Sem medo de amar

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"Ontem te falei que você é tudo que eu mais quero
E o meu coração só tem lugar pra você, só você
Essa mistura louca de desejo
Me perco toda vez que eu te vejo
Eu sei, sem você não tem rima a minha canção"
(Onze:20)

"Isso é injustiça... Falta de amor, eu diria..." Eu cruzei os braços, olhando o maior, ele tinha um bico fofo em seus lábios cheios, daqueles que da vontade de morder, enquanto me encarava como uma criança triste.
"Não seja dramático... É uma ida ao shopping apenas." Ele bufou.
Hoje as meninas e eu decidimos ir ao shopping, a questão é que eu ainda não havia escolhido uma roupa e nem possuía maquiagens para me montar, por isso iríamos atrás de um lookzinho, para que amanhã eu pudesse usar... Com isso, a Tata teve a genial ideia de fazer uma noite das garotas, então no apartamento da Thati e do Cauã ficariam os meninos e no meu as meninas, a ideia era que eles nos vissem apenas quando estivéssemos prontas. Amaury, odiou tudo aquilo.
"Qual é... Você sempre gostou dos meus palpites em suas roupas..." Ele tentou novamente, estávamos a bons quinze minutos naquele diálogo, coloquei a mão em seu rosto, um carinho doce em sua barba.
"Isso é mentira, eu amo fazer várias coisas com você... Menos compras." Declarei, vendo o maior fazer mais drama ainda, um ótimo ator com certeza. "Vamos lá... Vai ser legal... Beber cerveja e ver jogo... Você nunca assiste, porque eu não gosto, essa é sua oportunidade... E aí amanhã você vai poder lidar com toda a experiência de me ver montada e linda." Comentei, sorrindo ansioso para aquilo, me lembrando do panfleto de um concurso de músicas e drags, mas não comentando sobre aquilo, não ainda. Amaury me pegou de surpresa, passando os braço em volta da minha cintura e me puxando para seu peito.
"Se ficar com medo..." Ele começou e eu sorri, sentindo seu cheiro gostoso, ele sabia que as vezes eu odiava dormir sozinho ou um local estranho.
"Eu mando mensagem e você vem." Completei, passando os braços por seus ombros.
"Se ver uma barata?" Eu ri alto. Idiota. Fiz um carinho em sua nuca.
"Você vai vim com meus gritos, não se preocupe." Ele concordou, sorrindo enquanto me encarava, a expressão mudando um pouco, vacilando, quando seus olhos caíram para os meus lábios, segui seu movimento, não pude me conter ao encarar sua boca, levemente aberta, sua lingua umedecendo os mesmos, deixando-os com um aspecto brilhante e convidativo, subi meu olhar para o seu, observando suas pupilas enormes, dilatadas.
"Talvez eu te beije e se você não quiser, se não estiver preparado e isso for te preocupar de alguma maneira depois, eu preciso que você se afaste... Porque eu não tenho forças para fazer." Ele falou, tão sério, mas sua fala sendo como música para meus ouvidos, suspirei, sorri um pouco e segurei sua nuca com mais força, fiquei na ponta dos pés, sentindo nossos corpos se encostarem.
Então ele quem se aproximou, vendo o passe livre para fazer, suas mãos apertando minha cintura enquanto sua boca colava na minha, um gemido saindo sem querer quando ele forçou sua língua para dentro, nossos corpos se conversando como velhos conhecidos, nossos gostos se misturando.
Amaury me agarrou e me virou de surpresa, me colocando sobre o balcão da pia, minhas pernas deslizando em volta da sua cintura, suas mãos apertando minhas coxas, que por conta do shorts que eu estou usando, ficaram expostas pra ele.
"Já convenceu o... AHHH MEU DEUS!" Nós nos soltamos rapidamente, Thati parada como uma estátua, ela tinha as bochechas vermelhas e os olhos arregalados. "Me desculpa..." Ela pediu, Amaury me descendo da bancada e me colocando no chão. "Meu Deus! Vocês são lindos... Nossa... Queria ser a mortadela desse sanduba!" Eu arregalei os olhos, Amaury jogou a cabeça para trás, rindo alto. "Quer dizer... Nossa... Casem e me adotem?" Foi seu pedido, eu gargalhei e caminhei até ela.
"Chega disso garota! Vamos... Amaury quando eu chegar... Não quero você aqui." Finalizei, jogando um beijinho no ar para o rapaz que revirou os olhos.
"Pra merda, Diego!" Ele falou alto, enquanto eu ria e arrastava minha amiga para fora do apartamento, precisávamos encontrar a Tata e eu me atrasei um pouquinho, mordi o lábio ao lembrar do porque.

Eu me olhava no espelho sorrindo, Thati que já estava pronta fazia um penteado em meu cabelo, a ideia era prender as mechas rosas para cima, em duas xuxinhas, eu terminei de passar o batom assim que minha melhor amiga terminou de prender meu cabelo, Tata saiu do banheiro.
"Meu deus!" Ela disse, me observando, sorri nervoso, meu coração acelerado e feliz ao observar meu reflexo no espelho. "Você está tão linda... Seu cabelo... Sua roupa..." Eu vi Thati concordar.
"Vocês também meninas! Lindas..." Me levantei e fomos as três de frente para o espelho. "Todas nós..." Falei, abraçando elas de lado.
Nos estávamos em uma vibe as três espiãs demais, eu estava com uma saia cheia de pelinhos e um corpped, os dois na cor amarela, no pé tinha uma bota sem salto branca, Thati e Tata também estavam com o mesmo modelo de roupa, porém o da Tata era vermelho e da Thati verde. Eu estava sinceramente adorando a referência ao desenho, mesmo que não fosse necessariamente uma fantasia, nós apenas chegamos no consenso de que o pelo da saia valorizava nosso bumbum.
"Então... Vamos matar aqueles bobalhões?" Tata perguntou rindo, eu ri também, porém menos. Admitindo para mim mesmo que estava nervoso com a reação do Amaury, eu queria muito, muito mesmo que ele gostasse, que me achasse bonita, mas eu sabia que ele poderia estranhar, pois nunca me viu assim antes. Suspirei, as meninas indo para a porta do quarto, me obrigando a andar atrás delas.
Quando saímos no corredor, pude ouvir a voz dos garotos, Tata dizendo que tinha avisado que eles poderiam vir para cá, afinal estávamos prontas.
Aparecemos na sala, as três e pude ver os olhos dos meninos sobre mim e em seguida sobre as outras garotas, mas o do Amaury não, o dele continuou fixo em mim, havia um brilho ali que eu nunca presenciei antes.
Ele sorriu, se levantando e vindo até mim.
"Eu não sei o que dizer..." Foi o que saiu de sua boca, eu ri nervoso, queria sair correndo porque não sabia se era bom ou ruim.
"O que você achou? De verdade? Ficou bom? Eu exagerei?" Perguntei, mesmo sabendo que estava bonito, eu havia gostado, não era bobo e tinha minha alto estima. Amaury aproximou os lábios dos meus ouvidos.
"Ficou bom?" Ele perguntou, seu hálito quente batendo em meu pescoço, me fazendo arrepiar, ele riu nasalado ao constatar isso. "Eu estou entre angelical e tudo que me imagino fazendo com você nessa sainha." Eu arregalei os olhos, completamente corado e quente, esse homem com a capacidade de me deixar exitado apenas com uma frase promíscua. Encarei os dois casais, que fingiam não nos ver, mas claramente nos observavam.
"Você tá linda, Diego." Rafael falou. "Diego né?" Eu parei pra pensar, não havia entrado nesse quesito de nome, então apenas decidi concordar.
"Diego, parece bom." Concordei, Cauã se aproximando e pegando minha mão, me rodando no ar.
"Linda..." Ele comentou e me abraçou. "É bom te ver bem, depois do jeito que te encontrei. Você merece." Deixei um beijo em sua bochecha.
"Obrigado... De verdade." Ele apenas concordou com a cabeça e se afastou, Thati e Amaury nos olhando com sorrisos carinhosos.
"Então... Partiu?" Rafael falou, erguendo as mãos pra cima e gritando, Tata e ele divindo a mesma personalidade. Encarei Amaury e não pude deixar de sorrir quando o maior pegou minha mão.

Tata e eu dávamos o sangue nos passinhos de dança, Thati e Cauã estavam em uma vibe bem casalsinho apaixonadinho então nós decidimos dar um tempo com a zoeira e deixar os dois curtirem, Rafa e Amaury eram responsáveis pela cerveja e pelos passos de dança mais estranhos e sem sentido que eu já vi.
"Eu preciso muitoooo, muito mesmo de algo salgado." Falei, um sorriso em meu rosto ao ver alguns vendedores ao redor do quarteirão.
"Você quer ficar aqui? E eu busco pra você?" Amaury se aproximou ao me ouvir falar, perguntando enquanto segurava minha cintura, eu estava gostando daquilo, da aparente necessidade que ele tinha em manter suas mãos em mim.
"Não... Eu vou com você." Falei observando os nossos casais de amigos, que agora dançavam juntos, cada um com seu par, Amaury seguiu meu olhar e apenas concordou, avisando os rapazes e me arrastando para alguma das barraquinhas.
"Amor, o que quer comer?" Perguntou, observando o lugar, o amor saindo com tanta naturalidade como sempre, me perguntei se agora o sentido do apelido havia mudado para ele, porque pra mim sim, o que antes me causava um sorriso e um pouco de tristeza, afinal eu achava que era apenas porque ele me considerava seu melhor amigo, hoje me causa borboletas no estômago.
"Um chips tá bom, depois vamos comer algo..." Ele concordou, sabendo que quando eu pedia algo salgado, era porque possivelmente minha pressão estava abaixando, não era o caso, mas eu sabia que se não comesse, ia acontecer... Uma das drags que estava na fila puxou assunto comigo, elogiando minha maquiagem, me deixando feliz, já que foi a primeira vez que fiz algo assim, Amaury então disse que ia comprar o salgadinho, enquanto eu conversava e pediu pra eu não sair dali.
"Diego?" Eu arregalei os olhos, gelando ao ouvir a voz, que a três dias atrás gritava comigo, respirei fundo.
"Tudo bem?" Lana, a drag que conversava comigo perguntou, ao ver minha reação.
"Tá sim... Licença, eu vou... Falar com ele." Ela não tinha uma expressão boa, como se esperasse o pior, bom eu esperava a mesma coisa... Me virei, vendo os olhos do rapaz varrer meu corpo.
"Rafael..." Cumprimentei, minha voz saindo mais fria do que eu realmente esperava que fosse acontecer.
"Você... Eu... Eu vim encontrar você, eu falei pra não vim assim, pensei que tivéssemos concordado?" Seu tom de voz era doce, como se nao entendesse o que acontecia. Eu suspirei, segurando a ponte do meu nariz entre meus dedos. Encarei o maior e me aproximei.
"Não devo ter entendido em meio a sua gritaria." Comentei, observando o olho direito do rapaz, ainda estava um pouco roxo, Cauã realmente tinha acertado em cheio.
"Somos namorados. Eu disse que não viria com você assim..." Sua voz também estava fria, uma mudança drástica, um tom mandão nela, estreitei os olhos.
"Você não manda em mim, não viemos juntos e sobre o namoro... Você realmente acha, sério mesmo, que depois de tudo, vamos continuar juntos?" Conclui, eu não ia aguentar até conseguir falar com ele, eu tinha que colocar um ponto final nessa história, aquilo já havia me esgotado por tempo suficiente.
"Você pirou é?" Ele disse, se aproximando, seu nariz quase encostava no meu, ele meio abaixado para ficar cara a cara comigo, não desviei o olhar e nem vacilei. "Não é assim que funciona."
"Na porra da sua cabeça! Eu não quero mais nada com você, não depois daquela merda toda! Não depois de tudo." Falei, minha voz saindo baixa, meu maxilar precionado com força, eu não queria que aquilo saisse dali, seria vergonhoso.
"Tudo bem aqui?" Ouvi a voz do Maury, dei um passo pra trás, me permitindo baixar a guarda, agora que não estava sozinho, um passo foi o suficiente para que a mão, grande e quente do maior, repousasse em minha cintura, me dando estabilidade.
"Então é isso não é? Seu casinho voltou, aí você decide terminar..." Rafael soltou uma risada nasalada, balançando a cabeça enquanto passava as mãos no cabelo. "Você realmente não passa de..." Ele começou a falar, seu dedo em aste, apontado para mim.
"Você não ouse terminar, ou eu juro que arranco a porra da sua língua." Amaury disse, rápido em me soltar e agarrar a camiseta do rapaz, arregalei os olhos, sem saber o que fazer, os dois eram grandes e eu não conseguiria separar nada, se uma briga começasse.
"Amaury... Deixa ele pra lá... Vamos por favor." Falei, minha voz trêmula, não era a programação que eu queria pra hoje.
"Vai fazer o que em? Tá contente com o resto que eu deixei pra você?" Rafael provocou, Amaury mesmo sendo grande, era menor que ele, mas naquele momento, até mesmo o maior vacilou sobre o olhar do meu melhor amigo, eu nunca havia visto ele assim antes.
"EU VOU MAT..."
"AMOR!" Gritei, Amaury parando de falar e virando a cabeça me olhando, o punho erguido, pronto pra acertar meu ex, meu coração estava acelerado pelo que falei, eu nunca havia falado, nunca havia retribuído o apelido tão carinhoso, saiu totalmente sem querer, mas pelo menos ele prestou atenção em mim, então continuei. "Vamos voltar, eu não quero mais ver a cara do Rafael." Amaury pareceu voltar a consciência e perceber que aquilo não valeria a pena.
"A gente ainda vai conversar." Rafael falou, sua voz saindo rouca, ele havia ficado com medo de levar outro soco, certeza. Apenas dei as costas e comecei a caminhar, senti quando Amaury chegou ao meu lado, sua mão firme na minha.
"Desculpa... Desculpa. Mas ver ele fazendo aquilo, falando aquelas coisas de você..." Eu parei no meio do caminho, sorri um pouco.
"Está tudo bem, obrigado por tentar me defender, mas vamos esquecer ele certo? Acabou. E é isso." Conclui, eu realmente estava mais tranquilo após dizer que não queria mais nada com o maior, eu estava livre agora, livre para ser eu mesmo, pra fazer o que quisesse, pra ficar ao lado de quem eu amo e me ama de volta, livre para amar e ser amado. Arregalei os olhos e soltei uma risada, Maury franziu a testa, confuso com minha reação.
"Eu amo você." Falei óbvio, o maior deu um sorriso estranho, procurando algo em meu rosto, ele devia ter achado que eu estava maluco.
"Eu amo você também..." Ele respondeu mesmo assim, me fazendo rir da sua cara de espanto.
"Eu não tô mais com medo." Então ele entendeu, sua ficha caindo ao se lembrar da nossa conversa, eu não estava com medo, eu queria viver aquele amor. Se um dia as coisas dessem errado, se a gente em algum momento se perdesse em meio a um relacionamento, nós daríamos um jeito, um jeito de voltar um pro outro, de se reencontrar. O que eu não podia fazer era me privar de viver esse amor, me privar de estar com ele, de beijá-lo, de acordar ao seu lado todos os dias possíveis, de ouvir cada nova paranoia dele enquanto eu achava tudo uma besteira, de rir ao seu lado das nossas piadas idiotas que ninguém mais entendia, de cantarmos juntos após uma ou duas cervejas, das nossas implicâncias bobas... Eu não podia ficar sem isso, não havia a possibilidade de uma vida onde eu pudesse ficar sem amá-lo.
"Você não está com medo..." Ele falou, repetindo minhas palavras como se não acreditasse, meus olhos um pouco cheios de água. "Nem eu... você não está mesmo?"
"Nenhum pouco." Ele suspirou, como se um peso tivesse sido tirado dos seus ombros.
"E agora?" Ele perguntou, eu revirei os olhos.
"Você me beija, idiota." Foi o que ele fez, sem se importar com a música nada romântica, sem se importar com a quantidade de gente ao nosso redor, o gosto dos seus lábios misturados a cerveja, sua lingua acariciando a minha enquanto suas mãos passeavam por minha cintura e as minhas se enroscavam em seus fios de cabelos curtos.
"Isso é..." Ele começou, mas não soube o que dizer, sorri, entendendo perfeitamente, naquele momento não éramos palavras, apenas sentimentos.
"É... Eu sei." Conclui, voltando a beijá-lo.

Felizes??
O que vocês acham que nos aguarda no próximo capítulo?
Hahahahahaha (risada maléfica

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