Que sorte a nossa

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"Tantos sorrisos por aí e você querendo o meu
Tantos olhares me olhando e eu querendo o seu
Eu não duvido não, e não foi por acaso
Se o amor bateu na nossa porta, que sorte a nossa"
(Mateus e Kauan)

Diego~

Acordar nunca foi tão confuso, eu ainda estava triste por tudo que ocorreu, mas ao mesmo tempo mais feliz do que nunca, me sentia livre de amarras que eu mesmo criei durante anos, onde me sentia insuficiente e com medo para me relacionar com Amaury, sempre pesando em uma balança nossa amizade e o meu amor, nunca me dando uma chance de lutar pelo sentimento, de ter coragem de encarar isso, era tão bonito, tão puro e me fazia tão feliz, que eu acabei deixando o medo cegar meus olhos.
Também acordei certo sobre o que eu precisava fazer, e isso significa que eu queria encontrar Rafael, para conversarmos e colocar todos os pagos nos is, nossa briga foi feia, mas não houve um ponto final e eu odiava coisas pela metade, o que é bem irônico, considerando que eu aceitei e dei um amor pela metade por quase um ano.
Me movimentei um pouco, sentindo o aperto de ferro dos braços do Amaury, em volta do meu corpo, me movi novamente, tentando me soltar, sem acordar o maior, o que estava sendo praticamente impossível, arregalei os olhos ao sentir algo duro pressionar minha bunda e corei, sentindo todo meu corpo esquentar de vergonha ao ouvir Maury arfar, se movimentando contra mim e acordando também, eu tinha consciência que era normal e que acontecia, mas depois de ontem isso parece muito mais sugestivo do que deveria realmente ser, me causava muito mais sensações do que era apropriado para nossa atual situação.
"Aí meu... Desculpa..." Ouvi a voz do maior enquanto ele se afastava de mim, ele se levantou da cama, suas costas bonita e bem desenhada estava nua, já que ele havia vestido apenas uma Bermuda para dormir, ele se virou de frente, me fazendo arregalar os olhos, o maior corou ao perceber a direção que eu, vergonhosamente, encarava e correu para o banheiro, me fazendo gargalhar de sua vergonha, como se não estivéssemos pelados no banho ontem. Revirei os olhos e me levantei, olhei no espelho e me assustei com o que vi, eu tinha olheiras enormes e parecia mais magro e palido, apenas sombras daquilo que eu fui um dia, entendi e encherguei pela primeira vez o que Thati havia me falado... Quando foi que eu deixei isso acontecer? Me perguntei, colocando a mão sobre meu peito e tentando entender como eu não percebi o que fiz comigo mesmo.
"Di..." Amaury me chamou, tirei meus olhos do espelho, vendo o mais velho parado na porta, dessa vez vestido com um shorts leve. "Você continua lindo, sempre será..." Eu concordei, não adiantaria discutir isso no momento, as mudanças sendo perceptíveis até para quem estava de fora, me perguntei se ele em alguma situação teve vontade de falar, de me contar... Também me lembrei da minha mãe, em sua última visita, ela parecia preocupada, estava sempre me perguntando se andava dormindo, comendo e até mesmo se estava bebendo de mais, naquele dia eu não entendi... Mas hoje, eu sabia o porque da preocupação.
"Obrigado." Falei, sendo sincero,  agradecendo o elogio. "A gente pode ir pro café e tentar um dia normal?" Perguntei, eu queria poder começar o dia bem, antes de enfrentar a faculdade e com ela, Rafael.
"Claro... Podemos sim! O que acha de vitamina de morango? Sua preferida?" Ele perguntou, sua voz mansa e um pouco alegre, tentando aliviar o clima que se instalou no quarto... Eu sorri, ele estava se esforçando para me ajudar e eu também faria isso por mim mesmo, por mais que eu gostasse muito do Rafael, o fim era certo entre nós dois, mais cedo ou mais tarde, ele chegaria... Talvez por falta de amor, talvez pela forma como ele estava me tratando, talvez eu acordasse em algum momento, ou afundasse e deixasse as coisas piorar... Eu não sei. Mas estava lá. Próximo e doloroso.
Saímos do quarto de mãos dadas, caminhamos até a cozinha e me assustei ao ouvir vozes, logo as reconhecendo, quando entramos no ambiente a mesa do café já estava posta e nossos vizinhos sentados conversando baixo, como se nos esperassem.
"DI!" Thati pulou de sua cadeira, vindo até mim a passos rápidos e me abraçando forte, de uma forma que eu não sabia que seus braços finos pudessem fazer. Enfiei meu rosto em seu pescoço, sentindo seu cheiro famíliar e protetor, estava tudo bem, eu ia ficar bem. "Você está bem?" Perguntou, seu tom de voz preocupado, como nunca antes.
"Estou sim... Vou ficar..." Eu não dei explicações, duvido que Amaury tenha contato, mas sabia que eles não me precionariam e hoje mesmo eu contaria a ela, deixando claro que ela podia comentar sobre com Cauã, já que ele me salvou, me virei para o rapaz, que esperava em pé. "Você... Se não fosse você..." Falei apontando para o rapaz, ele veio até mim e me abraçou forte, como uma muralha que esconde um jardim, ou algo frágil.
"Que bom que está tudo bem..." Falou, enquanto me apertava.
"Obrigado! Muito obrigado... E me desculpa por te colocar nessa..." Comentei, suspirando triste ao envolver pessoas que não tinham nada haver na história.
"Não... Não fala assim! Eu queria socar a cara daquele otario faz um tempo." Eu arregalei os olhos e não consegui segurar a risada, não quando Amaury explodiu em sua gargalhada esquisita,  que sempre era melhor que a piada em si.
Nosso café da manhã foi leve e engraçado, não tocamos mais no assunto e pela primeira vez me permiti ouvir histórias de quando os meninos estavam em Nova York, meu coração cheio de saudades, feliz ao escutar que Amaury conquistou coisas incríveis, como por exemplo um papel principal em uma apresentação na Juilliard.
"Também teve a vez que ele bebeu de mais e acabou ficando com um garoto ruivo..." Cauã começou, um sorrisinho enquanto contava a história, meu peito se apertou ao me lembrar da foto.
"Cauã... Não!" Amaury repreendeu, mas tinha um sorriso em seu rosto, eu sabia que era por minha causa que ele não queria o assunto vindo a tona.
"Ahhhh agora eu quero saber!" Thati quem abriu a boca, minha perna indo de encontro com a canela dela, a fazendo gritar.
"Que foi Thati?" Perguntei, fingindo o surpreso, sobre os olhares dos rapazes confusos.
"Nada... Eu tive uma cãibra." Ela respondeu vermelha, seu olhar acusador, enquanto eu fingia um sorriso inocente.
"Tem que ver isso de cãibra toda hora..." Cauã falou preocupado, minha melhor amiga começou a ficar vermelha enquanto eu arregalava os olhos, entendendo a situação, Amaury já me olhava, ele parecia segurar a risada tanto quanto eu. "Quer dizer... Ela teve... Esses dias, enquanto limpava casa." Cauã justificou, piorando mais ainda a situação.
"Claro... Claro..." Amaury falou de um jeito suspeito, eu enfiando um pedaço de pão na boca para evitar que a gargalhada saisse, sabia que Thati me contaria quando se sentisse segura para isso.
"Vamos voltar pra história! Por favor..." Thati quem pediu, eu evitava olhar Amaury, com medo de rir.
"Então... Não era nada de mais, só ele ganhando um olho roxo..." Eu estranhei, não era esse fim que imaginava para história, não depois da foto onde o rapaz e meu amigo quase se engoliam.
"Como assim?" Perguntei confuso, sentindo os olhos do meu melhor amigo sobre mim, avaliando minhas reações.
"Ele saiu com o rapaz, bêbado, quando eles estavam... Bem... Ele chamou o nome de um certo ruivo que havia ficado no Brasil." Por mais louca que fosse a história, eu acabei sorrindo.
"Ahhh por isso um ruivo?" Perguntei em tom de brincadeira, mesmo que agora eu realmente quisesse saber.
"Não pode me julgar por tentar." Ele confessou, sem ao menos ficar vermelho.
"Talvez eu possa." Respondi, o encarando de cima, a baixo, Amaury arregalando um pouco os olhos pela provocação que era tão comum entre nós, mas que não acontecia a tanto tempo.
"Nossa... Tá calor aqui né." Thati falou, um sorriso em seus lábios.
"Pois então, cuidado com a cãibra." Respondi, já gargalhando, dessa vez ninguém conseguiu segurar a risada, nem mesmo a garota, que me chutou de volta, enquanto as lágrimas escorriam por seu rosto, pela risada.

"Diego... Se você quiser, nós voltamos pra casa e fingimos que você está com alguma doença contagiosa." Maury falou, enquanto segurava firme em minha mão. Estávamos de frente pro prédio da faculdade, eu encarava o lugar com receio do que encontraria, ou melhor, de quem encontraria. Eu não sabia como seria a conversa, mas tinha total consciência que não seria fácil.
"Não. Eu não posso fazer isso, é como aceitar novamente tudo que já aceitei, eu vou ir." Falei convicto. "Mas promete não me deixar sozinho?" Perguntei, olhando em seus olhos, aqueles tão conhecidos e que me conheciam na mesma proporção, de volta.
"Eu não vou amor... Não vou te deixar sozinho, eu tô aqui pro que precisar, a hora que precisar." Ele disse, deixando um beijo em minha mão, que estava entrelaçada na sua, não pude evitar vagar até o beijo trocado ontem, o único, não tocamos no assunto, sabemos que não é hora, que tenho resolver algumas coisas antes de conversar com ele, mas não consigo evitar não pensar no que o futuro anda nos preparando, em como será nossa próxima conversa franca.
Entramos no prédio de artes cênicas, alguns dos nossos colegas nos cumprimentando, enquanto passávamos por um grupo, um deles em especial sendo amigo do Rafael, eu fingi não ver seu olhar sobre mim, como se me julgasse ou culpasse por algo, o aperto em minha mão aumentou, me fazendo perceber que Amaury também havia visto, não foi uma coisa da minha cabeça.
Chegamos na sala, não havia sinal do Rafael, quando a professora entrou na sala seus olhos caminharam para nossos grupinho de amigos, ela então avisou que os ensaios ficariam mais centrados em Amaury, Thati e eu, pois Rafael avisou que não compareceria na faculdade nesses dois últimos dias úteis que faltavam, eu apenas suspirei, um pouco de alívio e ansiedade se instalando em meu peito.
O dia correu rápido, Amaury parecia um cão de guarda atrás de mim, ele não me deixava sozinho por muito tempo e ficava de olho em todos que se aproximavam, por algum tipo de milagre, nós estávamos almoçando e o maior não havia aparecido ainda.
"Cadê o Maury" Tata quem perguntou,  Rafael e Cauã olhando em volta, como se também o procurassem.
"Não sei... Ele sumiu mesmo." Foi Thati quem respondeu. "O que é um milagre, já que só falta ele fazer xixi no Diego hoje." Eu estava com a comida na boca e acabei soltando uma risada muito alta e muito estranha, parei na hora, a mão sobre a mesma, como se tivesse fazendo algo extremamente errado.
"Você não precisa fazer isso Di, sua risada é linda" Rafa Vitti falou, me fazendo perceber que eu estava reproduzindo um comportamento que aprendi com Rafael, não rir alto pois chamava muita atenção das pessoas e não era necessário.
"Desculpa... Eu... É o costume." Todos me olharam com sorrisos calmos, a mesa caindo em um silêncio que para minha surpresa não era ruim, nem desconfortável, apenas que em situações como a minha, não se há muito o que falar.
"E lá vem o rottweiler..." Tata disse apontando com a cabeça, eu apenas neguei, sabendo de quem ela estava falando.
"Tá mais pra Golden, quando o assunto é o Diego então..." Eu bufei, revirando meus olhos para as palhaçadas dos meus amigos, mesmo que risse um pouco.
"Não sejam malvados..." Corrigi eles, que apenas deram de ombros, ignorando completamente o que eu falei.
"Ele tá trazendo um presente..." Cauã observou e eu acabei cedendo a curiosidade, vendo Amaury quase nos alcançar com uma caixa de um tamanho médio nas mãos. Eu arregalei meus olhos...
"Se alguém tá fazendo aniversário me desculpa? Eu esqueci mesmo, mas prometo..." Minha fala foi cortada, a caixa sendo colocada em minha frente.
"Pra você." Amaury falou, deixando um beijo em minha testa, todos olharam confusos, assim como eu.
"Péra! É teu aniversário e você esqueceu?" Tata perguntou, apontando para mim, eu neguei com a cabeça.
"Abre logo..." Amaury disse, se sentando ao meu lado, um sorriso persistente em seu rostinho bonito.
"O que é isso?" Perguntei com um sorriso, quase pulando no banco em que estava sentado, Amaury me olhava com seus olhos brilhando, sabendo perfeitamente o quanto eu amava ganhar qualquer coisa, mesmo que fosse uma bala, o ato de presentear era o suficiente para me deixar feliz pelo resto do dia. Me levantei para poder abrir a caixa direito, tirei a tampa e não acreditei no que via dentro.
"Você..." Falei, já emocionado, meus olhos se encheram de lágrimas, um sorriso largo em meu rosto, meu coração batendo forte em meu peito enquanto observava o conteúdo, naquele momento, se possível, amei Amaury um pouco mais.
Puxei o conteúdo de dentro da caixa, a peruca loira escorregou entre meus dedos, os fios lisos e compridos macios contra minha pele, enquanto eu observava algumas mechas rosas entre os fios.
"Espero que goste da cor..." Eu soltei o presente com cuidado e pulei no maior, abraçando seu corpo apertado.
"Obrigado! Obrigado! Eu te amo, te amo!" Falei, beijando todo seus rosto, Amaury me sentando em seu colo com as pernas para o lado e me segurando pela cintura enquanto ria da minha reação, eu não podia me importar menos.
"Tá... Mas porque da peruca?" Cauã perguntou, voltei pra real e parei de beijar o maior, quando fiz menção de me levantar, seus braços apertaram ao meu redor, me mantendo ali.
"Ah... Eu tava... Na verdade eu estou." Firmei, respirando fundo, mesmo com medo das reações deles, sabia que Amaury estava ali. Ele não deixaria nada acontecer. "Eu vou montada, uma drag." Todos abriram a boca, chocados por minha fala.
"Ótimo..." Tata quem falou. "Já era eu ser a mais gostosa! Valeu Diego!" Todos na mesa riram e desviaram o assunto, como se fosse algo normal. E era! É normal, está tudo bem... Eu não posso viver com esse medo, eu tenho que ser corajoso, suspirei e encostei minha cabeça na de Amaury.
"Tata tem razão." Ele sussurrou baixo, em meu ouvido, na intenção de que apenas eu escutasse, fiquei confuso.
"Com o que?" Perguntei.
"Acabaram a chances de ter alguém mais gostosa que você." Sua mão deixou um apertão em minha bunda, arregalei os olhos com o ato sem vergonha do maior, mesmo vermelho, tentei manter a pose e mostrei a língua para o rapaz, que deu sua risada engraçada e escandalosa.
Meu estômago virando um panapaná de borboletas.

Vocês gostariam de um capitulo para saber curiosidades sobre a fic/historia real?
A do domingo proces.
Beijos na bunda, até segunda!

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