○CAPÍTULO 1○

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Sokovia, 2012.

Sentiu aquele cheiro de ferrugem impregnar seu nariz. Aquela sala sempre tinha o mesmo cheiro. Se perguntava o que teria ali, já que sempre era mantida fechada. Passava por ela todas as manhãs e sempre tinha o mesmo cheiro. Escutou o que parecia ser um grito abafado. Alguém gemendo de dor. Olhou para cima, vendo as luzes piscarem um pouco. Ainda seguia a fila, mas diminuiu seus passos ao ver a porta de ferro semiaberta e a imagem de um homem sentado em uma cadeira, enquanto um equipamento parecia dar choques em sua cabeça.

- Não perdeu nada aqui, continue andando.- A guarda encostou um bastão nela a empurrando para que continuasse a andar.

Ela virou o corredor e entrou na sala onde os outros já estavam em fila, encostados na parede. Apenas esperando sua vez.

- Não fique com essa cara. Sabe que aqui tem coisas bem esquisitas.- Pietro sussurrou para ela. Aquilo não era mentira. Estavam há dois meses como voluntários no projeto da Hidra e cada dia que se passava viam ou ouviam coisas estranhas por aqueles corredores.

A sala toda branca era uma recepção por assim dizer para a sala onde ocorriam os testes. Viu a porta se abrir e dois guardas passarem carregando uma mulher loira desacordada. Aquilo a fez se aproximar mais de seu irmão, estava sentindo certo medo em entrar ali e sair daquele jeito.

- Vamos mudar o mundo maninha. Deixar ele mais seguro e longe das mãos de homens como Stark. - As palavras de Pietro eram carregadas de ódio. Ódio esse que os levaram até aquele lugar.

Após a morte de seus pais foram jogados em um orfanato decadente e imundo. Tiveram que lutar para sobreviver naquele lugar. Quando completaram a maior idade foram jogados para fora, como se fossem sacos de lixo. Viveram em uma igreja abandonada, até conseguirem se estabelecer em uma casa onde abrigava jovens órfãos da guerra. Alguns anos se passaram e encontraram a Hidra, o lugar que prometia transforma-los em pessoas importantes e que fariam algo de importante para o mundo. Mesmo com o mundo não ter feito nada com eles, além de machucá-los.

- Eu sei disso. Mas não quero acabar em um saco preto. - ela confessou, observando o próximo da fila ser chamado. - Ou ver você em um daqueles!

Pietro alcançou sua mão e a segurou, a fazendo olhar para ele.

- Estamos juntos nessa. Poder dos gêmeos.- ele brincou e apoiou a cabeça na parede. - Você está gelada! Se não se acalmar não vamos conseguir passas nos testes e seguir pro próximo passo.

- Maximoff!- O guarda que ficava na porta olhou para os dois. - A menina. É sua vez!

- Vai dar certo. Vou te esperar aqui!- Pietro soltou a mão dela e sorriu.

Wanda devolveu o sorriso e caminhou lentamente até o guarda. Ele abriu a porta para que os guardas saíssem com o garoto que parecia ainda acordado. Ela deu um passo pro lado os deixando passar e então respirou fundo e entrou.

A sala tinha uma porta vermelha, possivelmente onde os guardas esperavam para retirar os corpos dos que não aguentavam essa etapa. Ela engoliu em seco caminhando pela pista de metal até onde havia um X marcado no chão. Havia uma espécie de lança flutuando próximo aonde ela estava. Sentiu um frio percorrer por todo seu corpo. Aquilo a assustava.

- Você só tem que encostar nela, só isso.- Uma voz falou pela caixa de som da sala. Olhou para cima e encontrou uma câmera.

Deu mais alguns passos e com a mão trêmula, esticou o braço para tocar o objeto. Sentia uma onda de energia passar por seus dedos e antes mesmo de tocar naquilo, sentiu um grande choque e seu corpo levemente cair para trás.
Logo passos pesados se aproximaram dela, com os olhos entreabertos, viu dois guardas a levantarem e a arrastarem para a saída.

- Ela ainda está viva.- Um dos guardas falou no comunicador. Parecia receber ordens para colocá-la em algum outro lugar. - Vamos levá-la pro 5° andar.

- Será a primeira a ficar na cela nova.

Essa foi a última coisa que ouviu antes de apagar de vez.

Era capaz de sentir os dedos envolvidos em uma luva, tocarem a pele do seu braço. Conseguia ouvir claramente o que acontecia ao seu redor, mas não tinha forças para abrir os olhos. Uma agulha espetou seu braço,depois o outro e as costas da sua mão. Um bip devagar era ouvido ao fundo da conversa da médica e um guarda, imaginou.

- Apliquem de 3 em 3 horas. Se ela aguentou até agora, ela aguenta mais. Barão tem todas as esperanças nela.- A voz feminina ordenou. - Alguma alteração cerebral?

- Os neurônios dela não pararam um segundo. Embora esteja desacordada sua adrenalina está no máximo. Efeito do Tesseract possivelmente. Mas não são como os resultados do irmão.

Pietro. Sua mente se ascendeu com aquele nome. Até seus batimentos se elevaram. Queria acordar. Perguntar pelo irmão. Mas tudo que sentiu foi um aperto no peito e logo em seguida um zumbido nos ouvidos.

Novamente perdeu a consciência.

Mais uma espetada no braço. Sentiu o líquido correr em suas veias. Dessa vez conseguiu lentamente abrir os olhos. Fitou o teto cinza e sentiu uma máscara em seu rosto. Tentou mover seu braço mas sentiu algo de couro agarrado ao seu pulso.

- Calma. Deixa eu tirar isso!- Uma loira usando luvas se aproximou e retirou a máscara de oxigênio do seu rosto. - Chamem o Barão, ele vai querer ver isso. - Ordenou para um dos guardas que rapidamente saiu da sala.

- Pietro...- foi tudo que ela conseguiu dizer. Sentia todo seu corpo estranho. Ainda estava amarrada na cama, o que a incomodou e muito. Tentou puxar a mão novamente, mas foi impedida pela mulher.

- Isso é pra você não se machucar. Fique parada e você já vai vê-lo.

Nesse momento a porta se abriu. Barão entrou com um sorriso vitorioso no rosto. Logo atrás dele dois guardas entraram.

- Minha menina. - ele se aproximou com seu sobretudo preto e levou a mão até os cabelos de Wanda. - Seu irmão e você foram os únicos a sobreviverem em um experimento com 100 cobaias, quer dizer, voluntários. Esperei um de vocês acordar para ter certeza que tudo deu certo. - ele voltou a sua postura rígida e olhou para a médica. - Como está a enfermeira que ela atacou?

- Morta senhor. - A médica respondeu.

- Eu matei alguém? Do que estão falando?- ela começou a ficar nervosa.

- Não se lembra? Há dois dias atrás você tentou levantar da cama, quando ela tentou te impedir, você de alguma forma moveu um bisturi e a acertou no olho. Foi realmente incrível!

Como matar alguém poderia ser incrível? Aquilo estava errado. Não era isso que ela queria. O sorriso e as palavras do Barão a fizeram se sentir enjoada. Tinha que ir embora. Puxou novamente seu braço, mas não conseguiu se soltar.

- Deu certo. O que aconteceu é prova disso. Agora precisamos entender os efeitos do Tesseract em você. Levem ela pra cela, e a alimentem. Amanhã começaremos o treinamento dos seus dons.

- Quero ver o Pietro! - De alguma forma conseguia sentir sentimentos que não eram dela.

Tristeza, agonia, felicidade, entusiasmo. O sentimento de todos ali. Sua cabeça começava a doer e sentia algo querer se expandir para fora dela. Olhou para sua mão e viu um deslumbre de algo escarlate entre seus dedos.

- Ele ainda não acordou. Quando acordar você o verá. - ele se virou e olhou os guardas. - Tirem logo ela daqui antes que mate o resto da equipe. Levem pra cela de contenção.

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