Cᴀᴘɪ́ᴛᴜʟᴏ 1. Aɴᴛᴇs

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A lua já está no ponto mais alto do céu

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A lua já está no ponto mais alto do céu...

O frio da noite cobre a minha pele infantil e frágil, fazendo-me tremer. O vento está como o de cemitério, lento e assustador. Olho em volta, tentando esconder meu medo do inevitável que se repete toda semana nas sextas-feiras. A rua está vazia, não sei que horas são, mas é tarde o suficiente para só estar eu e a minha mãe, paradas em frente à casa do homem no qual ela me deixa toda sexta...me admira que ela faça isso só por algumas notas de 20. E toda noite de sexta...o mesmo pesadelo se repete, como um loop eterno, do qual uma criança de 12 anos jamais merecia passar.

Muitas vezes, já em casa, quando reclamo para ela das dores que aquele homem me causa...dos toques desconfortáveis, apelidos que me chama, carícias em lugares que eu sinto que não deveriam ser tocados... Ela apenas me repreende, dizendo: "𝑄𝑢𝑎𝑛𝑑𝑜 𝑣𝑜𝑐𝑒̂ 𝑐𝑟𝑒𝑠𝑐𝑒𝑟, 𝐽𝑒𝑛𝑛𝑒𝑡, 𝑣𝑎𝑖 𝑒𝑛𝑡𝑒𝑛𝑑𝑒𝑟 𝑝𝑜𝑟𝑞𝑢𝑒 𝑚𝑎𝑚𝑎̃𝑒 𝑓𝑎𝑧 𝑖𝑠𝑠𝑜..."

É o que ela diz, mas, de todo coração, espero nunca conseguir entender....

Mamãe, apressada e aparentemente nervosa, começa a bater à porta com mais força. O homem assustador ainda não a abriu. E eu desejo que continue assim.
Ela bate novamente, desta vez com mais força. Fica com raiva quando vê que ele não atende e dá um soco na porta. Me encolho no chão, com medo da sua irá.

Mamãe pega o telefone do bolso e começa a digitar, depois o põe na orelha. Quando ele atende a ligação, ela começa, em sussuros:

- Porra, onde você está?! A sua "princesa" já está aqui, idiota!

Sinto um aperto no peito ao ouvir o apelido "princesa"... pois sei que está se referindo a mim. Ele também me chama assim.

Ela dá uma risada que soa como um deboche e depois diz:

- Você estava dormindo? Bom... não me interessa! Ela já está aqui, faça o que quiser e me dê meu dinheiro!

Ela desliga o aparelho e o guarda no bolso novamente. Já consigo ouvir os passos dele se aproximando da porta, decorei o som de cada passo dele... a angústia vai aumentando enquanto ouço ele se aproximar. A sensação é de um fogo infernal queimando minha pele....

Metafórica e quase literalmente....

Ele já está na porta e a maçaneta está virando. Tudo isto, para mim, se passa como uma cena macabra de um filme em câmera lenta. Cada instante, segundo, movimento, já se repete há dias e é sempre a mesma cena... me sinto infeliz em já saber sempre o que vem a seguir.

- Boa noite, Sra. Andsom. E...- ele mira os olhos em mim, que agem como flechas. - E princesinha. Boa noite.

As lágrimas começam a escorrer dos meus olhos. Escondo a minha cara dentro da camisa. Sinto as mãos da minha mãe nas minhas costas, empurrando-me para dentro da casa.

𝚄𝚖 𝚁𝚘𝚖𝚊𝚗𝚌𝚎 𝙰𝚋𝚜𝚝𝚛𝚊𝚝𝚘Onde histórias criam vida. Descubra agora