○CAPÍTULO 23○

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Por longos minutos Wanda não disse nada. O único som daquele quarto era os do seu choro, da sua dor que ela finalmente havia colocado para fora.
A verdade era que ela não odiava Bucky,mas a si mesma por não ter impedido tudo aquilo.

Dizem que quando alguém morre, precisamos culpar algo. Uma doença, um motorista bêbado, um desastre natural, algo que de alguma forma não faça a vítima ser a culpada. Um dos primeiros pensamentos de quando se perde alguém, é culpar a si mesmo.

" E se eu estivesse lá?..."

" E se eu não tivesse dito aquilo antes dele ter saído de casa?..."

" E se? E se?"

A vida é como peças de um dominó. Quando uma peça em fila reta, cai, derruba todas as outras junto. Uma tristeza puxa outra.
Talvez a cena de um filme onde um dos protagonistas morre de forma inesperada. Você se apegou ao personagem, gostava dele e quando percebe começa a chorar. Não pelo filme, mas pelos seus próprios problemas.

Quando alguém morre, principalmente alguém muito amado. Leva junto com ela um pedaço de quem sofre a perda. Como se faltasse uma peça do quebra cabeças.

Era assim que Wanda se sentia. Como se metade dela estivesse faltando, como se um pedaço dela tivesse morrido junto com Pietro. Mas ali, nos braços do soldado, conseguia sentir o ar voltando para seus pulmões. Mesmo que para ficar tão perto dele, ela tinha que travar uma luta invisível dentro dela. Sua cabeça sabia que ele não tinha culpa. Quando invadiu sua mente sentiu um tipo de barreira que o controlava. Uma barreira que ela nunca tinha visto antes. Como se dentro dele houvesse um piloto automático. Que quando James saía,o soldado invernal tomava conta.
Ela afastou seu rosto para poder olhar nos seus olhos. A lembrança daquele vídeo ainda pairava sua cabeça. Ela suspirou e abaixou o olhar novamente.

- Deixa eu cuidar de você.- A voz dele era gentil. O sentiu tocar seu rosto, a acariciando. - Me deixa cuidar das suas feridas como você cuidou das minhas. - ele desfaz o abraço e segura sua mão, a levando em direção a cama.

Ela não reclamou, apenas deixa ser guiada por ele que a coloca deitada e puxa a coberta até seus ombros. Ela estava tão cansada, se virou de lado, olhando em direção à porta. Sentiu o lado da cama atrás de si, afundar. Ele se encaixou atrás dela, passando o braço por cima da sua cintura. Cheirou os cabelos dela e depositou um beijo.

- Só descansa. Não pensa em nada, Wanda. - ele sentiu quando ela alcançou a mão dele na sua cintura e entrelaçou seus dedos nos dele. - Você não está sozinha. Nunca vai estar!

Ela apenas relaxou e fechou seus olhos.

Na manhã seguinte, Bucky preparava uma bandeja na cozinha com sanduíche, ovos mexidos, morangos e suco de maçã. Era isso ou de laranja. Steve que voltava da sua corrida matinal estranhou o que ele fazia e decidiu se aproximar.

- Você vai tomar café da manhã na cama? - questionou o amigo, retirando os fones de ouvido e se sentando na cadeira em frente a bancada.

- É pra Wanda. - ele finalizou colocando o suco no copo e levantou a bandeja. - Ela não tem comido direito.

- Ela não está no quarto. A porta estaava aberta de manhã.

- Ela dormiu comigo. Não dessse jeito, só realmente dormiu . E respondendo sua próxima pergunta, sim. Ela ainda me odeia. Nós tivemos uma pequena briga e ontem eu entendi que a raiva dela é sobre ela se culpar também.

- Mas ela não teve culpa. Acreditava que faria algo bom para o mundo, algo grandioso. - Steve completou e encarou o amigo por alguns segundos. - Meu Deus, Bucky! Você está apaixonado por ela.

- O que? É claro que não estou! Só não quero ela mal como está. - ele desconversa o assunto e sai, passando por Natasha que entra na cozinha.

- E aí? Ele admitiu? Já posso ganhar meus 20 dólares? - A ruiva sorriu erguendo a mão.

-Não admitiu nada. A aposta ainda está valendo.

{...}

Observou como os cabelos dela estavam espalhados pelo travesseiro e em como estava agarrada a ponta da coberta, a segurando firme contra seu corpo.
Ele colocou a bandeja em cima do criado mudo e se sentou na cama. Levou a mão até o rosto dela e gentilmente a acariciou, a vendo se mexer na cama antes de abrir os olhos e dar um leve sorriso pra ele.

- Você dormiu bem? Parecia cansada. Assim que deitou, apagou. - ele tinha cuidado com as palavras, não queria chatear ela.

- Eu estava mesmo. Tem dias que não durmo uma noite tranquila. - ela se senta na cama e olha pra bandeja. - Não precisava ter preparado nada, não estou com fome.

- Mas você tem que comer. Não pode continuar assim, Wanda. - ele pega o copo de suco e lhe entrega. - Não é de laranja. Você vai gostar.

Ela concorda e pega o copo, leva até os lábios e dá um pequeno gole. Observando o quarto em volta. Assim como o seu era azul claro com detalhes brancos. Havia uma cama no canto na parede, um armário e um tapete com uma poltrona de frente pra janela. Cortinhas cinzas e um criado mudo com abajur. Nada fora do normal.

- Aqui parece melhor do que o que tínhamos. - disse devolvendo o copo pra bandeja. - Eu preciso tomar um banho e trocar de roupas. Não me lembro se fiz isso ontem... a minha cabeça, ela não está muito boa.

- Vai conseguir olhar pra mim? Estamos há uns cinco minutos conversando e você muda o olhar. - ele segura a mão dela. - Wanda, me deixa te ajudar.

- Eu preciso de tempo. - ela retira a mão e se levanta da cama. O olha rapidamente e dá um pequeno sorriso. - Você ficou bem com o cabelo assim.

Ela dá mais alguns passos e sai do quarto, onde encontra no corredor Tony Stark. Aquele que ela realmente não queria ver.

- Você deve ser a Wanda. Meu nome é...

- Stark. O cara que jogou uma bomba no prédio dos meus pais e matou eles. É, eu sei quem você é!- seu tom foi rude.

- Eu não sabia disso. - parecia arrependido. - Eu não faço mais aquilo. Não faço mais armas, Wanda. Não precisa agir assim comigo. Não sou seu inimigo.

- Nem meu amigo. - ela completou. - Eu tinha tantos discursos prontos pra te falar quando finalmente nos conhecemos, mas agora, acho que não falar nada é a melhor coisa. Passar bem, Stark!

Passou por ele em passos pesados e foi para o quarto, batendo a porta atrás de si.

- O que foi isso?- Bucky apareceu, estranhando o barulho no corredor.

- Sua namorada está nervosa, o sem memória.- Stark deu de ombros e passou por ele.

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