CAPÍTULO DEZOITO

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ENFIM, ITÁLIA

   Despedir-me da minha família foi o maior choro. Minha mãe me abraçava e pedia para eu tomar cuidado, dizendo que iria sentir falta do bebê dela. Meu pai, apesar de conter as lágrimas, dizia para que eu aproveitasse bem a viagem e conhecesse o mundo. Minha cunhada, que já estava chorando antes mesmo de eu ir falar com ela, dizia que iria sentir muito a minha falta, das nossas conversas e de falar mal do Arthur. Meu irmão estava um pouco chateado; ele só soube que eu iria me mudar para a Itália no dia da partida. Antes, ele achava apenas que iríamos ficar durante o casamento. Porém, ele veio se despedir de mim, dizendo bem alto que, se eu precisasse, era só ligar para ele que ele iria arranjar um jeito de ir até mim.

   Eu não estava muito diferente deles, parecia realmente um bebê chorão. Foi pior do que quando me mudei para São Paulo e meus pais quase me impediram de ir. Dessa vez, eles não tinham essa opção. Ricardo estava nos esperando no carro, conversando com V. Meu pai saiu, trocando algumas palavras com meu noivo, que apenas sorriu e deu dois tapinhas no ombro dele, concordando com algo que ele disse. Meu coração estava acelerado demais. Ricardo já tinha providenciado meu passaporte e feito todos os trâmites para um casamento entre duas pessoas de países diferentes, ainda mais dois homens.

   Eu confio nele e sei que vai dar tudo certo.

   Durante o caminho, Ricardo segurava minha mão, transmitindo segurança. V estava dirigindo, Raissa estava no banco do passageiro e Eliana estava sentada ao meu lado, em silêncio. Eu já estava me acostumando com a presença dela, apesar de ainda sentir calafrios ao saber que ela me seguirá por todos os caminhos que eu tomar. Eu não poderia trair Ricardo, mesmo que quisesse; talvez esse seja o jeito dele de controlar isso. Se for realmente isso, não concordo nem um pouco com essa atitude, mas como não penso em trair, não me importo e até aprecio a presença dela.

   Quando chegamos ao aeroporto de Ricardo — sim, ele tem um aeroporto — havia um carro nos esperando. JP estava ao lado de uma mulher, também negra, com cabelos cacheados e castanhos, olhos castanhos e um sorriso simpático. Ela era bem velha, devia ter uns sessenta e poucos anos, talvez mais, e usava um longo vestido preto com flores. Acho que ela era mãe de JP, pois a semelhança entre os dois era grande. Saímos do carro e Ricardo, sorrindo, soltou minha mão e abriu os braços.

   — Nonna Cíntia, vai nos acompanhar? — ele perguntou, abraçando a mulher e rindo alto.

   — Claro que sim, acha que eu iria perder o casamento do meu neto? — Eles se afastaram e a mulher me encarou, seus olhos castanhos eram convidativos. — Você deve ser o Danilo, ouvi muito sobre você.

   — Espero que coisas boas. — disse envergonhado, e ela sorriu.

   — Certamente, meu amor. — ela me puxou para um abraço, me apertando em seus braços e beijando minhas bochechas. — Hoje eu ganhei mais um neto.

   Olhei confuso para Ricardo, que sorriu para mim e abraçou minha cintura com um dos braços.

   — Nonna Cíntia não é minha nonna de sangue, nós só a chamamos assim a pedido dela. — ele explicou.

   — Quero ser chamada apenas de nonna, Danilo. — pediu a mulher. — Ou nonna Cíntia.

   — Claro, nonna Cíntia.

   Ricardo beijou minha bochecha e, enquanto nonna Cíntia conversava com Raissa, V e Eliana, ele avisou que iria falar com os pilotos do avião dele. Eu fiquei ali, ouvindo a conversa e vendo nonna Cíntia paparicar Raissa e V, perguntando aos dois quando iriam se casar e ter filhos. Apesar da postura séria, Eliana esboçou um sorriso ao ver o desconforto do casal. Acho que esse assunto ainda não havia sido discutido. JP estava ao meu lado, também observando a cena e sorrindo. Ele percebeu que eu o estava encarando e me lançou um sorriso.

   — As nossas fotos ficaram boas? — perguntei, esse foi o único assunto que encontrei.

   — Ficaram muito boas, já estão em todos os portais de fofocas ao redor do mundo. Você é oficialmente um homem famoso agora. — ele explicou, me fazendo engolir em seco.

   — Agora o mundo já sabe que o Ricardo é gay e vai se casar comigo. — arregalei os olhos. — Meus pais estarão bem?

   — Sim, ainda mais agora que estão morando no condomínio.

   Concordei com a cabeça e finalmente observei Ricardo se aproximando. Ele nos levou direto para o avião, que já estava pronto para decolar. Encarei aquele enorme jato dourado; a primeira vez que entro em um avião é justo em um jatinho particular. Todos os outros pareciam estar bem, conversavam animadamente uns com os outros e nem pareciam perceber que eu estava entrando em pânico. Não tenho medo de altura ou algo do tipo, mas minhas pernas estavam bambeando. Por dentro, o avião era magnífico e maior do que aparentava ser. Havia espaço para todos nos sentarmos e nos acomodarmos. Ricardo e eu nos sentamos ao fundo, enquanto Raissa e V estavam nos bancos à frente, logo depois JP e nonna Cíntia, e por fim, Eliana.

   Senti um cinto de segurança ser colocado em mim e nem reparei que Ricardo me encarava com um sorriso tranquilo. Ele se abaixou e me deu um beijo, sussurrando que tudo iria ficar bem. Tentei sorrir, mas não sei se consegui. Ele se sentou ao meu lado, colocou o cinto e segurou minha mão. Por mais que eu estivesse surtando, consegui apreciar os gestos dele e as tentativas de me acalmar.

   — Amore mio, fique tranquilo — pediu, beijando a palma da minha mão. — Enquanto eu estiver tranquilo, nada vai dar errado, foque nisso.

   Concordei com a cabeça. Ricardo está certo, enquanto ele estiver de boa, eu estou de boa. Quando o avião decolou, apesar de tremer tudo e quase me fazer vomitar o jantar, eu tentei focar nos olhos de Ricardo. Ele sorria para mim, me tranquilizando e me mantendo seguro. O avião finalmente estabilizou no ar e agora levaríamos doze horas até chegar em Roma. Como já era noite, Ricardo disse que eu podia tentar dormir e, infelizmente, só consegui pegar no sono depois de duas horas de voo. Dessa vez, não houve sonhos ou pesadelos, me fazendo acordar tranquilo. Quando abri meus olhos, ainda estávamos no ar, mas eu já conseguia ver que havia cidades abaixo de nós.

   — Acordou? — Olhei para o lado e Ricardo estava lendo um livro. — Já chegamos na Itália, mas não em Roma.

   — Em que cidade estamos? — perguntei, esfregando os olhos e bocejando.

   — Nápoles, logo estaremos em Roma. — ele fechou o livro e me encarou com um sorriso. — Com fome?

   Meu estômago roncou, indicando que eu estava morrendo de fome. Ricardo apertou um botão no assento dele e, alguns minutos depois, uma comissária de bordo apareceu com um carrinho trazendo nosso café da manhã. Peguei um croissant, chá gelado e alguns muffins de chocolate. Ricardo pegou o mesmo que eu e agradecemos à mulher, que mantinha um sorriso simpático para nós. Vi ela passar e perguntar aos outros se eles iriam querer alguma coisa. Durante o café da manhã, Ricardo me contou curiosidades sobre a cidade de Nápoles, que aos poucos deixávamos para trás.

   — A primeira pizzaria do mundo foi construída em Nápoles. — disse ele. — Mas não são iguais às pizzas do Brasil, as daqui são mais simples e saborosas.

   — Poxa, e eu queria tanto uma pizza de bacon com catupiry. — brinquei, vendo o horror se passar nos olhos de Ricardo.

   — Vou esquecer que você disse algo assim para mim. — disse ele, me fazendo rir.

   Ricardo continuou me contando coisas sobre Nápoles, Gaeta, Lácio e, por fim, Roma. Toda a cultura deles, as histórias antigas, os mitos e os possíveis destinos que poderíamos visitar em uma viagem algum dia. Enquanto olhávamos um para o outro com um sorriso bobo no rosto, Ricardo prometeu me mostrar o mundo. Aonde eu quisesse ir, ele me levaria e, em todos esses lugares, todo dia ele arranjaria um jeito diferente de me fazer apaixonar por ele. A única resposta que soube dar foi um apaixonado beijo e, em meio a sussurros, eu disse que ele podia tirar Roma da lista. Quando nos disseram que logo estaríamos pousando, o pânico novamente voltou a me atormentar.

   Não por medo do avião ou algo do tipo, mas sim porque em algumas horas eu estaria na presença de meus futuros sogros. Meu coração batia a milhão quando o avião finalmente pousou no aeroporto particular da família Bianchini. Uma limusine estava esperando por nós e, após desembarcarmos nossas malas, finalmente estávamos no nosso destino. Ainda eram nove horas da manhã, apesar de eu me sentir um pouco cansado por causa do fuso horário. No Brasil ainda eram quatro horas da manhã e espero que não demore para me acostumar com isso. Ricardo cumprimentou o motorista, que devia ser um velho conhecido, pois ambos se deram um abraço.

   — Aquele é o Giuseppe, trabalha com os Bianchini desde antes do Ricardo nascer — explicou V, me encarando.

   Os dois conversavam em italiano, as palavras saindo tão rápido que era difícil acompanhar. Por fim, Ricardo se virou e me estendeu a mão, me puxando até eles.

   — Giuseppe, questo è il mio fidanzato, Danilo — Ricardo massageou minhas costas.

   — Quindi questo è il ragazzo che há conquistato il tuo cuore, piccolo diavolo? — Ricardo corou e concordou com a cabeça. — È um piacere conoscerti, Danilo. Spero che tu faccia ragionare questo piccolo diavolo.

   Olhei para Ricardo e ele sorriu.

   — Ele disse que é um prazer te conhecer — explicou meu noivo.

   — Não foi só isso que o Giuseppe falou — cantarolou V, e todos que estavam atrás de nós deram risadas.

   — Ele também disse que espera que você coloque juízo na minha cabeça — Ricardo revirou os olhos.

   Sorri e me estiquei na ponta dos pés, beijando a bochecha dele. Ricardo corou e virou o rosto, pedindo um beijo na outra bochecha também. Um pouco envergonhado, eu o beijei. Quando todos entraram na limusine, finalmente partimos do aeroporto e entramos nas ruas de Roma. Tentei não olhar para as atrações por enquanto, queria manter a expectativa da primeira visão para quando Ricardo me levasse para sair. Então, acabei focando minha atenção na conversa animada que estava acontecendo na limusine. Nonna Cíntia fazia diversas perguntas para Eliana, perguntando se ela era solteira, se achava o neto dela bonito e essas coisas. JP pareceu ficar extremamente envergonhado, assim como Eliana, que se limitou a responder apenas “sim” para as perguntas da mulher.

   Aproveitando que todos estavam entretidos com JP e Eliana extremamente envergonhados, virei-me para Ricardo e apertei sua coxa, chamando sua atenção. Aproximei minha boca de sua orelha e sussurrei:

   — Acha que a dra. Tanaka contou para seus pais sobre nós? — perguntei, e ele não pareceu contente em responder isso.

   — Talvez, ela também pode ter contado para outra pessoa e essa pessoa tenha contado para meus pais. — disse ele, olhando nos meus olhos e segurando firme minha mão. — Mas não importa o que aconteça, estaremos juntos e eu não vou deixar nada nem ninguém te machucar.

   — Tem vezes que eu acho que tudo isso é um sonho, que estou sonhando com um italiano muito bonito que compra roupas na loja onde eu trabalho. — murmurei, sentindo a mão de Ricardo cobrir a minha que estava pousada em sua coxa.

   — Se isso for um sonho, eu prometo que faço virar realidade assim que a gente acordar. — ele tocou minha bochecha, segurando meu rosto e me beijando.

   Sua língua invadiu minha boca, se encontrando com a minha e iniciando uma dança gostosa. Minha mente apagou completamente o fato de que haviam pessoas com a gente no carro e, antes que eu pudesse me impedir, estava subindo no colo de Ricardo. Suas mãos desceram para minha bunda, apertando-a com força e me arrancando um gemido alto.

   — Pelo amor, esperem até chegar na mansão. — disse V, me fazendo arregalar os olhos.

   — Eu me esqueci deles. — sussurrei na orelha de Ricardo, que soltou uma risada. — Não ria disso!

   — Desculpe, mas é engraçado. — Ricardo abraçou minha cintura e me manteve ali em seu colo.

   Eu não ousei me virar para encará-los, apenas coloquei meu rosto no pescoço de Ricardo e fechei meus olhos, torcendo para que abrisse um buraco no chão e eu caísse dentro. Depois de alguns minutos, meus olhos começaram a pesar e, em segundos, eu apaguei. Meus sonhos foram incríveis. Ricardo e eu corríamos em um enorme mar de flores que nos cobriam até a cintura. Ele segurava minha mão, sua risada ecoava pelo lugar e eu apenas conseguia apreciá-lo. Quando meus olhos se abriram, foi com a voz de Ricardo me acordando. Ele sussurrava em minha orelha, beijando minhas bochechas e fazendo cócegas na minha cintura. Acordei com um sorriso, abrindo os olhos e levantando a cabeça. Ricardo me olhava com um sorriso apaixonado.

   — Sonhei com você — falei, e ele sorriu ainda mais.

   — Espero que coisas boas.

   — Foi muito bom. — Notei que estávamos parados e não havia mais ninguém no carro. — Já chegamos?

   — Sim, está pronto?

   — Não. — disse de imediato. — Mas com você do meu lado, eu sei que vai ficar tudo bem.

   — Meus pais são legais e vão te amar, porque não tem como não amar você. — Ele beijou minha boca e se afastou. — Podemos?

   Concordei com a cabeça e saí de seu colo. Juntos, saímos da limusine. Não tinha ninguém esperando por nós do lado de fora, apenas Giuseppe no banco do motorista, aguardando que saíssemos do carro. Quando encarei a mansão à minha frente, meu queixo caiu. Era duas vezes maior que a mansão do Ricardo no Brasil. Uma enorme mansão de vários andares, com muitas janelas, um enorme jardim e quintal, com um labirinto de folhas, fontes, carros e motos estacionados.

   Uma extensa fileira de mordomos e empregadas estava nos esperando. Todos fizeram uma reverência ao Ricardo quando passamos por eles. Seguimos em direção a uma escada bifurcada e, no topo, nos esperando imóveis, havia três pessoas. Eu não conseguia ver seus rostos, mas sabia que eram duas mulheres e um homem. A família de Ricardo. Engoli em seco e tentei sorrir; não posso fazer nada de errado agora. Tem que dar tudo certo.

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