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Mais um dia chegava ao fim depois de uma longa Jornada de turno duplo no hospital. Não que estivesse reclamando. Trabalhar em hospitais era a minha vida. Tinha sido assim desde que começara a fazer residência há quase quinze anos. Mas turno duplo sempre me deixava um completo bagaço e eu não via a hora de cair da minha cama e dormir até o dia seguinte.

Estava anoitecendo quando finalmente cheguei à minha casa, e estacionei meu carro na garagem. Respirei fundo antes de descer do veículo, sentindo meus músculos tensos pelo cansaço.

- Seja bem vinda de volta, Dra.  Weinberg  – A voz de Sol me fez interromper o movimento de pegar minha pasta do banco de trás do veículo, e eu me voltei, vendo-a parada à porta que separava a garagem do resto da casa.

Aquela era uma rotina comum para as minhas voltas do trabalho. Sol sempre ouvia quando eu chegava e vinha até a garagem, me ajudava a tirar o pesado casaco que precisava usar por causa do frio constante da cidade, e depois, quando entrávamos, me servia uma dose de uísque. Hoje não foi diferente, apesar de sua expressão estar um tanto nervosa.

-Olá, Sol. Está tudo bem?

-Théo  voltou-ela falou apenas, como se explicasse tudo, E realmente explicava

Meu filho era sinônimo de problema. Sempre fora assim, até mesmo quando ele ainda morava com a minha ex esposa. E depois que ela morrera em um acidente de carro e tivera que morar comigo, as coisas pareceram piorar. Nós raramente  parávamos para conversar por mais de cinco minutos sem acabar com um dos dois saindo do ambiente aos gritos. Sabia que não era fácil para ele se mudar para um lugar completamente estranho, então, depois de uma tentativa falha para que ele começasse a estudar na escola aqui, eu deixei que ele continuasse na sua antiga escola, morando com a avó materna.

Théo  me visitava apenas nas férias ou em feriados prolongados, e eu sabia que ele só continuava fazendo isso porque tinha sido a condição que eu lhe dera para que ele continuasse recebendo a mesada excedente que depositava na sua poupança todo mês. Josh podia ser um jovem difícil de lidar, mas eu o amava. Era o meu único filho, afinal.

- Pensei que ele só chegaria no final da semana que vem – comentei olhando ao redor e estranhei a ausência do seu carro. – Onde ele está?

- Saiu às pressas há cerca de duas horas, mas...

- O quê? – insisti quando ela não continuou e olhou para o meu casaco em seus braços, como se evitasse o meu olhar.

- Théo  não veio sozinho – ela falou por fim, voltando a me encarar. – Trouxe uma garota com ele, mas deixou-a sozinha quando saiu. Tentei colocar algum juízo na cabeça dele, dizendo que ele não podia simplesmente sair assim e deixar a namorada, mas não teve jeito.

-Espere... Você disse namorada? – perguntei espantada e ela apenas assentiu. – E onde ela está?

-Na sala ela falou, apontando para o interior da Casa,

Respirei fundo mais uma vez, lhe entregando a minha pasta com documentos que eu precisava assinar ainda aquela noite e mandar de volta para o hospital via fax, antes de entrar na casa, rumando direto para a sala, mas parei no meio do caminho.

- Como é o nome dela? – perguntei, me voltando para Sol de repente, que vinha atrás de mim e quase se chocou contra o meu corpo.

- Clara  – ela respondeu, recuando um passo. – Clara  Albuquerque

Repeti aquele nome duas vezes na minha mente para memorizar e continuei o caminho, me surpreendendo pela figura que encontrei sentada no sofá da sala.

Tinha conhecido apenas duas namoradas de Théo , quando fora visitá-lo nas últimas férias, já que ele não pudera vir me encontrar por ter ficado em recuperação. Uma delas tinha sido uma ruiva, colega da escola, que eu não conseguia lembrar o nome, mas sabia que era algo com a letra “H”. A outra, por quem terminou o namoro com a ruiva, uma morena que deveria ser uns dois anos mais velha que ele, se chamava Erika e era sua prima de segundo grau. E nenhuma das duas parecia ser tão frágil como aquela garota que estava encolhida num canto do sofá, ainda vestindo o casaco apesar de o aquecedor deixar a temperatura agradável. Seus olhos estavam tão vermelhos e inchados que, mesmo Théo  sendo meu filho, me deixou com puro ódio dele.

Ela me ouviu entrando na sala e logo ficou de pé, se voltando para mim com o dedo apontado, me encarando com tanta raiva que eu cheguei

A pensar que tinha feito algo de errado àquela garota que nem sequer conhecia.

-Seu filho é um imbecil! Eu juro que vou fazer ele me pagar por ir atrás daquela vagabunda e me deixar plantada aqui como uma qualquer! Quando ele voltar, vou arrancar cada um daqueles fios insuportavelmente lindos e quebrar cada dente daquele sorriso perfeito dele. Juro que vou!

Por muito pouco não recuei um passo, surpresa com aquela explosão, e me forcei a manter a calma quando sabia que não era a culpada pela raiva dela.

- Vamos com calma, está bem? – Me voltei rapidamente para Sol que tinha me seguido até ali.

- Traga algo para ela beber, por favor.

Vodka – Clara  pediu de imediato. – Pura!

- Um chá – corrigi, ainda falando apenas com Sol. – Camomila. E a minha dose, por favor.

- Claro, Dra.  Weinberg  – ela assentiu e se retirou, me deixando sozinha com aquela garota.

- Por que não começamos de novo? – sugeri, me aproximando dela com a mão estendida. – Sou  Helena   Weinberg , mãe de Théo . Você é Clara  Albuquerque  certo?

-Certo, ela falou, apertando a minha mão, embora parecesse fazer isso a contragosto.. E eu sei quem a senhora é.

-Certo, Então, Clara , por que você não se acalma e me explica exatamente o que Théo  fez para te deixar assim tão irritada?
Fiz sinal para que ela voltasse a sentar no sofá, e sentei ao seu lado quando ela o fez.

-Me deixar aqui sozinha não é suficiente? – ela perguntou, parecendo que ia explodir de novo, mas então respirou fundo, fechando os olhos por um instante como se meditasse. Eu estou calma, eu estou calma ela murmurava, como se falasse sozinha, e só então abriu os olhos, voltando a me encarar. – Ele me trouxe aqui porque queria que eu conhecesse a mãe dele. A senhora – ela falou, apontando para mim antes de continuar. – Mas assim que chegamos, aquela vagabunda da...

- Modere suas palavras, Clara  – pedi num tom calmo, mas firme. – Não permito palavrões nessa casa.

Seus olhos verdes piscaram surpresos e ela agora me observava como se eu fosse alguma espécie de alienígena. Depois de alguns segundos ela apenas deu de ombros e voltou a falar.

- Quando chegamos, aquela pessoa que atende pelo nome de Erika ligou para ele dizendo que tinha caído da escada e estava sozinha em casa. E ele simplesmente me deixou aqui, dizendo que volta amanhã, se der. Se der! – ela repetiu, aumentando um pouco o tom de voz. – Aquele filho da mãe me deixou...

- Olhe o linguajar – alertei novamente, fazendo-a parar de falar e prendeu os lábios entre os dentes.

-Théo - ela continuou, voltando a falar num tom normal-me deixou aqui sozinha para ir encontrar a ex-namorada que está a quilômetros de distância, quando tínhamos planejado férias perfeitas.

-Quantos anos você tem, Clara ?

-Eu tenho dezessete.
- Seus pais sabem que você está aquí?

- Claro que sabem. Eles falaram com a senhora na semana passada e você disse que estava... tudo... bem? – ela terminou a frase com uma pergunta quando eu comecei a menear a cabeça lentamente. – Não?

- Não falei com os pais de ninguém – falei, já ficando em pé novamente.

- Seu filho é um belo de um mentiroso.

- É o que eu estou percebendo – murmurei, levando uma mão aos cabelos. – Eu preciso ligar para ele, mas fique à vontade, Clara . Posso estar surpresa com tudo isso, mas você é bem vinda nessa casa. Se quiser ficar, farei o possível para que se sinta à vontade. Mas se quiser voltar, posso comprar a passagem e te colocar no próximo avião para casa.

- Eu quero esperar aquele... imbecil voltar – ela falou, se atrapalhando um pouco na frase quando eu tinha certeza que viria outro palavrão. – Quero ter o prazer de dar um tapa na cara dele e mandá-lo ao inferno! Além do mais, se voltar para casa agora, vou ter que enfrentar uma série de perguntas dos meus pais. Perguntas que eu não quero responder,

-Tudo bem. Fique à vontade então. Vou pedir para Sol preparar um quarto para você.

Saí da sala deixando-a sozinha, e encontrei Sol a caminho da sala com uma bandeja nas mãos, com duas fatias de bolo, uma xícara de chá e meu uisque. Peguei o meu copo e pedi que ela fosse servir Clara  e depois preparasse um quarto para ela.

Fui para o meu escritório, indo direto para o telefone que ficava à minha mesa e disquei o número de Théo . A ligação caiu na caixa postal e eu voltei a ligar. Tentei cerca de três vezes, mas ele não atendeu.

Suspirando, deixei para tentar novamente depois e me concentrei em terminar de assinar aquela papelada burocrática do hospital, enviando tudo por fax a seguir. Cerca de meia hora depois, quando terminei tudo, voltei a ligar para Théo  e dessa vez ele atendeu ao quarto toque.

- Oi, mãe.

- Théo , onde você está?

- No aeroporto, esperando meu voo para Phoenix. A senhora já chegou em casa?

-É, Théo , eu cheguei em casa. E encontrei a sua namorada.

-Ah.

-Ah? É tudo isso que você fala? Como você faz uma coisa dessas, Théo  – perguntei me sentindo completamente frustrada por aquela situação. Recostei-me na cadeira de couro e passei a mão no rosto, tentando aliviar a tensão. – Traz a garota para cá e simplesmente a deixa sozinha em uma cidade estranha, em uma casa estranha, com pessoas que ela nunca viu na vida?

-Erika caiu da escada, mãe. Os pais dela viajaram e ela está sozinha. Ia deixá-la na mão numa hora dessas?

- E sua prima não tem amigos na cidade? Pessoas que estão realmente perto dela e não a mais de dois mil quilômetros?

- Mas ela ligou para mim. Sinal de que precisa de mim.

- e a sua namorada, como vai ficar?

- Clara  vai entender.

- Não, Théo  ela não vai entender. Quando cheguei, ela estava chorando, furiosa com o que você fez e disse que só vai esperar você voltar para acabar tudo.

- Não, não, não, mãe! – ele exclamou, parecendo realmente apreensivo. – Acalma ela, por favor. Clara  não pode terminar o namoro comigo. Eu gosto tanto dela. Faz ela se acalmar.

- Devia ter pensado nisso antes de fazer o que fez. Clara  vai ter meu total apoio se quiser mesmo terminar com você. Isso é atitude de um moleque e não de um homem, Théo . Se quiser consertar esse erro, volte agora mesmo para casa.

- Eu não posso,

-Então o problema é só seu – falei apenas, antes de encerrar a ligação,

Em outro momento falaria com ele sobre ter mentido para os pais da garota.

Uma batida à porta me tirou dos meus devaneios.

- Entre.

Sol abriu a porta devagar, colocando apenas a cabeça para dentro.

- O jantar está pronto, Dra.  Weinberg .

- Obrigada, Sol. Chame Clara  também.

- Claro, Dra.  Weinberg . Com licença.

Para tentar ficar mais confortável dobrei as mangas da camisa social branca até os cotovelos. Encontrei Clara  já sentada à mesa, na cadeira geralmente ocupada por Théo  quando ele estava aqui, ao meu lado esquerdo.

- A senhora falou com Théo ? – ela perguntou assim que entrei.

- Sim.

- E ele vai voltar?

- infelizmente não.

Sua expressão imediatamente se fechou e ela começou a comer em silêncio, olhando apenas para o seu prato, Sentei à mesa e fiz o mesmo que ela, comendo sem conversa alguma.

- Talvez ele só queira se certificar de que a prima está bem, e logo voltará para casa – falei quando o silêncio se tornou opressor demais. Mas até para mim aquelas palavras soaram forçadas.

-E eu sou a Branca de Neve – Clara  murmurou, evitando meu olhar. – Ele vai me pagar pelo que está fazendo. Ah, vai! – ela continuou, parecendo que falava aquilo para si.
- Eu sinto muito pelo comportamento do meu filho, Clara .

- Ele vai sentir mais – ela falou ainda naquele tom de quem falava sozinha. – A senhora se incomoda se eu ficar aqui até ele voltar?
- Claro que não, Clara . Fique à vontade.

- Não vou dar trabalho, pode ficar tranquila.

- Não estou preocupada com isso – disse, sorrindo para ela. – Se quiser, posso levar você para conhecer a cidade depois de amanhã. Mas aviso logo que não há muito para conhecer.

- Théo  já tinha me avisado sobre isso, mas não quero atrapalhar.

- Não vai – assegurei. – Amanhã e depois serão meus dias de folga. Poderia até ir com você amanhã, mas é provável que acorde tarde, já que estou a mais de vinte e quatro horas acordada.

- Deve ser cansativo trabalhar em um hospital.

- Um pouco, mas é o que eu gosto de fazer.

-Théo  disse que a senhora era chefe do setor de traumas em Phoenix, ela comentou, relaxando um pouco a expressão e quase sorriu. – E que agora é só mais uma médica do quadro do hospital daqui, Por que essa mudança?

Talvez se aquelas palavras tivessem sido faladas por outra pessoa, de outra forma, poderia até ter sido interpretada como uma ofensa, mas Clara  parecia apenas curiosa. E exatamente por isso, pela sua curiosidade genuína, eu me peguei respondendo com a verdade, quando raramente falava da minha vida pessoal com alguém.

- Eu nasci aqui, mas me mudei para Phoenix quando entrei para a Universidade. Já estava pensando em voltar para cá há alguns anos, mas Isa não queria vir.

- Isa era a outra mãe de Théo , certo?

- Sim. Ela sempre morou em Phoenix e se recusava a vir para uma cidade onde não havia nada para fazer.

- Vocês brigavam muito? – ela perguntou, repousando seu talher no prato e me encarou com

Aqueles olhos verdes atentos.

E, mais uma vez, eu não consegui dizer que aquela pergunta era pessoal demais.

- Um pouco. Todo casal briga depois de um tempo juntos.

- Foi por isso que vocês se separaram? Théo  disse que vocês já estavam divorciadas quando ela morreu.

- Nós nos separamos porque não pertencíamos mais uma a outra. Ela reclamava que eu amava mais a minha profissão do que a família.

-E amava?
-Talvez.

- Ou talvez ela fosse egoísta demais para ter uma pessoa que não a idolatrasse,

-Clara , não se fala assim de pessoas que já não estão nesse mundo – falei num tom baixo, levando a taça de vinho à boca.

- Não sou hipócrita para bajular uma pessoa só porque ela morreu.

- Não é questão de ser hipócrita ou não. É questão de respeito.

-Tanto fazela murmurou dando de ombros. – A senhora sente falta dela?

- Às vezes – respondi com a verdade mais uma vez.

- Ela não deve ter sido boa esposa. – Já ia repreendê-la mais uma vez pela forma como ela falava de Isa, mas Clara  continuou falando antes que eu tivesse oportunidade. – Sei que boa mãe ela não foi. Théo  pode até ser um cara muito legal na maior parte do tempo, mas é muito imaturo. Tudo bem que ele é um dos caras mais lindos que eu já conheci, mas às vezes é tão criança que irrita. A senhora é educada demais para Théo  ter puxado esse seu lado. Então ele só pode ter puxado o temperamento da outra mãe. Ao menos a beleza ele puxou da senhora.

Quase me engasguei com o vinho ao ouvir suas palavras e forcei o líquido a descer, queimando minha garganta. Depois de um leve pigarro, murmurei um “obrigada”.

O silêncio se instalou na sala mais uma vez. Sol entrou trazendo a sobremesa – um bolo pudim de chocolate com molho quente e salu novamente, nos deixando sozinhas.

-Há quanto tempo você e Théo  namoram? – perguntei.

Quase quatro meses.

Quase quatro meses e eu não fazia ideia desse namoro. Suspirel, me sentindo, mais uma vez, um fracasso como mãe. Em alguns momentos eu queria forçar Théo  a vir morar comigo, só para que eu ficasse mais perto dele, mas sabia que isso pioraria as coisas. Afastá-lo dos seus amigos em Phoenix provavelmente resultaria em brigas eternas e numa revolta que eu faria o possível para evitar.

Como vocês se conheceram?

- Estudamos juntos. Somos da mesma turma de Biologia, Inglês e Álgebra. O que é uma raridade, porque aquele colégio é tão grande, que é quase impossível se fazer duas aulas com a mesma pessoa, quanto mais três.

- E Théo  é um bom aluno?

- É sim – ela falou com um sorriso. – Ele é ótimo em Biologia e Algebra. Sempre me ajuda nos exercícios. Em Inglês é o oposto. Ele não é ruim, mas eu sou melhor.

- Gosta de ler?

- Adoro!

-Tenho alguns livros no meu escritório, se você se interessar,

-Que tipo de livros tem lá?

- Não é só de medicina, caso esteja pensando isso – falei, sorrindo quando ela fez uma careta como se admitisse a culpa por estar pensando exatamente aquilo, Tenho livros de ficção, romance, suspense, política e alguns de poesia.
-Adoro poesia.

- É difícil encontrar alguém da sua idade que goste.

- Eu não sou como as outras garotas da minha idade – ela falou apenas num tom sério, esticando a mão para pegar a minha taça e eu não impedi quando ela bebeu o resto do vinho que havia nela. Erguendo a taça vazia, ela me encarou como se fosse propor um brinde. – “Cada um ao nascer traz sua dose de amor, mas os empregos, o dinheiro, tudo isso, nos resseca o solo do coração. Sobre o coração levamos o corpo, sobre o corpo a camisa, mas isto é pouco. Alguém imbecilmente inventou os punhos e sobre os peitos fez correr o amido de engomar. Quando velhos se arrependem, a mulher se pinta. O homem faz ginástica pelo sistema Muller. Mas é tarde. A pele enche-se de rugas. O amor floresce, floresce, e depois desfolha.”


Continuei encarando-a absorvendo aquele poema que me era familiar, mas não lembrava o nome do autor, enquanto ela levantava e vinha até o meu lado, repousando a taça vazia à minha frente antes de se inclinar um pouco para baixo.

- Boa noite,  Helena  – ela murmurou bem perto do meu ouvido, e então depositou um beijo no meu rosto. Durma com os anjos.

Eu ainda estava processando tudo aquilo quando Clara  saiu da sala, me deixando sozinha.

Sweet sin (Doce Pecado) - Clarena Onde histórias criam vida. Descubra agora