Cᴀᴘɪ́ᴛᴜʟᴏ 8.

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Não voltei para casa na noite passada, em vez disso, dormi no quarto de hóspedes aqui da casa da minha irmã

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Não voltei para casa na noite passada, em vez disso, dormi no quarto de hóspedes aqui da casa da minha irmã. Agora, Késia e eu, estamos na cozinha, lavando os pratos do almoço. A noite passada foi divertida, tirando a parte do meu desabafo. Descontraimos, encomendamos uma pizza e bebemos uma garrafa de vinho que ela tinha em sua adega. Depois jogamos uns jogos online em dois pc's que ela tem em casa. Agora estou lavando os pratos do macarrão que comemos no almoço e ela está ao lado secando.

- Sabe o que essa noite me lembrou? - comento, sorrindo, mas mantendo os olhos nos pratos.

- Não. O quê?

Percebo que ela para de secar a louça e presta atenção em mim. Enquanto passo a esponja num garfo, concluo:

- Lembrou nosso aniverasário de 10 anos. Lembra?

- Own! - ela geme. Seus olhos brilhando e um sorriso encantador surge em sua boca. - Foi mágico, né? Mamãe convidou todos os nossos amigos e comprou umas quantas pizzas.

Meu sorriso desaparece e é substituído por uma mórbida tristeza.

- Seus amigos. Corrigindo.

- Ah, me desculpa, eu...- ela balança a cabeça e volta a secar a louça, parece envergonhada por falado o que falou.

Foi lindo lembrar da nossa festa de 10. Brincamos, comemos, sorrimos. Pela primeira vez, em vários anos da minha infância, eu estava sorrindo de verdade, mas... Os "amigos" que Késia menciona eram apenas dela. Eu não tinha amigos de verdade no fundamental. Até conversava com algumas outras garotas na hora do lanche, mas não passava disso. Apesar do peso, não quero que Késia se sinta culpada por ter sido mais bem tratada pela mãe e pelo mundo do que eu.

- Não tem problema, Késy. Não tens culpa. A festa foi divertida... Foi uma várzea. - digo, forçando uma risadinha, quero que ela sinta-se feliz em lembrar desse momento.

- Éh, realmente, foi uma várzea. Uma várzea boa.

Suspiro uma risada breve.

- 𝑇𝑜𝑢𝑐ℎ𝑒́! - pego o último garfo na mão e o estendo. Mostrando-o para a Késia. - Último garfo da pia.

Ela ri e pega o garfo da minha mão, depois o seca e guarda na bacia com as louças.

• • •

Késia botou um programa de comédia para passar na TV, mas não estamos dando muita atenção ao programa, estamos mais focadas em conversar. Durante o assunto, Késia recapitula uma palavra que eu soltei a poucas horas atrás.

- 𝑇𝑜𝑢𝑐ℎ𝑒́. Falamos muito essa palavra nos treinos de esgrima.

- Sério? Em qual momento? - minha pergunta soa o mais honesta possível, afinal, eu sempre usei essa palavra sem saber o seu significado.

Késia se ajeita no sofá antes de começar a me explicar.

- 𝑇𝑜𝑢𝑐ℎ𝑒́ significa "toquei". Durante os treinos, tentamos impedir que o oponente nos toque com a espada. Com isso, é necessário que, quando você ou o oponente conseguir encostar, grite "𝑇𝑜𝑢𝑐ℎ𝑒́!" Ou seja "𝑇𝑜𝑞𝑢𝑒𝑖!"

- Que massa! Eu adorei!

Késia sorri.

- Agora me diga você, mana. Me fale uma curiosidade do mundo artístico.

- Do mundo artístico? Hum..- paro e penso um pouco sobre a pergunta. Apesar de eu ser pintora, meu conhecimento sobre fatos e curiosidades do mundo da arte não são muito vastos. Porém, a arte é profundamente antiga e vasta. 𝐸𝑢𝑟𝑒𝑘𝑎!

- Ao contrário do que muitos pensam, a arte não é algo que o ser humano moderno ou de poucos séculos atrás criaram. A arte, essencialmente, teve sua primeira aparição em uma caverna à 45 milhões de anos atrás.

- O QUÊ?! - Késia se joga para trás no sofá, com os olhos arregalados. Pasmada com a informação. - E quem pintou isso? Um dinossauro?

- Por incrível que pareça, não. A pintura era um javali de 136 centímetros de comprimento por 54 de altura. Pintado por um neandertal, na pré-historia.

- Nossa, isso é impressionante! - diz ela, com as duas mãos na boca. Amo ver como minha irmã se satisfaz falando comigo. Como se sente feliz por um simples comentário ou algo que eu digo. Ela me faz eu me sentir confortável. Melhor. Se eu precisasse reencarnar e escolher alguém para ser minha mãe, escolheria minha irmã. - É tão lindo ver que a humanidade e algo tão belo como a arte têm uma conexão tão antiga...

- E duradoura. - completo.

O telefone da Késia toca no mesmo instante que completamos o assunto. Ela pede licença e se afasta do sofá para atender. Fico sentada, ouvindo a conversa.

- Ah, tia Lucy! - exclama Késia ao atender. Lucy é nossa tia, irmã da nossa mãe e mãe do Alan, nosso primo. Me pergunto o motivo da sua ligação em tal hora. Fico atenta, observando Késia andar em círculos pela sala enquanto escuta Lucy falar algo. Faço sinal para que Késia ligue o viva-voz. Ela o faz.

- Eu tentei evitar que ele viajasse esse ano, uma vez que sua saúde está pior, poderia representar um risco para vocês, meu amor. - diz Lucy. Késy faz que não com a cabeça, obviamente, Lucy não pode ver. Mas Késy diz em seguida:

- Tia, não tem problema, pode deixar ele vir se quiser. Prometo que não deixarei ele sem os cuidados necessários. - percebo no tom de voz da Késy e nas suas expressões, que ela está falando isto apenas por educação.

A tia fica um tempo em silêncio. Parece pensar.

- Você tem certeza que não se incomoda? Ele está tomando quatro remédios. Dois de dia e dois de noite. Ele não pode perder o horário das medicações, é essencial!.

- Cla-claro, titia, tudo bem. - Késy responde, hesitante, quase querendo negar. Sendo eu no lugar dela, responderia que entendo a situação e que é melhor que ele não viajasse.

- Tá bom então, meu amor. Muito obrigada! - diz Lucy. Késia retribui o agradecimento e depois desliga. Logo deixa os braços suspenderem nos ombros e me olha com feição emburrada. Apenas franzo o cenho e digo:

- Por que não negou?

Ela geme.

- Errei, fui ingênua demais. Fiquei com medo de dizer "não" e parecer grossa. Acabei de aumentar minha responsabilidade em 100%.

Késia se joga no sofá, pondo a mão na testa em seguida.
Quase que inconscientemente, começo a passar as mãos nos meus joelhos.

- É tenso. - solto. - Eu vou voltar para casa hoje, mas prometo que volto daqui algumas semanas para te ajudar com ele.

Késia assente e sorri, ainda meio tensa.

- Tá bom, muito obrigada. Não sei o que eu seria sem você.

Abro um sorriso largo e sinto minha bochecha avermelhar.

- E eu não sei o que eu seria sem você, minha tarada.

Em seguida pulo nela e abraço. Um abraço doce e amigável. Um abraço da minha única e melhor irmã.

𝐉.𝐆 𝐂𝐨𝐬𝐭𝐚

𝚄𝚖 𝚁𝚘𝚖𝚊𝚗𝚌𝚎 𝙰𝚋𝚜𝚝𝚛𝚊𝚝𝚘Onde histórias criam vida. Descubra agora