○CAPÍTULO 22○

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O disparo da bala e o corpo caído.

O disparo da bala e o corpo caído.

O disparo da bala e o corpo caído.

- Você não me salvou, irmãzinha.

-PIETRO!

Acordou com seu próprio grito. Parecia que seu coração iria explodir de tão rápido e forte que batia. Retirou o lençol de cima de si e alcançou suas sapatilhas. Fez o caminho até fora do quarto e desceu as escadas, indo em direção à cozinha.
Era tarde da noite, todas as luzes estavam apagadas. Ela ligou a da cozinha e abriu a geladeira. Não havia comido nada, nem o pedaço frio de pizza em sua porta. Encontrou queijo e peito de Peru. Os colocou em cima do balcão e abriu o pacote de pão, preparando um sanduíche.

- Pensei que teria que forçar sua porta.- A voz de Steve chamou sua atenção. - Se importa de fazer um pra mim também?- ela negou com a cabeça e começou a preparar mais um sanduíche. - Como você está?

- Tirando o fato de não estar conseguindo dormir e ter perdido meu irmão? Eu tô ótima. - ela debochou mas logo voltou atrás no que disse. Steve não era ruim, ela só não estava com muita paciência pra perguntas como aquelas. Ela serviu o sanduíche dele e o olhou. - Eu não quis ser rude, só não estou num bom momento.

Steve puxou a cadeira e se sentou, puxando a outra cadeira para ela também se sentar. Pegou o sanduíche e deu uma mordida, dando um pequeno sorriso logo em seguida.

- Está uma delícia. Obrigado!

Ela concordou e começou a comer em silêncio. Steve era o que mais havia se tornado próximo dela. Depois do jantar chegaram jogar cartas ou assistir algum filme. Ela amava filmes de época e aquelas séries de comédia. Mas agora nem isso iria a distrair e tirá-la do fundo do abismo em que estava.
Ele observou os olhos fundos dela, o cabelo sem pentear e a forma com havia uma linha em seu braço, como amassado por estar há muito tempo deitada na cama. Quando foi descongelado sentiu a dor de perder todos os que amava, até descobrir que Carter estava ainda viva, mas doente, e que agora tinha seu melhor amigo de volta, graças a Wanda. Sentia um sentimento de gratidão por ela que o faria fazer qualquer coisa que pudesse ajudá-la a se sentir bem. Ela era frágil, uma menina machucada com tantas perdas que teve.

Ele virou lentamente seu corpo para poder ficar de frente pra ela. Que deu mais uma mordida no sanduíche e o colocou no prato, já esperando ele dizer alguma coisa.

- Nunca vi o Bucky se importar tanto com alguém como ele se importa com você. Wanda, ele não tinha controle do que fazia, você sabe disso. A Hidra mexeu com a cabeça dele e o transformou em um monstro. Muito diferente do cara que eu conheci.

- Como ele era?- perguntou apoiando o cotovelo na mesa e apoiando sua cabeça em sua mão. Tinha curiosidade sobre a pessoa que Steve se referia com tanto carinho.

- Eu sempre acreditei em não desistir de lutar. O que me fez entrar em muitas brigas pelos becos do Brooklyn. - ele deu uma leve risada. - Bucky me salvou em quase todas as vezes e quando ninguém acreditava que eu seria capaz de servir ao exército, Bucky me dava dicas de como fazer pra entrar. Uma vez ele até tentou me ensinar a dar uns socos, só pra eu conseguir me defender enquanto ele servia.

- Você era teimoso pelo visto.

- Eu era decidido. Queria fazer aquilo mais do que qualquer coisa que eu queria. Até ter algo que eu quis mais do que servir ao meu País.

- Aposto que tem uma mulher envolvida. - ela deu um sorriso sugestivo.

- Peggy Carter. Me apaixonei na primeira vez que a vi. Mas não chegamos a ficar juntos, o avião que eu pilotava caiu e fiquei com congelado por anos. Ela está viva, mas agora mora em um asilo para ex agentes, sua saúde não está muito boa. - seu tom era triste. - Bucky era bom com as garotas, eu não. Ele sempre tinha encontros que acabavam com ele as levando para dançar a noite toda. Era um verdadeiro cavalheiro, como algumas diziam. Ele era leal, com bom coração e morreu em cima de um trem tentando salvar a minha vida. A Hidra aproveitou do acidente dele e o torturou todo esses anos. Mas você teria gostado de conhecer ele naquela época. Ele provavelmente te levaria para um clube de Jass. - Steve sorri e se levanta. - Sei que está com raiva dele e de luto, mas não pode evitá-lo pra sempre. Vou dormir agora, obrigada pelo sanduíche e a conversa.

- Boa noite, Steve. - ela disse simplesmente e o viu sumir na escuridão da sala. - Eu não teria gostado naquela época, já gosto do jeito que ele é hoje. - Sussurrou pensando alto.

Decidiu por voltar ao seu quarto. Arrumou tudo na cozinha e subiu. Quando passava em frente o quarto dele, escutou seus pensamentos mais uma vez o aterrorizarem com pesadelos.
Abriu lentamente a porta e o encontrou deitado no chão, encharcado de suor e agitado sem abrir os olhos. Observou que ele havia cortado o cabelo e feito a barba, o que a fez dar um pequeno sorriso. Levemente encostou seus dedos na testa dele e fechou os olhos, conseguindo ver exatamente o que ele via.
Uma sala branca com diversos corpos empilhados um por cima do outro, suas mãos cobertas de sangue e mais pessoas vindo em sua direção. Enquanto uma voz o ordenava que executasse a todos. Parado o olhando havia um menininha de no máximo 5 anos, com um ursinho ensanguentado na mão e gritando pelo pai. Ele se aproximou do menino e disparou contra ele.
No exato momento Wanda abriu os olhos e ele acordou assustado. Com um olhar confuso de vê-la ali em sua frente. Ele se sentou, ainda tentando recuperar a respiração.

- Por que está deitado no chão?- ela olhou pra cama muito bem arrumada e depois para ele que só usava um lençol no chão.

- A cama é macia demais. - ele deu de ombros e a olhou. - Obrigado por me acordar.

- Se eu não fizesse, quem faria?- ela respondeu em seco e se levantou, indo em direção à porta.

- Wanda, por favor.

- Eu não consigo, não consigo te olhar e não me lembrar.

Wanda só sentiu quando ele se aproximou por trás e a segurou delicadamente pelos ombros, encostando sua testa na cabeça dela. Ela não se mexeu, apenas fechou os olhos tentando não começar a chorar.

- Quando eu olho pra você, a única memória que eu tenho é da gente juntos. Nós dois, Wanda. - ele sussurrou as palavras.

- E quando eu olho pra você, só me lembro daquele maldito vídeo. - ela se afasta e se vira para o olhar.
Seus olhos já começavam a deixar as lágrimas escaparem. Era impossível segurá-las. - Eu queria tanto, tanto te odiar. Mas não consigo porquê você não teve culpa. Eu tento te odiar para não odiar a mim mesma. Eu nunca deveria ter apoiado ele na decisão de ser voluntário da Hidra. Eu deveria ter dito que não, que não íamos, mas eu fui, James. Eu fui e olha tudo que aconteceu. Eu poderia ter evitado mas eu não fiz nada!

Bucky deu alguns passos e abraçou, mesmo com ela tentando o empurrar.

- Me solta! Você matou ele! Você matou meu irmão!- ela começou a bater no peito dele, que teve que a segurar pelos punhos. - Me solta! Me solta!- ele soltou seu pulso e a puxou para um abraço, que ela acabou aceitando, enquanto soluçava com a cabeça enterrada no pescoço dele. - Eu te odeio!

- Shhhhh... eu sei que odeia. - ele beijou os cabelos dela e a apertou mais contra si, a sentindo envolver os braços em volta dele.

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