Completa ai

426 48 45
                                    

"Quando a gente tentar com outras pessoas
Varias tentativas, e ver que nada é de verdade
Quando alguém te chamar pra sair
E você já não tiver vontade
Completa aí, o nome disso é... yeah"
(Hej/MM)

Diego~

Eu corria, com a maior velocidade que um corredor de faculdade abarrotado alunos, me permitia, virando no último corredor e escorregando, quase caindo no chão. Meu caderno, dois livros e um roteiro, faziam parte do caos que minha manhã estava. Tudo isso, por conta de um sonho estúpido que não me deixou dormir, resumido o mesmo ao fato de que Amaury voltava para casa.
Quando cheguei a sala de aula, completamente descabelado, vi Gualandi conversando com alguns alunos e Thati, Tata e Rafa, em outro canto, conversando entre os três.
A professora não estava na sala, mesmo eu estando cinco minutos atrasado, isso já fez meu dia melhorar em cinquenta por cento.
A questão é que haveria uma peça, sendo mais exato seria uma releitura do filme Cartas para Julieta, que em si já era sobre o clássico Romeu e Julieta, era tão clichê mas tão clichê, que acabei ficando empolgadissimo com a ideia, principalmente porque os casais seriam escolhidos por sua inscrição e interesse em interpretar os personagens e não necessariamente por ser homem ou mulher.
Sendo assim, eu claramente queria interpretar a Sophie, ou Sam, caso fosse um homem o escolhido, isso explica toda minha empolgação, já que hoje e amanhã estarão acontecendo as audições.
"Oi bebê." Rafa disse, se aproximando e deixando um selinho em meus lábios. "Você parece nervoso..." Comentou sorrindo, eu sorri de volta, havia me acostumado com nosso namoro e até ali tinha certeza de que foi o melhor pra mim, meu coração ainda teimava em amar o rapaz moreno que estava em outra parte do mundo, mas meu lado racional sabia que Rafael estava sendo o melhor, era recíproco nossa relação e eu me divertia muito com ele.
"Sim! Quero muito ser a Sophie." Falei, quase pulando de ansiedade e empolgação, mesmo sendo uma apresentação extremamente clássica e comum, eu queria muito, sou simplesmente apaixonado pelo filme e a forma como ele trabalha um pouco de comédia em meio ao romance.
"Amor... O Sam, um homem, não a Sophie." Eu o encarei, ficando vermelho por me colocar no feminino, eu não via problema algum nisso, eu iria interpretar um papel, no teatro principalmente deveríamos entender isso, fora que somos da comunidade e temos que apoiar todos que fazem parte dela, a fala dele me parecendo um pouco preconceituosa. Suspirei, deixando passar aquilo, talvez ele apenas tenha se expressado mal.
"É... Bom, eu vou ver as meninas, já volto..." Falei, dando outro selinho nele e apontando para meu grupinho, Rafael e eles tinham uma boa relação, mas não passava disso, se nós não namorassemos eles provavelmente seriam apenas colegas de turma, mal andariam juntos, como era no começo.
Andei até minha turma, tentando me manter calmo ao ver a professora entrar e pedir silêncio, Tata, Thati e eu seríamos os únicos do grupo a fazer os testes hoje, já que tentariamos para a Sophie e Thati para Claire, a avó do Romeu, ou melhor, do Charlie.

Após os testes, fomos para a livraria, eu estava super feliz pois a professora havia elogiado muito minha performance, eu adorava a forma como ia bem nas aulas e conseguia certo destaque entre meus colegas e docentes, isso era muito bom ali, pois eles viviam fazendo peças por fora e eu queria participar, minha grande chance começando agora, já que apenas os alunos a partir do quarto semestre podem ser chamados, e após as férias de inverno, eu poderia ser um deles.
"Meu Deus!" Thati disse, seu corpo parando em um baque quando entramos na livraria, fazendo com que eu, distraído de mais em meus próprios pensamentos, me chocasse contra ela, meus livros e anotações indo de encontro ao chão, enquanto a garota dava um solavanco pra frente, olhei para seu rosto, sua boca aberta, seus olhos brilhantes e arregalados, demonstrando uma surpresa genuína.
Acompanhei seu olhar, sem entender nada e ao menos imaginar o porquê a garota estava daquela forma, mas foi aí que eu o vi.
E antes não tivesse feito, antes tivesse aceitado almoçar com o Rafael e corrido para bem longe daquela livraria que por todos esses meses foi meu refúgio particular.
Eu observava cada detalhe, meu coração tão acelerado quanto nunca esteve, acelerado como ficou na primeira e última vez que o vi, meus olhos percorrendo todos seus detalhes, os novos e os velhos, tão conhecidos por mim.
Seus cabelos cacheados estavam praticamente raspados dos lados e mais compridos em cima, havia até mesmo um cachinho teimoso caído em sua testa, seu rosto possuía resquícios de uma barba mais cheia, porém bem aparada e quase invisível, seus olhos e sorriso continuavam os mesmos e estavam tão assustados quanto os meus, observei seu corpo, mais forte do que quando foi embora, isso era claro, seu estilo também parecia um pouco diferente do que eu estava acostumado, as calças um pouco mais largas, assim como a camiseta.
"Surpresa!" Ele falou, eu quis chorar e depois bater nele, fazia algum tempo que não nos falávamos e eu não tinha ideia de quando ele iria voltar, pela expressão de Thati, ela também não sabia de nada.
"Você! Seu cretino!" Foi o que, para minha surpresa, ela falou, mesmo sendo contraditória e correndo até ele, pulando em seu colo como um coala, Amaury a pegando com os olhos arregalados e expressão assustada, sorri um pouco, observando minha melhor amiga, completamente maluca.
"Senti sua falta..." Foi o que ele disse a ela, um carinho em seu cabelo enquanto fechava seus olhos, aproveitando o abraço da primeira amiga que ele fez aqui no Rio.
Thati o soltou, dando um passo para atrás e olhando para mim, eu continuava no mesmo lugar, parado, sem saber o que fazer, eu sentia tanta saudades dele que era como uma dor física, Amaury também pousou seus olhos sobre mim, eu não sabia lê-los, pela primeira vez em muito tempo, não sabia o que fazer, quando foi que nós nos perdemos a ponto de parecer estranhos? Eu o conhecia como a mim mesmo, talvez até mais, porém ele parecia tão diferente agora.
"Muito bom te ver cara, mas agora eu preciso... Eu... Ah, esquece, eu só vou mesmo." Ela disse, saindo de perto com seus olhos passeando para mim, se certificando de que eu estava inteiro, por fora sim, mas por dentro... Pela forma como ela sorriu pra mim, eu soube que ela tinha consciência de como eu me sentia.
"Oi..." Amaury disse se aproximando, eu dei alguns passos tortos, tropeçando para frente e chorando incontrolávelmente quando o cheiro do seu perfume invadiu meu olfato... "Não..." Ele sussurrou, enquanto vinha para mim, seus braços envolvendo minha cintura enquanto os meus envolviam seu pescoço, parecia a chegada de um tempo difícil fora de casa, eu estava ali, onde devia estar, onde pertencia, mesmo tendo problemas e discussões era para onde eu sempre poderia voltar.
Eu sentia seu coração acelerado, pulsando em meu ouvido, sentia suas mãos se apertarem em mim, como se provasse que eu era real, sua boca quente e macia, distribuía beijos em meu pescoço e rosto, enquanto eu continuava chorando, ele também, seus soluços podendo ser ouvidos, se misturando aos meus.
"Me desculpa... Me desculpa... Eu senti tanto a sua falta, eu não devia, eu..." Ele falava em meio ao choro, sua voz rouca saia lenta e baixa, enquanto nós tremiamos com os soluços, agarrados um ao outro. "Eu fiquei sem saber lidar com a situação... Me perdoa... Eu amo você, não sabia como fazer, não ter assunto nas ligações, não te ver, nem tocar..." Eu sabia, eu entendia, nós tínhamos essa necessidade um do outro, que ia além do meu amor por ele, nós éramos mais que isso e não soubemos lidar com a distancia.
"Eu sei..." Falei, concordando com a cabeça. "Eu entendo, eu senti o mesmo... Você foi tão idiota..." Desabafei, agarrado a ele, cheirando seu perfume, o mesmo de sempre, o mesmo que eu amava.
"Fui, fui sim! Eu venho sendo um idiota a um tempo... Eu te amo..." Eu o olhei, seu rosto próximo ao meu, o rosto que eu tanto amava admirar, estava um pouco inchado e molhado por conta das lágrimas, mas havia um sorriso ali, um carinho que eu sempre vi, sorri um pouco também, mesmo me sentindo triste e magoado com ele, era bom tê-lo de volta.
Seus olhos desceram para minha boca e voltaram para os meus olhos em seguida, não parando neles por muito tempo, não pude evitar acompanhá-lo e observar como a boca carnuda do maior parecia convidativa, como seria bom beijá-lo e relembrar o quão bem ele faz isso, o quão gostoso é sua língua massageando a minha, seu corpo se colou ao meu, nos encaixando de uma forma perfeita, minhas mãos mais firmes em sua nuca, prendendo meus dedos nele, enquanto eu sentia os seus apertarem a pele da minha cintura, sua mão descendo um pouco e subindo por dentro da minha blusa, aquele toque sendo o suficiente para nós nos aproximarmos mais, eu podia sentir sua respiração em meu rosto, nossos narizes quase se tocando...
"Amor!" Soltei Amaury, ao mesmo tempo que ele também fazia, a palavra não sendo dita por quem eu realmente queria, Rafael entrando pela porta da livraria, estudando nós dois, parecia que ele havia visto um fantasma.
"Oi bebê." Respondi, limpando as lágrimas, o rapaz se aproximou, me dando um selinho, eu quase recusei, esquecendo por um momento que era certo, que estava tudo bem.
"Então... É bom ter você de volta cara." Rafael disse, sorrindo e estendendo a mão para Amaury, que a pegou, apertando a mesma, os dois se olhando de maneira estranha, dei de ombros sem entender o que foi aquilo.
"É bom voltar pra casa..." Meu melhor amigo respondeu, seus olhos focados em mim me fizeram corar, encarei Rafa.
"Precisa de algo?" Perguntei, me soltando dele e caminhando para trás do balcão.
"Não, só queria saber se quer sushi hoje?" Eu sorri, sentindo os olhos de Amaury sobre nós dois e vendo Thati voltar para perto dele, pelo tempo que ela ficou longe, eu tinha certeza que estava escondida atrás da porta, observando e ouvindo tudo.
"Você me disse que estaria ocupado hoje... Marquei uma noite das garotas com a Thati..." Comentei sorrindo.
"Você não é uma garota." Ele me cortou, respirei fundo.
"Do que isso importa?" Perguntei, me irritando um pouco, eu sabia que estava tenso assim por conta da quantidade e carga emocional que estava passando, respirei fundo, Rafael me estudando por um segundo antes de se pronunciar.
"Bom, tem razão, eu já havia dito que não poderia e já que você tem compromisso... O sushi fica pra amanhã?" Eu apenas concordei, um sorriso forçado surgindo em meu rosto.
"Claro... Pode ser." Rafael então sorriu e me beijou. "Te mando mensagem depois." Ele concordou, deu tchal para Thati e Amaury, indo embora em seguida.
"Namorando hu?" Amaury comentou, o tom acusador em sua voz não estava nem sendo disfarçado.
"Pegando garotos hu?" Respondi na mesma moeda, tão acido quanto poderia ser no momento, a saudades sendo substituída por um pouco de raiva da forma como o rapaz se afastou.
"Certo... Você venceu." Eu apenas sorri, quando ia abrir a boca para falar algo um cliente entrou pela porta, era minha deixa.
"Bom, tenho que trabalhar..." Falei já me virando para o rapaz que sorria para mim, eu sabia até mesmo seu pedido, ele era um amante de fantasias e vivia dizendo que a livraria ajudava sua imaginação, a namorada que o acompanhava, sempre ria dizendo que não tinha nada haver com imaginação e sim com os bolinhos de canela.

"Então... Eu acabei de fazer uma coisa..." Amaury comentou, se jogando no sofá, Thati, ele e eu estávamos assistindo friends, de novo, enquanto comíamos pizza e bebíamos cerveja, minha amiga e eu com máscaras de iorgute e pepino no rosto e cremes hidratantes no cabelo, Thati tinha sua perna jogada sobre as minhas, enquanto eu pintava suas unhas em um tom rosa claro.
"Qual?" A garota perguntou, a boca cheia de pizza, fazendo com que eu desse um tapinba em sua perna, como se pedisse modos.
"Sabe... Você disse que não quer que o Diego perca a privacidade dele, dividindo o quarto com você..." Maury continuou.
"Por mais que eu não me importe." Observei, um sorriso em meu rosto, era verdade, amaria ter Thati por aqui, mesmo agora que Amaury voltou.
"E você também não queria voltar para a casa dos seus pais..." Meu amigo continuou. "Então, o Cauã estava procurando um apartamento... E o da frente está alugando, ele gostou."
"Mas?" A garota perguntou.
"Mas, ele precisa de alguém pra dividir o aluguel." Conclui, era óbvio.
"Estão me falando, que querem que eu seja vizinha de vocês e more com aquele gato?" Thati falou, ela parecia espantada com aquilo.
"Bom... Eu tomei a liberdade de comentar com ele sobre você, ele disse que estava tudo bem... Se você se interessasse e..." Ela levantou em um pulo.
"Vou fazer minhas malas!" Eu a puxei de volta, revirando os olhos para sua empolgação.
"Não... Você não vai, vamos terminar isso aqui e depois resolvemos, prometo te ajudar." Ela concordou sorrindo.
"Certo! Mas já que hoje o seu amor não vem dormir aqui, você me deixa dormir com você?" Thati perguntou, sorrindo como uma criança feliz.
"Claro que deixo! Tô morrendo de saudades de dormir de cochicha com você." Falei sorrindo.
"Certo..." Finalizei a última unha, admirando meu próprio trabalho.
"Obrigada Di! Agora eu vou começar a tirar minhas coisas do quarto do grandalhão ali." Ela disse, apontando para Amaury, que apenas deu um sorrisinho amarelo, a garota saindo da sala em seguida.
"Então, seu namorado... Dorme muito aqui?" Amaury perguntou, eu apenas o encarei, estranhando o porquê da pergunta.
"Não, na verdade... Eu quem durmo mais lá." Ele me olhou.
"Lá onde?" Eu suspirei, quantas perguntas.
"Não casa dele ué..." Contei. "Lá conseguimos ficar sozinhos." Amaury fechou sua expressão.
"E sua mãe sabe que você anda dormindo por aí?" Meus olhos se fecharem e eu respirei fundo, ele ficou um ano longe, mal falou comigo e agora se achava no direito de cobrar algo?
"Não é por aí. E eu não devo satisfações, tenho dezoito anos, trabalho, estudo, sou dono da minha vida." Comentei, decidi me levantar do sofá e ir ajudar Thati, não queria uma discussão.
"Não é satisfação, é o fato de não saber o que está fazendo e ficar preocupado." Ele se levantou, entrando na minha frente, impedindo a passagem.
"Estou sozinho em uma casa com meu namorado, é bem fácil imaginar o que estou fazendo." Disse ríspido, odiando a forma como ele se achava no direito de exigir algum tipo de atoridade sobre mim.
"Eu sou seu melhor amigo!" Comentou, seus olhos cobertos por um sentimento que eu não entendia, seu corpo tão tenso quanto o meu.
"Devia ter pensado nisso antes de ir embora!" Falei, o maior dando um passo pra trás.
"Você me incentivou!" Ele apontou o dedo em meu peito.
"Claro que fiz! Era seu sonho! Fora que você quase me fode em um dia e no outro se arrepende! Agora quer ficar de graça, ta bravinho porque ele terminou o que você não fez?" Soltei, minha voz um pouco mais alta, meu coração acelerado. Percebi o que havia feito assim que fechei a boca e observei a expressão de Amaury mudar.
"VOCÊ LEMBRA?" Ele acusou e eu recuei. "VOCÊ FINGIU? QUAL SEU PROBLEMA?"
"EU OUVI VOCÊ! NO TELEFONE, FALANDO QUE SE ARREPENDIA DO QUE HOUVE." Nós estávamos gritando e eu sabia que Thati escutava, porém ela não se intrometeria aparentemente, Amaury me olhava com choque estampado em seu rosto.
"EU NÃO FALEI NADA DISSO! VOCÊ É MALUCO!" Eu murchei, sabendo o que escutei.
"Então porque não me contou? Porque não me disse o que tinha acontecido? Porque você nunca me diz? Porque no telefone você parecia arrependido, você afirmou que estava..." Falei mais baixo, gritar não adiantaria e eu precisava de respostas.
"Nada do que eu fiz antes importa." Ele respondeu. "Talvez não tenha me arrependido na época... Mas agora..." Eu senti como se tivesse levado um soco.
"Não sei como não percebi o quão idiota você é." Falei, deixando o rapaz sozinho na sala. Babaca.

Oie!
Que tristeza, que tristeza
Era preciso, era.
Não desistam de mim, os próximos capítulos serão lindinhos!
Beijos.

MirrorOnde histórias criam vida. Descubra agora