CAPÍTULO QUINZE

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OLHOS COR DE ESMERALDA

   Meus olhos estavam inchados de tanto chorar. Ali, me encarando no espelho do banheiro, estava um Danilo trêmulo e ensanguentado. No meu pescoço, havia um pequeno furo por onde escorria um filete de sangue. Minha mão estava muito mais danificada, com um buraco através do qual eu conseguia ver o outro lado. A dor já havia desaparecido há muito tempo, graças aos remédios que Raissa me deu. Eliana estava atrás de mim, esperando para fazer um curativo. Nós três estávamos sob o olhar de Ricardo. Meu noivo estava parado na porta, de braços cruzados, esperando que eu terminasse meus curativos.

   Em silêncio, Eliana iniciou a atadura e, em poucos minutos, meu machucado estava limpo e enfaixado. Raissa pegou um pano e limpou meu pescoço e rosto, onde o sangue da cabeça daquele homem havia respingado em mim. Quando terminaram, as duas pediram licença a Ricardo e saíram do banheiro, nos deixando a sós. Ele se aproximou de mim, enquanto eu ainda mantinha a cabeça baixa. Estou tentando não pensar no assunto, mas tenho medo de olhar nos olhos de Ricardo e ver aquele monstro que me atacou. Por que eles tinham que ter a cor dos olhos parecida?

   — Danilo? — Ele se ajoelhou à minha frente e eu fechei os olhos, sentindo uma lágrima escorrer. — O que foi, meu amor?

   — Os olhos daquele homem eram verdes iguais aos seus. — disse, minha voz rouca e chorosa. Ricardo suspirou. — Não quero te olhar e ver aquele monstro. Eu não quero isso, Ricardo.

   — Você não vai ver, Danilo. Eu sei que você vai saber diferenciar. — ele tocou meu rosto, seu toque me acalmando. Ricardo beijou minha mão machucada, que ele colocou em seu rosto. — Olhe para mim, Danilo.

   Engolindo em seco, lentamente abri meus olhos. Primeiro, enxerguei tudo embaçado e, conforme minha visão voltou, encarei o rosto do meu noivo. Primeiro a boca, tão linda, macia e beijável. Depois o nariz, protuberante e charmoso. Por fim, encarei seus olhos, aquele par de orbes esmeraldas que tanto me fascinavam. Abri um sorriso ao perceber que eram diferentes dos daquele monstro. Os de Ricardo eram muito mais bonitos, com um toque azulado em meio ao verde. Ele sorriu ao perceber que eu estava bem e se levantou, me dando um beijo.

   — Eu fiquei com tanto medo. — disse ele. — Ouvi seu grito, depois o som de pancada e, por fim, nada.

   — Eu lutei. — sussurrei, abraçando seu corpo e apoiando a cabeça em seu ombro. — Eu lutei para voltar pra’ você.

   — Preciso que me conte o que aconteceu. Acha que está bem? — Suas mãos na minha cintura me faziam carícias.

   — Ele contou que veio se vingar porque você matou o irmão dele. — disse, e senti Ricardo se retesar. — Você tinha me dito que havia matado apenas uma vez na vida. Foi mentira?

   — Não, claro que não. — disse ele, me fazendo olhá-lo. — Ragazzo, eu não menti pra você.

   — Confio em você. — minha voz saiu firme, tranquilizando-o.

   — Obrigado, Danilo. — puxei Ricardo para um beijo, ignorando a dor que senti na minha mão, apesar dos remédios. — Tenho que resolver esse assunto antes da gente ir dormir. Quer me esperar no quarto?

   — Não, quero ficar com você. — Me desesperei por alguns segundos, antes dele sorrir. — Eu quero ficar perto de você e também quero descobrir quem é esse homem que me atacou.

   — Okay, estão esperando a gente na biblioteca. Vamos? — concordei com a cabeça e me deixei ser arrastado por ele.

   O toque de Ricardo era gentil, me puxando para acompanhá-lo. Passamos em frente à sala de estar, onde duas empregadas em pijamas limpavam o sangue seco do chão; o corpo havia desaparecido. As duas mulheres ficaram de cabeça baixa, talvez temendo ser vítimas da fúria de Ricardo. Quando entramos na biblioteca, me deparei com dez pessoas nos esperando, todos vestidos com ternos e usando uma escuta na orelha. Eram sete homens e três mulheres, todos pareciam temerosos com o que iria acontecer naquela biblioteca.

   Ricardo caminhou por entre eles, me levando junto. Ele se sentou em sua poltrona e me puxou para seu colo, seu toque fazendo carícias em minhas costas enquanto minha cabeça estava apoiada em seu ombro. Todos eles estavam olhando para nós. Raissa também estava ali, assim como Eliana, mas V não estava.

   — Muito bem, primeiro quero saber como aquele homem entrou na minha casa? — perguntou Ricardo, com a voz firme. — Quem estava fazendo vigia na entrada?

   — Ricardo? — chamei, e ele me olhou, seu olhar mudando de raivoso para carinhoso em segundos.

   — Sim, meu amor?

   — Aquele homem trabalhava pra você. — Ricardo franziu o cenho com o que eu disse. — Ontem, eu o vi quando estava indo para a casa dos meus pais; ele estava substituindo o vigia da entrada.

   — Tem certeza? — concordei com a cabeça. — Como ele entrou na minha equipe sem que eu o conhecesse? — Silêncio. Nenhum dos seguranças disse algo. — Ótimo, aquele homem entrou e se infiltrou aqui tão facilmente assim?

   Novamente, eles ficaram em silêncio, parecendo não saber o que falar. Um dos homens estava de cabeça baixa, uma mulher olhava para o alto e alguns outros apenas olhavam para Ricardo sem saber o que dizer. Raissa me olhava, como se certificando de que eu estava bem, enquanto Eliana encarava o chão com o rosto em um misto de fúria e tristeza.

   — ME RESPONDAM, PORRA! UM DESCONHECIDO ENTROU NA MINHA CASA COM INTENÇÃO DE ME MATAR, MACHUCOU O MEU NOIVO E VOCÊS FICAM ME OLHANDO SEM ME DAR UMA RESPOSTA? — gritou Ricardo, me assustando um pouco. Sua mão me segurava com carinho, como se tentasse amenizar os gritos para mim.

   — A culpa é minha! — disse a voz de V, após a porta ser aberta e ele entrar na biblioteca com passos rápidos. Seu rosto estava cheio de lágrimas; ele usava um pijama azul-claro e pantufas.

   — Como a culpa é sua? — Ricardo abaixou o tom de voz, parecendo ainda mais assustador do que quando estava gritando.

   V se ajoelhou à nossa frente, o rosto encarando Ricardo e depois a mim.

   — Ele era uma ponta solta. — disse o homem, fazendo todos exclamarem surpresos.

   — Você não deixa ponta solta, V. — Ricardo se levantou, me colocando sentado em sua poltrona. — Como você deixou isso acontecer?

   Em um movimento rápido, Ricardo agarrou o pescoço de V e o levantou, fazendo o homem ficar do seu tamanho. Do sofá, Raissa se levantou chorando, mas Eliana a segurou, impedindo que a mulher se intrometesse na possível briga. Levantei-me rapidamente, tocando o braço de Ricardo e afastando-o de V. O segurança tossiu, tocando o pescoço, que ficou vermelho e com a marca dos dedos de Ricardo. Encarei meu noivo com censura.

   — Não acha que está pegando pesado? — perguntei irritado.

   — Danilo, agora não. Eu vou resolver isso.

   — É assim que você resolve as coisas? Machucando seu amigo que é praticamente seu irmão? — encarei seus olhos, desafiando-o. — Posso ser o novato aqui, mas pelo que eu sei, V acabaria com o mundo por você.

   — Aquele homem… — disse V, atraindo nossa atenção. — É irmão do delator que eu matei. Eu pesquisei sobre ele, mas eles não tinham contato há dez anos. Achei que não fosse necessário ficar de olho naquele homem.

   Ricardo ficou encarando V por longos segundos. Por fim, ele se sentou na poltrona e cobriu o rosto com as mãos. V me olhou e voltou a chorar. Eu sei que ele não está chorando por medo de Ricardo, e sim porque fui eu quem mais se machucou nessa história.

   — Danilo, você me perdoa? Eu jamais teria deixado aquele homem livre se soubesse que ele viria atrás de Ricardo.

   — Você não tem que pedir perdão, eu não te culpo por isso. — disse, dando um beijo na testa dele e o abraçando. — Acho que agora não é uma boa hora para conversarmos sobre esse assunto. Vocês estão dispensados.

   Todos ficaram me olhando, como se eu fosse maluco. Ricardo levantou o rosto para nós e me encarava.

   — Não ouviram o chefe de vocês? Danilo tem tanta autoridade aqui quanto eu. Saiam! — Ricardo falou alto, fazendo com que todos saíssem apressados.

   Raissa correu até V, dando-lhe um beijo na boca e sussurrando perguntas. Ela olhava com raiva para Ricardo, que desviou de todos os olhares da mulher. Um a um foram saindo da biblioteca, até que, no fim, sobramos apenas Ricardo e eu. Aproximei-me de Ricardo; sua mão acariciou meu rosto e ele sussurrou que deveríamos ir para o quarto. Concordei com a cabeça e o deixei me levar. Ele disse que, na manhã seguinte, a Dra. Tanaka viria fazer um curativo decente e pontos para fechar minha ferida. Eu apenas concordava com ele, estava cansado e com sono.

   Entretanto, assim que entramos no quarto, Ricardo me mandou tirar a roupa e ele foi tirando a dele também. Notando meu olhar incrédulo, ele disse rindo que iríamos apenas tomar um banho, pois eu estava com sangue seco no rosto. Após corar muito, obedeci à ordem dele e fiquei pelado. Mais uma vez, entramos no banheiro e tomamos um banho. Ricardo praticamente fez tudo: lavou meus cabelos, me ensaboou, e tudo isso em silêncio, com seus olhos me encarando e suas mãos me tocando. Enquanto me dava banho, ele aproveitava para dar beijos em meu corpo, quase como se procurasse por machucados ou hematomas.

   Quando ele acabou de me lavar, segurei seu rosto parado e o beijei. Seus lábios tocaram os meus, sua boca desesperada e necessitada. Suas mãos exploravam meu corpo, tateando minhas costas e minha bunda . Ele me levantou em seu colo e eu abracei seu pescoço, olhando em seus olhos.

   — Eu te amo tanto. — disse Ricardo, encarando meus lábios. — Me desculpe por ter perdido a cabeça na biblioteca. Eu nem me lembrei de que aquele era meu melhor amigo, eu só conseguia pensar no pior que podia ter te acontecido.

   — Eu sei, acho que eu também iria ficar igual se fosse você no meu lugar. — respondi, vendo ele desligar o chuveiro e sair do box. Ricardo se sentou na tampa do vaso e puxou uma toalha, secando meu rosto. — Vai cuidar de mim como se eu fosse criança agora?

   — Não, vou cuidar de você como o amor da minha vida, aquilo que eu mais tenho de importante. — sorri para ele e lhe dei um selinho rápido, deixando que me secasse. — Apesar dos pesares, você foi muito corajoso em lutar.

   — Eu só sabia que não podia deixar minha história acabar assim. Você e eu ainda temos muito pra viver. Quero te ver velhinho e descobrir se você vai conseguir dar conta de mim. — Ricardo riu, me entregando a toalha e abraçando minha cintura.

   — Pode ter certeza, mesmo que eu esteja com 70 anos, a gente vai ficar que nem coelhos na cama. — sorri, enxugando seu cabelo e depois seu peitoral.

   — Que bom, já estava pensando que eu iria ter que arranjar um amante para me satisfazer. — Ricardo semicerrou os olhos.

   — Você nem ouse brincar com isso. Sou um homem muito ciumento, e você vai despedaçar meu coraçãozinho se me trocar por alguém mais novo. — brincou, me fazendo rir.

   — Não, eu jamais iria trocar meu italiano por outro. Esse aqui é especial, ele é gostoso, bonito, cheiroso e rico. — Ricardo riu, apertando minha cintura. — Me trata com carinho, respeito e é um mafioso, o que deixa mais excitante.

   — Uau, nunca vi alguém usar tantos adjetivos para me descrever. — Após nos secarmos, ele se levantou e me levou para o quarto, me deitando na cama com cuidado. — Você, Danilo, é lindo, fofo, gostoso, sexy, cheiroso, viril, caridoso, carinhoso e um pouco mandão, o que te deixa mais excitante.

   — Mandão? — perguntei, sentindo ele deitar por cima de mim e beijar meu pescoço. Ele puxou o cobertor para cima de nós e se jogou para o lado, me puxando para deitar com a cabeça no peitoral dele. — Eu sou mandão?

   — Um pouco, mas eu gosto que você mande em mim. Também gosto quando você perde a linha e me dá uns tapas. — Ricardo riu quando eu lhe dei um tapa no braço, me fazendo corar. — Gosto de apanhar com carinho e de homem bonito.

   — Então quer dizer que se qualquer homem bonito te bater você vai ficar com tesão? — perguntei sorrindo, e ele se desesperou.

   — Não, acho que eu só gosto de apanhar de você. — ele reformulou a fala dele.

   Sorri e me deitei sobre ele, fechando os olhos e sentindo seus braços me envolverem em um abraço protetor.

   — Obrigado por distrair minha cabeça. Acho que estou melhor, apesar do que aconteceu. — Ricardo me apertou mais e beijou o topo de minha cabeça.

   — Você é mais forte do que imagina, ragazzo. Sei un uomo forte, bello e un guerriero. — sorri, gostando de ouvir a voz dele em italiano.

   Em poucos segundos, o sono me abateu e, dessa vez, abraçado de forma tão protetora, eu não tive nenhum pesadelo.

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Meu Mafioso (Romance Gay) EM REVISÃO... DE NOVOOnde histórias criam vida. Descubra agora