brenda tinha muita pressão sobre suas costas, ainda assim, seguia conseguindo dar conta de todas as expectativas.

Foi quando iria para oitava série que mudou de escola pulando direto para o primeiro ano do ensino médio. Pensou que ficaria deslocada, mas logo no primeiro dia se aproximou de Antônio, o conhecido gigante. Inicialmente ela pensou em investir nele como um peguete, mas conforme o tempo foi passando e a proximidade aumentando, a amizade se instaurou com força.

Aqueles dois logo se tornaram inseparáveis. Todos os shippavam esperando o dia em que revelariam ser um casal. Aquela história só parou quando a Brenda começou a pegar outros caras.

–Desculpe por te fazer ficar com fama de corno –Ela disse ao amigo.

–Não tem problema. A gente sempre deixou claro que não éramos um casal.

–Se quiser posso ajeitar uma amiga pra você.

–Me poupe. Não preciso desse tipo de coisa.

–Isso é verdade. A maioria das garotas só falta esfregar a xereca na sua cara. O astro do time de basquete.

Antônio riu sem graça. Só o fato de fazer parte do time já o tornou popular, mas a coisa alcançou outro patamar quando um colega na zueira tirou uma foto dele pelado e vazou pra geral. O nudes do gigante foi um sucesso.

–Que lapa de rola da peste!

–Não sabia que podia entrar armado na escola.

–Um tripé?

Os comentários e piadas duraram por semanas até outra fofoca tomar o seu lugar. Nesse tempo Antônio teve que suar muito pra escapar da mulherada, ainda assim ficou com umas três pra disfarçar sua sexualidade. Não transou, mas as garotas ainda deram uma apalpada na sua enorme jeba.

Certo dia, cansado de tudo aquilo, Antônio pensou num crush do passado e rabiscou em seu caderno: T & Z. Se ele pudesse ficar com alguém com certeza seria com o Luizinho.

–Quem é Z? –Brenda perguntou arrancando o caderno das mãos do rapaz.

–Me devolve isso!

–Meu Deus, você tem um amor secreto! Mas quem diabos começa com Z?

–Não é ninguém que você conheça. Apenas uma pessoa que eu gostava.

–Gostava ou ainda gosta?

–Eu... A gente não se fala mais.

Por muito tempo Brenda tentou descobrir quem era Z, mas ao ver que o amigo estava ficando desconfortável parou de insistir.

Antônio não era muito bom nos estudos, mas com a ajuda da Brenda nunca ficou de recuperação em nenhuma disciplina.

–Estou muito estressada. Tudo que eu queria agora era quicar com força no professor gostoso –Brenda admitiu na biblioteca estudando com Antônio.

–Se o professor Ricardo escutasse isso.

–Sabe, Antônio? As vezes cansa ser a menininha perfeita. Eu juro que se tiver oportunidade pelo menos uma vez vou fazer safadeza com aquele gostoso.

–Menininha perfeita pra quem não te conhece direito, né? Sábado passado você não disse que transou com o guarda da pracinha?

–Foi só uma rapidinha, nem conta direito.

Os dois caíram na rizada e foram expulsos da biblioteca. Brenda as vezes costumava aprontar alguma coisa mesmo que mais ninguém fosse ficar sabendo, uma forma de se rebelar em segredo.

A única pessoa que sabia tudo a seu respeito era o Antônio. Por isso ele estranhou quando ela apareceu grávida e não quis contar quem era o pai. Ele desconfiava que podia mesmo ser o professor Ricardo.

Antes fosse do professor. Brenda pensava. Ela tinha um ótimo motivo pra não revelar para Antônio quem era o pai: a verdade era que ela não sabia. Brenda tinha viajado para passar um fim de semana na cidade vizinha e simplesmente fez seu maior gesto de rebeldia, distribuiu o priquito pra geral. Universitários, garotos sem rosto e sem nome, foram uns quinze diferentes em apenas dois dias. Se ela tivesse que descrever pelo menos um deles ela não conseguiria.

Sua vida se despedaçou, sua família a recriminou e exigiu saber quem era o pai. Ela se recusou veementemente em revelar, afinal não sabia. Era melhor que todos achassem que ela estava defendendo alguém do que a verdade.

A garota estrela da escola Valentes estava grávida, provavelmente de um homem casado, era o que todos diziam. Todos menos o Antônio.

–Não sei o seu motivo de não querer me contar, mas respeitarei sua decisão. Você não está sozinha, pode contar comigo pra tudo.

Por que aquele bebê não podia ser do Antônio? Seria tão bom se fosse dele. Ela chorou abraçada ao seu melhor amigo diversas vezes. No final decidiu manter a gravidez e quando estava com oito meses a sua bolsa estourou quando estava sozinha em casa.

Seus pais estavam presos num engarrafamento do outro lado da cidade, então ela ligou para Antônio que chegou quase ao mesmo tempo que a ambulância.

–Brenda! –A voz dele gritando seu nome foi reconfortante.

–Antônio! Deixem-no entrar! Deixem-no entrar!

Dois caras entraram na ambulância, Antônio e outro que ela conhecia de vista da outra turma, mas não sabia o nome.

–Vai ficar tudo bem! Eu estou aqui –Antônio dizia segurando a mão dela.

Brenda chorava de dor, medo e de arrependimento. Como ela foi se meter naquilo? Como podia nem se quer saber quem era o pai do seu bebê? E em meio tudo aquilo ainda só conseguia pensar que se pudesse fazer apenas uma coisa antes de morrer seria quicar na rola do professor Ricardo.

A ambulância seguiu para o hospital.

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