CAPÍTULO VINTE

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UMA AULA DE COMO APANHAR

   Sabe quando a gente sente que está em constante perigo? Eu me sentia assim quando saía do quarto de Ricardo. Sempre olhava para os dois lados com medo de ser golpeado por alguém ou algo do tipo. Ricardo tentou colocar um filme para assistirmos, mas tudo o que conseguimos foram algumas horas de descanso. Quando ele percebeu que isso não iria dar certo, meu noivo disse que, depois do almoço, nós iríamos sair. Isso me animou; estava doido para conhecer os pontos turísticos de Roma e os lugares que o Ricardo mais gosta de ir ou ficar. Eu estava sorridente e contente, mas só durou até o almoço. Leonardo ainda estava ali, nos olhando com aversão e com um curativo no nariz machucado. Para meu azar, não quebrei o nariz dele.

   Lidia me olhava como se eu não fizesse parte daquele ambiente. Adriano e Nadia estavam ocupados conversando com Ricardo sobre os preparativos do casamento. Eu estava em silêncio, até ouvir que eles estavam preparando uma cerimônia que seria transmitida pelas redes sociais de Ricardo e de Nadia. Meu coração foi às alturas; eu não quero isso.

   — Eu não deveria opinar nessas escolhas? — perguntei inseguro, recebendo um olhar curioso de Nadia.

   — Claro que sim, diga o que pensa. — disse Adriano, abrindo um sorriso.

   — Eu não acho que nosso casamento deva ser transmitido na internet. — falei de uma vez, recebendo um sorriso sarcástico de Leonardo.

   — Sabia que é feio recusar uma oferta da chefe? — perguntou Leonardo.

   — Mas somos nós os noivos. Danilo vai se casar comigo e, se ele não quiser um casamento assim, ele não terá. — disse Ricardo, parecendo desafiar qualquer um a me contrariar.

   — Não, tudo bem. — disse, inspirando fundo. — Nós podemos fazer o casamento assim.

   — Tem certeza? — perguntou Ricardo, passando a mão em minhas costas. — Sabe que o casamento é nosso, não sabe?

   — Eu sei, mas em algo aquela coisa ali tem razão. — respondi, ouvindo um suspiro indignado de Leonardo. — Não posso recusar algo de sua mãe.

   — Já te disse o quanto eu te amo? — perguntou Ricardo, sorrindo e se aproximando.

   — Sim, mas eu quero ouvir de novo. — falei corado.

   — Eu te amo mais do que tudo no mundo. — Ricardo me beijou de uma forma delicada e amorosa.

   — Já que isso está resolvido, podemos almoçar e terminamos o planejamento depois. — sugeriu Nadia.

   Ricardo se afastou, me dando uns últimos selinhos e uma mordida na bochecha. Quando me virei para frente, Lidia e Leonardo nos encaravam com ódio, mas tentei ignorar. O restante do almoço seguiu normal. Ricardo contava aos pais sobre os anos que passou no Brasil, e eu contava como foram meus anos antes de conhecê-lo. Eu não tinha muito o que falar, já que só tinha dezoito anos, prestes a fazer dezenove; meus anos passados foram na escola. Por um segundo, me senti mal pela diferença de idade entre Ricardo e eu. O que eu sei da vida? Eu nem mesmo fiz faculdade e tive um único trabalho em toda minha vida. Olhei para Leonardo; ele estava conversando com os pais de Ricardo com um sorriso no rosto.

   Ele aparentava ter a mesma idade do meu noivo, se conhecem há anos e com certeza deve saber bem mais desse mundo do que eu. Ricardo disse que eu não preciso me preocupar com competição porque ele me ama, mas isso é o suficiente? Só o amor entre a gente basta? Encarei Adriano; ele parece feliz ao lado da esposa e não se envolve nos assuntos da máfia. Talvez eu… Senti meus olhos se esbugalharem e uma queimação dentro do meu estômago. Tapei a boca e me levantei rápido, derrubando a cadeira e com certeza chamando atenção. Corri até o banheiro mais próximo e, assim que cheguei ao vaso, despejei todo o meu almoço. Não apenas isso, havia sangue misturado ao vômito, o que me fez criar lágrimas nos olhos. Senti alguém atrás de mim esfregando minhas costas; era Ricardo. Ele olhou para o vaso com medo e gritou chamando os pais.

   Em poucos segundos, tudo ficou uma correria. Eu não me sentia bem e também não conseguia focar nas coisas. Devo ter apagado por algum tempo, pois, quando abri meus olhos de novo, eu estava deitado no sofá da sala de estar. Ricardo estava segurando minha mão; havia medo em seu rosto e ele olhava para o lado, conversando com um homem vestindo um jaleco. Acho que ele estava me examinando. Foi Raissa quem me viu acordado; ela estava abraçada com V, que também parecia temeroso.

   — Dani, você acordou! — exclamou ela, abrindo um sorriso.

   — Ragazzo, como está se sentindo? — Ricardo colocou a mão em minha testa e não fez uma expressão muito boa.

   — Vertigem, queimação e sede. — respondi, e o semblante dele me fez perceber que isso não era mal-estar.

   — Scusami, Ricardo. — pediu o médico, se abaixando ao meu lado. — Mesmo em circunstâncias como essa, é um prazer conhecê-lo, Danilo. Me chamo Dario, sou médico da família Bianchini. Minha família toda serviu a eles, não precisa se preocupar com nada. — Ele sorriu para mim, tirando um estetoscópio e o colocando em meu peito, que só agora percebi que estava sem camisa. — Os batimentos estão um pouco acelerados, mas parece que não é nada muito preocupante.

   — Dario, ele vomitou sangue. — lembrou Ricardo. — Alguém deu veneno para ele.

   — Eu sei disso, mas foi uma dose pequena e um veneno que age de forma lenta. Sabem o que isso significa. — disse ele, e todos ao meu redor se entreolharam.

   — Ahn… eu não sei. — murmurei, corado. Dario sorriu. Ele é um homem bonito, tem cabelos pretos e grossos, nariz grande, pele bronzeada, olhos castanhos e um sorriso charmoso.

   — Alguém quis dar um susto em você e provocar Ricardo. — explicou ele, me fazendo ficar irritado.

   — Algum desgraçado me envenenou só por isso? — aumentei meu tom de voz, enquanto Ricardo me pedia para ficar calmo e repousar.

   — Bom, acho que vocês tiveram uma reação contrária. Ricardo está morrendo de medo de te perder e você ficou zangado. — comentou V, recebendo um beliscão na bochecha. — Ai, Raissa.

   — Ricardo nos contou que não foi o primeiro incidente. Você precisa tomar cuidado agora, Danilo. Algumas pessoas, aquelas que não aceitam seu casamento com o Ricardo, farão de tudo para que ele não aconteça. — explicou Dario.

   Olhei para Ricardo, que pareceu entender onde eu queria chegar. Não importa o que aconteça, nós vamos descobrir quem está por trás disso.

   — O veneno que foi usado é a especialidade da nossa família. — contou Ricardo, seus olhos assumindo um tom perigosamente mortal. — Eu vou achar o desgraçado que está fazendo isso e, quando acontecer, vou fazê-lo sentir tanta dor que ele vai implorar para morrer.

   — Filho, o antídoto já foi dado para o Danilo. Melhor você levá-lo para repousar. — sugeriu Adriano, me olhando com piedade.

   — Depois que levá-lo ao quarto, volte até meu escritório. Precisamos conversar sobre os assuntos que você não andou nos contando. — Nadia olhou para mim. Apesar do olhar duro e um pouco assustador, ela também parecia preocupada.

   Ricardo me ajudou a colocar minha camisa e me carregou em seu colo em direção ao seu quarto. Leonardo e Lidia nem ao menos se levantaram da cadeira; a mulher olhava para o meu prato envenenado, mas eu não soube decifrar seu olhar. Fui levado com todo cuidado e carinho pelo meu noivo, depositado na cama e coberto por um grosso cobertor marrom de pelos. Ricardo se deitou ao meu lado, abraçando meu corpo e sussurrando que iria ficar ali até que eu dormisse. Sorri e apoiei minha cabeça em seu peitoral, escutando seu coração bater forte contra o peito. Fechei meus olhos, ouvindo o som da respiração dele como uma música de ninar e, em poucos minutos, eu estava dormindo.

   Tive vários pesadelos durante esse tempo. O primeiro foi com Ricardo; ele não sabia da minha existência, não me ouvia nem podia me ver. Tentei de tudo para chamar sua atenção, mas tudo o que consegui foi vê-lo ir embora sem olhar para mim. O segundo foi um pouco mais estranho, parecia real demais. Acho que eu devia estar delirando por causa do antídoto combatendo o veneno, porque eu estava no quarto e havia uma sombra no pé da cama. Não conseguia reconhecê-la nem dar forma a ela, mas sabia que estava me observando.

   A sombra saiu do quarto e eu voltei a fechar meus olhos. Quando acordei, havia luzes laranjas entrando pela janela, indicando o pôr do sol. Meu plano de conhecer a cidade foi por água abaixo e agora estou debilitado. Movi-me na cama, virando de lado e encontrando Ricardo lendo um livro. Estava em italiano, então nem tentei saber do que se tratava. Ao notar que eu estava acordado, ele fechou o livro e levou a mão até minha testa, sorrindo logo em seguida.

   — A febre passou, você já deve estar fora de perigo. — disse ele, sorrindo.

   — Pelo visto não, já que tem alguém querendo me matar. — respondi, vendo o rosto de Ricardo ficar entristecido.

   — Eu falhei na minha promessa de te manter em segurança.

   Meu coração se acelerou com o que ele disse. Levantei-me na cama e me sentei, ignorando minhas dores e os protestos dele. Pedi ajuda a Ricardo e, sem dificuldades, ele me colocou sentado em seu colo. Encarei seus olhos verdes, lindas esmeraldas com tons azulados que eu tanto amo. Toquei seu rosto com minha mão e senti a aspereza de sua barba. Suas mãos seguravam minha cintura com firmeza e de forma possessiva; ele era o único que podia e devia me tocar. Passei meu dedão em seu lábio inferior e notei o quão necessitados estávamos um pelo outro.

   — Não importa o que aconteça, se tem um lugar onde eu me sinta seguro é em seus braços. — sussurrei, colando minha testa na dele e roçando nossos narizes.

   — Mas você podia ter morrido, tem alguém do meu mundo querendo te machucar. — disse ele, apertando minha cintura em um abraço.

   — A partir do momento que aceitei ser seu noivo sabendo o que você era, seu mundo passou a ser meu também. Faço parte dele agora e sei dos perigos que estou correndo. — expliquei, passando meus dedos em seus cabelos. — Confio minha vida a você e sei que você vai sempre estar lá para me proteger.

   — Se não fossem as formalidades, eu já teria me casado com você há muito tempo. — ele sussurrou, me puxando para um beijo. Sua língua invadiu minha boca, suas mãos agarraram minha bunda e seus dentes morderam meu lábio ao se afastar. — Vamos encontrar quem está fazendo isso, Danilo.

   — Sei que vamos.

Meu Mafioso (Romance Gay) EM REVISÃO... DE NOVOOnde histórias criam vida. Descubra agora