× prólogo ×

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O ar da noite estava frio quando Hongjoong saiu de uma casa que não era sua enquanto desejava que tivesse chamado Mingi para ajudá-lo naquele trabalho. Apesar de não ter sido um contrato difícil de cumprir, as coisas sempre ficavam mais simples quando estava acompanhado e facilitaria sua vida se não tivesse que restringir um homem adulto por conta própria. Seus braços estavam cheios de arranhões da vítima que estava desesperada para escapar, e o vento frio fazia com que os cortes ardessem.

Não foi um trabalho fácil. O contrato pedia que cobrasse uma dívida, então Hongjoong prendeu o homem ao mesmo tempo em que esperava pela mensagem de confirmação de pagamento antes de libertá-lo. Quando o fez, as unhas curtas já tinham causado um estrago no braço que o segurava contra a parede.

Ele sabia que seria mais fácil se tivesse trazido Mingi, mas o pagamento oferecido mal o sustentaria pelas próximas duas semanas, quanto sobraria se ele precisasse dividir?

Bocejando, Hongjoong avançou pelas ruas da parte nobre de Seoul com as mãos enfiadas nos bolsos, lutando para se manter em alerta enquanto as pessoas passavam sem prestar atenção, admirando vitrines e letreiros neon de lojas que a maioria da população não tinha condições de entrar, visto que gastavam dinheiro em tratamentos caros para a Doença da Pétala ou para lidar com as sequelas, economizando até na hora de comer.

A transição entre as partes da cidade ficava cada vez mais notável conforme as ruas espaçosas eram substituídas por becos e ruelas cada vez mais estreitos, de modo que os letreiros e vitrines luxuosas davam lugar a prédios cinzas, velhos e malcuidados. As pessoas, antes cheias de vida e curiosidade permitida pela facilidade de viver sem se preocupar com a sobrevivência, se tornavam rostos cada vez mais cansados ao passarem por Hongjoong, sem tempo para se incomodar com qualquer coisa além de si mesmos e os seus.

Ele não demorou para chegar ao destino, um prédio escondido no meio de tantos outros cujos andares pareciam empilhados, como se fossem recortes malfeitos e cobertos com a tinta envelhecida que já se desgrudava da parede. Ao entrar, seguiu em silêncio pela recepção vazia, visto que o porteiro estava, provavelmente, ocupado com seu segundo emprego de fornecedor de drogas. A escada de madeira rangia conforme ele subia até o quarto que alugava há pouco mais de oito meses.

Em questão de qualidade, tanto o prédio quanto o quarto estavam longe do ideal para qualquer pessoa que quisesse manter o mínimo de dignidade, mas era perto o suficiente para que Hongjoong pudesse ir até o centro da cidade sem problemas e escondido o suficiente para não atrair suspeitas. Além disso, dignidade era um conceito que o rapaz já tinha deixado de lado há muito tempo.

O quarto cheirava a mofo quando ele entrou, cheirava assim antes de ser alugado e provavelmente continuaria cheirando quando conseguisse renda o suficiente para ir embora. Ele passou uma semana doente quando começou a alugá-lo, até seu corpo se acostumar e criar anticorpos o suficiente para lidar com o constante odor e efeitos do mofo. Hongjoong trancou a porta e tirou os sapatos, trocando-os pelo par de chinelos surrados encostados na parede ao lado da entrada.

Andando pelo cômodo minúsculo, o rapaz foi tirando as peças de roupa e jogando-as na beliche desmontada no canto do quarto, ao mesmo tempo em que dirigia-se para o banheiro na intenção de tirar o suor do corpo. A água fria era bem vinda, tirando a sujeira do dia e permitindo que relaxasse pelo menos um pouco enquanto se lavava. Não se deixou demorar, o prédio cobrava um adicional se os moradores usassem mais do que uma certa quantidade de água, e não podia se arriscar a perder um dinheiro que nem tinha.

Com a toalha pendurada no pescoço, ele usava uma mão para secar o cabelo enquanto a outra configurava a minutagem no microondas para fazer um lamen, subindo na beliche em seguida e jogando as roupas sujas no cesto. Hongjoong dormia na beliche de cima e escondia suas armas e todo tipo de equipamento que não podia ser encontrado por qualquer pessoa em compartimentos secretos debaixo do colchão. A beliche de baixo havia sido restaurada para acomodar seu computador e otimizar espaço.

O rapaz ainda secava o cabelo quando pegou o celular, vendo a mensagem que o notificou de um novo pagamento em sua conta ao seguir até o computador para ver se tinha mais algum contrato disponível. O microondas apitou e ele deixou o computador ligado enquanto ia até o balcão pegar o seu jantar. Com o lamen em mãos, ele se acomodou na cadeira pouco confortável e começou a procurar por novos contratos enquanto comia, queimando a língua de vez em quando por estar alimentando-se mais rápido do que o esfriar do macarrão.

Depois de algum tempo e com a embalagem do lamen vazia descansando no chão próxima ao pé da cadeira, um contrato finalmente chamou sua atenção. Não tinha informações além de ser um roubo e o local de encontro com o contratante, prometendo um pagamento generoso. Hongjoong já sabia que deixar-se atrair apenas pelo dinheiro nesse ramo podia ser um erro que se comete apenas uma vez, mas ele era experiente e o dinheiro se fazia necessário, considerando que os contratos mais recentes mal estavam pagando seu aluguel por mais de um mês. Caso continuasse assim, acabaria sem um lugar para morar mais uma vez.

Era um risco, Hongjoong sabia que era, mas, olhando para a promessa do pagamento, ele se perguntou se não valia a pena pelo menos tentar.

Hongjoong definitivamente não estava vestido para aquele tipo de ambiente.

Ao procurar pelo endereço contido no contrato, ele não esperava que o ponto de encontro fosse uma das boates mais caras da cidade. Avançando pelo espaço luxuoso, o rapaz se afastava da multidão enquanto procurava por uma pessoa com uma rosa azul em seu bolso. Não demorou para achá-lo, era um homem que aparentava já ter passado dos 40 anos e que vestia um terno cinza que parecia caro, cujo detalhe era uma rosa azul em seu bolso, enquanto uma bebida descansava na mesa em sua frente. O homem usava uma máscara preta que cobria a parte inferior de seu rosto, a ponta do dedo indicador batia na mesa ao lado do copo de vidro. Hongjoong se aproximou da tal figura masculina ao se afastar da pista de dança, com uma música popular tocando alto. O homem desviou os olhos da mesa para ele quando percebeu sua presença.

Hongjoong não hesitou quando chegou perto o suficiente para ser ouvido.

— Você é o contratante?

O homem arqueou uma das sobrancelhas e Hongjoong reparou em uma pinta que ele tinha ao lado da sobrancelha direita.

— É assim que você fala com a pessoa que pode pagar o suficiente para te sustentar pelos próximos anos se for competente?

Hongjoong revirou os olhos, mesmo que não pudesse ser visto na área pouco iluminada.

— O jeito que falo não tem nada a ver com o quão bom sou no meu trabalho. E eu sei que sou muito, muito bom.

O homem soltou uma risadinha antes de gesticular para a cadeira em sua frente.

— Sente-se, nós temos muito o que discutir.

───── continua...

Notas da autora

Para o prólogo foi isso, meus amores. O que acharam? O que esperam? Me contem, me contem. Esse capítulo foi betado por serpentae do Sunivers13,  que tem me ajudado muito a evoluir na minha escrita. As atualizações serão todas às quarta feiras, então espero por vocês.

São mais que bem-vindos a comentar e interagir, eu amo ler tudo que vocês comentam. Links para a playlist da fic, meu twitter e meu curious cat estão no carrd na minha bio. Além disso, eu tenho algumas oneshots e shortfics postadas no meu perfil e vocês são mais que bem vindos a conhecer.

Beijão, anjos, e até a semana que vem ❤️.

OUTLAW | SEONGJOONGOnde histórias criam vida. Descubra agora