Oração ao tempo II

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"Compositor de destinos
Tambor de todos os ritmos
Tempo, tempo, tempo, tempo
Entro num acordo contigo
Tempo, tempo, tempo, tempo

Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
Tempo, tempo, tempo, tempo
És um dos deuses mais lindos
Tempo, tempo, tempo, tempo"
(Maria Gadu)

Diego~

"Aaaah que dia maluco! Juro, nossa aquela professora estava me dando nos nervos sabe? Ela não parou de pegar no meu pé um segundo!" Eu reclamava, enquanto entrava no carro, depois de deixar um beijinho no meu namorado.
Era fim de semestre, ou melhor, fim do último semestre, a formatura estava batendo na nossa porta e com isso nós estávamos exaustos, estressados e chatos, na verdade eu estava chato, Amaury continuava o bebê pacífico de sempre.
"Amor... Tá acabando..." Ele disse, sua mão fazendo um carinho em meu joelho, tentando me acalmar. Relaxei um pouco com seu toque quente.
"Sabe o que tá acabando amor?" Perguntei, sem esperar resposta. "Minha dignidade." O maior sorriu, por incrível que pareça ele amava minha faceta mais ácida, sempre achava engraçado meu mal humor, talvez isso fizesse a gente perfeitos um para o outro.
"Que tal uma pizza então?" Eu sorri, aquilo me deixava feliz, era considerado uma notícia boa.
"Certo pizza é um motivo para eu sorrir." O maior apenas negou, sorrindo e indo em direção a nossa pizzaria preferida, pedindo para viagem, íamos comer em casa.
Quando entrei no corredor, saindo do elevador arregalei os olhos, a porta de casa estava um pouco aberta e isso fez com que eu pulasse de susto.
"Maury... Alguém roubou o apartamento! Como você deixa a porta aberta?" Perguntei, vendo que a luz estava baixa e ouvindo o som de uma música na TV, Just The Way you are, tocava, revirei os olhos e dei um soquinho no maior. "Eu vou matar você! Se levaram nossas filhas..." Falei me referindo as duas shitzu que havíamos adotado, nossos bebês eram irmãs e já estavam com a gente a quatro anos, as duas vieram morar conosco logo após o pedido de namoro.
"Diego! Você não consegue calar a boca um segundo! Só entra." Ele mandou, me fazendo ficar quieto e confuso, seu tom mesmo sério, era extremamente carinhoso.
Abri a porta com cuidado, observando o local, na parede da sala havia diversos corações, eles formavam um caminho que levava para o quarto, todos estavam recortados tortos, isso me fez saber que foi Amaury quem os fez.
Caminhei, passando meus dedos lentamente pelos corações de EVA vermelhos, olhei a mesa em um cantinho, vi que estava posta, havia um vinho no gelo e também velas acesas, deixando a casa perfumada.
A trilha de corações acabava em meu quarto, fiz uma nota mental, não era uma data comemorativa, eu jamais esquecia datas assim. Levei a mão trêmula para a maçaneta, a levando para baixo e abrindo, podendo observar o local, que também possuía velas e luz baixa.
No teto haviam bexigas vermelhas de coração e fotos nossas em diversos momentos da vida, a trilha de corações seguia até o meio da parede, em cima da cabeceira da cama, lá havia um coração maior.
"Vai lá." O rapaz disse atrás de mim, me encorajando a seguir, mesmo com as pernas bambas e algumas lágrimas nos olhos. Olhei para os corações, o maior estava dobrado, por isso o abri.
"Casa comigo..." Sussurrei com a voz fraca, não me importando em amassar algumas pétalas de rosa vermelhas ao me ajoelhar em cima da cama, a colcha coberta por várias delas, me virei para o maior.
Ajoelhado no chão, uma caixinha em sua mão e um sorriso tão grande em seu rosto.
"A quase cinco anos atrás eu te pedi em namoro, prometi naquele dia que te pediria em casamento, esse momento chegou, eu te amo tanto, tanto, que dói. Envelhece comigo Diego? Quero te ver ganhar a vida, ter filhos, amar, sorrir, chorar, quero ser seu ombro amigo quando o mundo ficar pesado de mais, ver seus trinta, quarenta, cinquenta anos. Casa comigo?" Eu me ajoelhei, chorando tanto que mal conseguia respirar.
"Não existe resposta que não seja sim! Eu quero viver essa vida com você, reclamando que ela será pouco pro nosso amor." Eu sorri. "Eu aceito."

"Se alguém entrar..." Avisei pela última vez, desabotuando a calça do maior e me ajoelhando em seus pés.
"Eu sei amor... Você arranca meu pau, agora vamos com isso." Ele pediu apressado, enquanto eu colocava minha boca ao redor do seu membro, um gemido abafado saindo de sua boca quando sentiu o primeiro contato, sorri, sentindo o peso do pau do maior em minha língua.
Nós finalmente havíamos casado, apenas no civil, a celebração ficaria para um outra hora por diversas questões, mas eu tinha seu sobrenome, quem estava de joelhos, diante do Amaury, dentro do banheiro do barzinho/balada em que viemos comemorar o casamento, era eu, Diego Lorenzo Martins.
Passei minha língua em volta da sua cabeça, aumentando meus movimentos, Amaury não aguentou muito tempo e me puxou para cima, um sorriso sacana em seu rosto.
Ele foi rápido e experiente em abaixar minha calça e cueca até os joelhos, dobrando meu corpo sobre a pia, sua mão grande envolvendo meu pescoço, mantendo minha cabeça erguida de um jeito que eu poderia observá-lo. Meu pau pulsou, apenas com a visão do homem, agora com vinte e cinco anos, que me devorava com seus olhos escuros, um tapa estalado ressoou pelo banheiro, fazendo meu corpo impulsionar para frente e eu gemer.
Amaury apertou minha cintura, antes da sua língua quente invadir minha entrada, me fazendo ir do céu ao inferno de tesão, não tínhamos muito tempo, o maior foi rápido em abrir um saquinho de lubrificante e me preparar com seus dedos, antes de se encaixar em mim.
O ritmo era frenético, nossas peles se chocando, enquanto nos encaravamos através do espelho, eu poderia morrer ali mesmo e estaria feliz, seu pau indo fundo e certeiro em minha próstata, fazia minhas pernas falharem, nossos gemidos misturados a música alta e sensual que tocava abafada, através da porta, deixava tudo mais sexy, mais perigoso, era quase insuportável aguentar tanto prazer.
Sua mão foi para meu pescoço, o ritmo intenso aumentando de velocidade, senti o orgasmo se aproximar e me apertei contra ele, Amaury gemendo, enquanto seus dedos se apertavam ao meu redor me enforcando levemente ao me puxar, colando minhas costas em seu peito forte.
"Goza amor." Ele mandou, eu obedeci, sem ser ao menos tocado por ele, gemendo ao senti-lo pulsar dentro de mim e gozar em seguida. "Gostoso." Sussurrou em meu ouvido, deixando um beijo em meu pescoço... A lua de mel, havia oficialmente começado.

Fui despertando aos poucos, o toque do meu celular parecia fraco e distante, era madrugada e o corpo quente do meu marido repousava sobre mim, enrolado na coberta, enquanto dormia tranquilamente. Abri os olhos, pensando quem caralhos ligaria a essa hora, deveria ser umas três da madrugada.
"Alô?" Perguntei, rouco de sono, sem ao menos conferir o número que estava realizando a chamada.
"Oi Di, aqui é a Helena, você pode vir ao hospital, é relacionado a Alice." Eu me sentei, desperto com a informação e vendo Amaury se mexer na cama, abrindo os olhos confuso.
Helena era a diretora do orfanato onde eu voluntariava, nesse meio de caminho da minha profissão, já havia feito filmes e novelas, mas também gostava de educar, por isso dava aulas de teatro para crianças quando não possuía contrato com produtoras e também fazia serviço voluntário em um orfanato.
Alice era uma menininha doce, tinha cabelos ondulados e grandes olhos castanhos, sua boca cheia e a pele clara a deixavam parecendo um bebê, mesmo a menininha já tendo dois anos... Ela chegou lá com meses de vida, nenhuma família a quis, não sabíamos o motivo, mas aparentemente ela era um bebê que não tinha nada de mais para os ricaços que adotavam, aquilo partia meu coração, a garotinha foi para apenas quatro famílias, mas todas a achavam difícil de mais, ela tinha problemas com sono e chorava muito, isso fazia com que as pessoas a julgasse problemática, mesmo tendo apenas poucos anos de vida.
Agora com dois anos, em um orfanato grande, apenas para crianças até três anos e que chegavam bastante bebês, ela não era adotada, ninguém a queria, acabou que ela se tornou uma das mais velhas lá, podendo ser mandada para outro lar, após os três anos dela.
"O que aconteceu?" Perguntei, minha voz falhando, Amaury de repente preocupado.
"A gente não sabe... Ela teve uma convulsão, após cair um tombo, ao pular o berço." Eu arregalei os olhos.
Conheci a garotinha quando entrei lá, há quatro meses, me apaixonei por ela instantaneamente e o amor foi mútuo.
Nós éramos grudados e eu sempre ficava a mais, para poder cuidar dela um pouquinho, nós cantávamos, brincávamos e eu vibrava a cada nova palavrinha torta dela... Meu coração batia mais feliz toda vez que eu via a pequena... Eu apenas não tive coragem de falar isso para o Amaury ainda, era um assunto delicado, todo esse amor que eu sentia pela criança e ele andava tão na correria esses meses, com a novela, que eu estava esperando o momento certo.
"Eu tô indo aí. Me manda o endereço." Falei, meu sangue corria gelado em minhas veias, meu coração batia forte e descompassado, havia lágrimas nos meus olhos enquanto eu saia da cama, correndo atrás de uma roupa qualquer para ver minha pequena, eu precisava ter certeza que ela estava bem.
"Amor? O que houve?" O homem perguntou, se levantando também, vestindo uma roupa como eu, sem saber o porquê.
"A Alice caiu... Eu preciso ir pro hospital." Eu disse rápido, Amaury sabia quem ela era, mesmo não sabendo o grau da nossa relação.
"Espera... Amor, as professoras devem estar lá com ela... Podemos ir amanhã, quando você estiver mais..."
"Eu vou ver minha filha hoje!" Falei, de repente bravo, uma enxurrada de emoções varrendo todo meu corpo. Arregalei os olhos ao perceber o que havia dito, Amaury dando dois passos para trás. Era isso. Eu não havia entendido esse amor ainda, não sabia o porque meu coração ficava para trás toda vez que eu a deixava, demorei para perceber o óbvio.
"Sua o que?" Amaury perguntou, calmo e devagar.
"Por favor... Só me leva até ela..." Pedi, minhas pernas falhando com o medo, não saber o que houve, imaginar que ela estava sozinha, que eu fui tolo em não compartilhar com meu marido o que vinha sentindo e que por minha culpa ela estava lá ainda, me fez quase ir ao chão. Amaury me segurou, firme. Pegou as chaves, os documentos e me enfiou no carro.
Ele nunca dirigiu tão rápido quanto naquela noite.
Estávamos no hospital, esperando notícias, Helena ali também, ela era uma boa mulher, cuidava e se preocupava com as crianças.
"Alice?" Todos levantaram quando o medico apareceu.
"Como ela está?" Perguntei, minhas mãos tremiam, meus olhos cheios de lágrimas, já fazia três horas que estávamos ali.
"Ela está bem, a convulsão foi cuidada a tempo, a senhora fez um ótimo trabalho, com o primeiro socorro." Ele apontou Helena. "Ela passou por diversos exames e em nenhum teve alteração, acreditamos que foi o susto, com a dor e a possível falta de ar, que acarretou o estado dela, realizamos raio X, tomografia, ecoencefalograma... Ela está bem, apenas um hematoma pela batida, irei receitar uma pomada para melhorar logo, ela ficará em observação vinte e quatro horas." Eu respirei, segurando o braço do meu marido, ele me olhava, completamente surpreso, possivelmente por nunca me ver assim antes. "Ela acordou a cinco minutos, chamando por alguém chamado Di." Eu sorri, minha menina esperta.
"Sou eu." Falei. "Eu vou entrar e ficar com ela, até a alta." Falei, observando os dois adultos que me acompanhavam, Helena concordou.
"Eu vou também." Amaury, para minha surpresa falou.
"Desculpa, mas no quarto onde ela está só pode um acompanhante." Eu suspirei.
"O senhor pode mudar, vamos arcar com todas as despesas." O médico assentiu para a fala do meu marido, dizendo que em poucos minutos uma enfermeira viria nos chamar.
"Diego, as coisas dela querido." Helena me entregou uma mochilinha. "Depois você leva ela pra mim." Eu apenas balancei a cabeça, concordando. "A cadeirinha tá no meu carro..."
"Eu pego... E coloco no nosso." Amaury quem falou, saindo dali rapidamente com a mulher.
Quando ele voltou, alguns minutos depois e prestes a perguntar algo, a enfermeira apareceu, dizendo que podíamos ir até a garota, entramos no quarto do hospital, a pequena estava observando o lugar com seus olhos assustados, enquanto uma enfermeira observava sua ficha.
"Di!" Ela gritou, dando as mãozinhas, sua testa com um galo gigantesco e roxo, suspirei aliviado, indo até ela sem ao menos prestar atenção em alguém.
"Meu amorzinho!" Falei, a segurando em meu colo, a garotinha se agarrando a mim. "Que susto!" Falei, olhando seu rostinho bonito, meu coração se aquecendo, todo aquele amor que eu vinha cultivando durante esses meses, se dobrando, multiplicando e fazendo morada em meu ser.
"Tutooo" Ela repetiu, me fazendo rir, enquanto tudo o que eu mais queria era chorar.
"Então essa é a Alice?" Maury perguntou, sua voz calma, a expressão indecifrável.
"Essa é a Alice." Falei, observando os olhos da menina encontrarem os do mais velho, ele piscou atordoado.
"Eu preciso resolver uma coisa. Já volto." Amaury falou, saindo como um furacão.
Eu arregalei os olhos, completamente chocado com a reação do maior.
"Tade?" Alice perguntou, eu sorri um pouco, me concentrando cem por cento nela.
"Não faço ideia pequena Lice."
A manhã foi chegando e com ela a pequena acabou dormindo novamente, havia colocado o bebê no seu berço do hospital quando ouvi a porta abrir.
Amaury entrou por ela, em sua mão havia uma pasta.
"O que é isso?" Perguntei, completamente confuso.
"Vem... Vem me ajudar." Eu fiquei confuso.
"Vamos Diego! Temos que preencher... Pra poder levar nossa filha pra casa." Eu arregalei os olhos.
"São?" Perguntei, ou tentei, já voltando a chorar.
"São! Meu sonho é ter uma família com você amor, devia ter me contado que encontrou nossa filha antes, ela te ama, você ama ela e eu amo você... E acho impossível não amar aquela bolinha de fofura ali." Ele disse apontando com o dedo.
"É sério?" Falei, meu coração explodindo, transbordando de amor.
"Claro que sim... Não tem como ser mais feliz, afinal." Eu sorri, indo até ele e o beijando, um beijo com gosto de amor, dscoberta e sonhos, iríamos ser papais.

"Eu vou!" Amaury falou em meu ouvido, deixando um beijo em meu pescoço, murmurando algo sobre ser cheiroso sempre, eu estava sonolento de mais para entender, voltei ao meu sono, já que Amaury foi pegar Alice, que chorava em seu berço. Porém, acordei com uma movimentação na cama, o maior colocou o bebê em seu peito, ela ainda tinha dificuldades para dormir sozinha, que apenas fechou os olhos voltando a babar com sua chupeta na boca, eu deitei em seu braço, me aconchegando nele, sentindo seu perfume misturado ao cheirinho de leite e pomada para assadura.
"Se nossa história tivesse um final, como nos contos de fadas... Você acha que esse seria o famoso "fim"?" Perguntei sussurrando, com medo de acordar nossa filha, meu marido me olhou, o mesmo amor de sete anos atrás.
"Não... Amar você é um conto de fadas, realmente, mas não há um fim... Apenas novos começos."
"Parece bom pra mim..." Falei, vendo o meu grande e eterno amor sorrir.

Até um novo começo...

Finalizar essa fic assim foi muito especial pra mim.
Eu não queria um fim.
Não um fim.
Apenas novos ciclos, novos começos.
É assim que eu quero me lembrar dela.
Obrigada por quem me acompanhou até aqui, por quem sofreu e vibrou com o casal.
Obrigada! Obrigada! Obrigada!
Até...

Observação:
Existem dois capítulos com referência a oração ao tempo.
No primeiro Diego e Amaury lutam com a distância, com o tempo, eles sobrevivem a força que os dias, meses, tem em uma relação.
No segundo os dois vivem a oração ao tempo, vivem tudo aquilo que o tempo ocasionou na vida deles... Eles finalmente estão onde deveriam estar.

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