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Não demorou muito para que eu encontrasse o carro de Andrea estacionado no acostamento da estrada. Parei com o meu carro atrás do dela e desci, só então me dando conta de que, na pressa para sair de casa, esquecera de vestir o casaco.

Então agora aqui estava eu com apenas uma camisa de manga cumprida, a neve caindo, embora por sorte não estivesse ventando.

Quando parei ao lado da pick-up de Andrea, bati na janela fechada do lado do motorista, o vidro embaçado demais para que eu conseguisse enxergar alguma coisa lá dentro. Mas consegui ver um vulto levantando, percebendo que Clara  deveria estar deitada. Sua mão logo se dirigiu ao vidro para limpar o que estava embaçado, e eu consegui observar seu cenho franzindo quando ela viu quem estava ali.

-O que você está fazendo aqui? – ela perguntou depois de abrir um pouco a janela.

-Normani me ligou – respondi, sendo impedida de falar mais alguma coisa quando Camila soltou um resmungo.
-Eu pedi para ela não fazer isso, ok? Daqui a pouco alguém aparece e limpa isso do caminho Clara  falou, apontando distraidamente para a pilha de neve que bloqueava a passagem na estrada a cerca de cinquenta metros de onde estávamos.

Dificilmente alguém vai limpar a estrada a essa hora. Então porque você não liga logo esse carro e me segue de volta para a minha casa?

Eu vou ficar bem, não se preocupe.

Clara , eu não vou deixar você passar a noite dentro desse carro. Vai acabar morrendo congelada.

-Já disse que estou bem. Quando estiver com muito frio, é só ligar o carro e o aquecedor.

Impaciente, tentei abrir a sua porta, mas estava trancada.

-Abra, por favor.

-O que você quer?

-Só abra a porta, está bem? – insisti tentando não gritar de irritação com a sua atitude, e Clara  logo fez o que eu pedia, permitindo que eu lhe apontasse a falha nesse seu plano maluco de passar a noite dentro do carro. – Andrea nunca enche o tanque. Você só tem  terço de combustível e isso não dá nem para metade da noite. Agora, não sei você, mas eu estou congelando aqui fora. Então, se não for pedir demais, será que dá para você parar de ser teimosa e ligar logo esse-

- Ir para a sua casa para quê? – ela perguntou irritada, tentando puxar a porta para fechá-la, mas foi impedida pelo meu corpo que estava no caminho. – Para você ficar jogando na minha cara o quanto eu errei e o quanto você me odeia? Obrigada, Dra. Weinberg, mas eu passo.

Continuei parada ali encarando-a enquanto Camila mais uma vez tentava fechar a porta. Com um suspiro cansado, tomei impulso e subi no carro, vendo-a rapidamente se afastar ao perceber a minha intenção, abrindo espaço para que eu sentasse ao volante.

- O que você está fazendo?

-O que parece que eu estou fazendo? – perguntei já ligando o motor, mas não saí de imediato, apenas deixando o aquecedor ligado e agradecendo internamente pelo ar quente que soprou em minha direção, Escute, Clara . Eu posso não querer você na minha casa nem na minha vida, mas isso não significa que eu queira que você morra congelada, está bem?

- Eu não... Eu não vou morrer congelada, Helena . Não seja exagerada.
- Eu não estou sendo exagerada. Está fazendo

Dezesseis graus negativos lá fora. Você pode não morrer de frio, mas vai acabar adoecendo. – Respirando fundo, encostei minha cabeça no encosto do banco por alguns segundos antes de voltar a encará-la. – Eu admito que se pudesse escolher, iria preferir que você não estivesse aqui, está bem? Mas você está, e veio por um bom motivo. Sol  precisa de você agora, não apenas por conta do acidente, mas por conta do comportamento de Andrea em relação a Lumiar . Ela precisa de apoio nesse momento para lidar com a mãe e acho que você é a pessoa ideal para isso. Então por ela, que foi por quem você fez essa viagem, por favor, vamos voltar para a minha

Casa onde você pode esperar até a estrada ser

Liberada.

Clara  pareceu pensar um pouco, ainda me encarando com o cenho franzido, antes de falar novamente.

- Só se você prometer que não vai falar mais

Nada sobre o que aconteceu. Se você prometer esquecer esse assunto, ao menos até eu ir embora de novo, eu vou com você.

- Fique longe do meu caminho e isso será fácil – devolvi de imediato.

- Viu só? Você não consegue. Você não consegue deixar isso para lá. Então não, Helena . Eu vou ficar aqui.
-Clara , pare de ser teimosa! Você não pode passar a noite dentro desse carro com esse frío que está fazendo! – praticamente gritei, me voltando no banco para ficar de frente para ela.

-Ah, desculpe por ter sentimentos, Dra. Weinberg – ela devolveu com ironia, falando tão alto quanto eu. – Me desculpe por ter ficado magoada ao ouvir tudo que você falou para mim desde que me viu na casa de Sol . Desculpe por querer evitar ouvir mais grosserias.

- A verdade é dura, não é? – Mas dessa vez, antes mesmo de terminar de falar, eu já me arrependia daquelas palavras. E ver a expressão sofrida que seu rosto assumiu, fez com que eu me ⚫ sentisse ainda pior, fazendo minha voz morrer na garganta. – Desculpe.

O silêncio se instalou dentro daquele carro, Clara  de cabeça baixa, enquanto meu olhar desviava para a neve que caía lá fora.

- Tudo bem. Eu prometo que não vou mais trazer esse assunto à tona – falei por fim, dessa vez num tom mais controlado. Esperei até que ela voltasse a me encarar e a vi assentindo de leve. – Você vai me seguir com o carro ou prefere que eu vá dirigindo?

-Eu... Posso dirigir. Vou precisar dele amanhã para voltar.

Desci do carro em seguida, correndo de volta para o calor do meu e liguei para Normani quando já estava dirigindo, avisando que Clara  iria passar a noite na minha casa. Mas não foi até voltarmos para casa, que a percepção quanto ao fato dela dormir debaixo do mesmo teto que o meu, implicou algo de fato. Algo além de ter que lidar com alguém que eu queria ver a quilômetros de distância.

Depois de estacionar de volta na garagem, me apressei para a porta de entrada para abri-la para Clara , só lembrando que ela estava com a chave quando cheguei ao hall e a encontrei tirando o casaco úmido pela neve. E o que eu vi ali foi o suficiente para me transportar de volta para os dias em que nós ficamos juntas.

Quando a vira na minha cozinha, invadindo o meu espaço mais cedo naquela noite, tinha ficado tão irritada que sequer notara o que ela vestia. Não que ela estivesse se vestindo de forma provocante. Muito pelo contrário. E o problema era exatamente esse. Com aquela roupa, Clara  estava parecendo extremamente inocente.

Extremamente Lolita.

Quando ela se voltou na minha direção ao ouvir meus passos, me apressei a desviar o olhar do seu corpo, forçando minha mente a parar de tentar adivinhar o comprimento daquelas meias brancas. Não era da minha conta se elas encontravam a barra da saia nos joelhos ou subiam até a coxa. Não me interessava sequer se aquele “C” pendurado no seu colar estaria gelado em contato com sua pele.

-Eu liguei para Sol  agora quando estava chegando-Clara  comentou, apolando o casaco em um dos braços. – Mas ela falou que você já tinha avisado que eu vou ficar por aqui.

-Sim. Para ela não ficar preocupada.

-Bem, de qualquer forma, ela disse que tem algumas roupas dela num quarto aqui no andar de baixo. Disse que eu posso pegar alguma coisa para dormir. Se você não se incomodar, é claro.

- Por que eu me incomodaria? – perguntei, franzindo o cenho, e Clara  apenas deu de ombros.

A instrui rapidamente onde ficava o quarto e subi as escadas em seguida, deixando-a sozinha, sem me preocupar sequer em organizar as coisas para que ela dormisse. Naquele instante eu não conseguia pensar em ser educada. Só precisava me afastar.

Mas mesmo depois de horas rolando na cama, nada conseguia me fazer dormir. Cheguei até a colocar uma música clássica num volume baixo para tentar relaxar, mas de nada adiantou. Minha mente insistia em me levar na direção de um único pensamento.

Clara , Clara , Clara , Clara .
Por mais que eu tentasse não pensar, era como um ímã me atraindo para aquele nome. Aquele rosto. Aquela garota. E eu fazia o possível para esquecer. Para me focar apenas no que ela tinha feito de ruim para mim, mas as lembranças dos momentos agradáveis insistiam em me atormentar. Principalmente os momentos mais intensos.

O dia em que dançamos juntas na minha sala de ginástica. A forma como ela chupara aquele pirulito com os olhos cravados nos meus. Como, por conta do estado embriagada e excitada em que ficara naquela noite, eu tinha esquecido todos os meus princípios e praticamente abusara dela, agindo como uma depravada. Como eu ficara confusa e ainda mais excitada ao saber que ela tinha permitido que eu a tocasse daquela forma. E depois, quando finalmente me rendi aos seus encantos e a tomei como minha.

Lembranças de nós duas na minha cama, ou na sua; nós duas na piscina quando eu tinha conseguido sentir o máximo prazer apenas por lhe dar prazer; e depois, naquele mesmo dia, eu havia lhe ensinado a se divertir mais com o sexo. Todas aquelas imagens pareciam tão vívidas na minha mente que era como se tivesse acontecido há apenas alguns dias, Como se meses não tivessem passado. E da mesma forma como acontecera naquela época, meu corpo continuava reagindo como uma maníaca sexual, que não conseguia sequer lembrar de ter seu corpo em cima do meu, sentada no meu colo usando nada mais que um pequeno top preto, sem se animar de forma exagerada.

Desistindo de tentar dormir, levantei da cama e

Fui até o banheiro lavar o rosto como se quisesse fazer a água levar embora aquelas imagens. Fiquei ainda longos minutos em frente ao espelho, tentando buscar algum sentido para aquelas reações, mas acabei por desistir. Ao voltar para o quarto e ver que já passava das duas da manhã, eu quase soltei um palavrão, irritada com Clara  por me deixar naquele estado, mas ainda mais irritada comigo, por me permitir reagir daquela maneira. Por ser tão fraca com alguém que nada mais tinha feito a não ser mentir para mim.

Sabendo que seria inútil deitar agora quando minha mente passava por todo aquele turbilhão, desci as escadas indo direto para o meu pequeno bar, me servindo de uma dose de uísque.

Mas nem bem tinha dado dois goles quando um barulho na cozinha me levou naquela direção.

Talvez daqui a alguns anos eu pudesse admitir que essa foi uma das minhas atitudes mais idiotas. Eu sabia quem estava fazendo aquele barulho. E mesmo querendo evitá-la mais que tudo, aqui estava eu abrindo a porta da cozinha, me deparando com Clara  esquentando água para colocar na xícara que estava ao lado do fogão, com um pequeno sachê dentro.
O susto que ela tomou ao me ver ali não foi nada se comparado ao que eu tomei ao me deparar com ela. Sim, eu sabia que Camila estaria ali, mas não estava preparado para o que ela podería estar usando.

- Desculpe, eu não queria te acordar – ela murmurou depois de se recompor do susto, tentando puxar a barra do cardigă para baixo discretamente.

- Não acordou. Eu... estava acordada – a tranquiSol ei, erguendo meu copo de uísque para comprovar o que falava. – Insônia?

- Muita coisa na cabeça – Clara  respondeu, voltando a preparar o seu chá.

E naquele instante, quando ela ficou de costas

Para mim, vê-la assim tão à vontade, usando apenas um cardigã que mal cobria metade das suas coxas, foi como se eu tivesse parado de pensar. Aliás, eu pensava. Mas não em voltar para o meu quarto como deveria fazer. Ou talvez até voltar, mas não sozinha. Por isso, e apenas por isso, foi impossível filtrar as palavras que saíram da minha boca a seguir.

-Muita culpa? Ou novos planos para tentar me seduzir?

Vi seu corpo ficar rígido e ela parou no meio do movimento de tirar a chaleira do fogão.

-Você prometeu que não ia falar sobre isso – ela lembrou num tom baixo, sem se voltar na minha direção.

- Não é só você que pode mentir, sabe? – murmurei antes de dar um pequeno gole no uisque que de repente parecia amargo na minha boca.

Sim, eu queria machucá-la um pouco. Eu queria ficar com raiva dela naquele momento e parar de

Pensar o quanto meu corpo ainda desejava o seu. 3

- Por favor, para com isso, Helena  – Clara

Pediu, continuando de costas para mim, parecendo ter desistido de preparar o chá, apoiando as mãos no balcão ao lado do fogão e abaixou a cabeça.

-A verdade dói, não é?

Mais uma vez ela continuou de costas em silêncio, e eu queria mais que tudo que ela virasse e gritasse comigo, apenas para eu poder gritar de volta e descarregar aquela tensão que estava me consumindo.

-Eu já pedi desculpas pelo que fiz. Sei que foi errado te usar para me vingar de Victor, mas depois que eu comecei a te conhecer melhor, eu-

-Olha para mim quando estiver falando, Clara  ordenei por entre os dentes, apertando o copo entre os meus dedos. – Seja lá o que você tiver para falar, seja adulta e olhe na minha cara.

Levou um tempo, mas lentamente Clara  fez o que eu mandava, ficando de frente para mim, ainda apoiada no balcão. Mais uma vez seus olhos estavam marejados, mas dessa vez aquilo não fez efeito nenhum em mim, tamanha era a raiva que estava sentindo. Só não conseguia saber exatamente se eu estava com mais raiva dela ou de mim.

- Eu admito que te usei, está bem? – ela continuou depois que um pequeno soluço escapou da sua garganta e uma única lágrima escorreu pelo seu rosto. – Mas quando eu fui te conhecendo melhor, a vontade de me vingar diminuía. Você sempre me tratou tão bem. Sempre tão educada. E depois, quando ficamos juntas, a forma como você me olhava, como você me tocava, me fazia sentir especial. Eu me apaixonei por você, Helena . E eu-

-Cala a boca! – gritei, apoiando o copo com força na mesa à minha frente. – Cala a boca, Clara ! Tudo que sai da sua boca é sujo. Eu não quero ouvir as suas mentiras.

- Eu não estou mentindo! – ela gritou de volta. -Eu amo você!

- Você não ama ninguém a não ser a si. Você não passa de uma pirralha mimada que usa as pessoas como se elas fossem seus fantoches, sem se preocupar com o que elas vão sentir ou o quanto elas podem sair machucadas. Por que eu deveria acreditar nas suas palavras agora? – Enquanto eu continuava a gritar com ela, sem perceber fui me aproximando o suficiente para ver detalhadamente a olheira profunda que circundava seus olhos e as lágrimas que agora escorriam abundantes. – Você mentiu desde o começo. Mentiu quando disse que já tinha feito sexo com Victor. Mentiu ao dizer que não era mais virgem. Fingiu querer alguma coisa comigo de verdade. Me fez de idiota, agindo como se sentisse algo por mim. Por duas semanas, Clara , enquanto eu me permitia ficar perto de você, você me usou por causa de uma vingança idiota.

-Me desculpa – Clara  implorou com a voz embargada, estendo uma mão na minha direção, mas eu rapidamente me esquivei do seu toque.

- O que você pensou que aconteceria depois que você jogasse na cara de Theoque tinha traído ele? O que você achou que eu iria fazer quando descobrisse tudo, Clara ? Pensou que eu ficaria feliz  em te ver discutindo com o meu filho? Em saber que eu fui enganada por todo aquele tempo? Você deve achar que eu sou uma imbecil se pensou que as coisas continuariam como estavam. Porque se você pensou mesmo que teria alguma chance de nós continuarmos juntas depois de eu descobrir o tanto que você mentiu para mim. Então você é mais burra do que eu imaginava.

Naquele instante Clara  tentou se afastar e sair correndo da cozinha, mas eu a detive, segurando seu braço com mais força do que deveria e a fiz se voltar para mim e me encarar.

-Valeu a pena? – perguntei, parando de gritar, findando por falar entre os dentes novamente. – Todo o seu plano foi muito bem sucedido. Você se vingou de Theocomo queria. Mas valeu a pena, Clara ?

- Não – ela respondeu apenas, seus olhos vermelhos fixos nos meus.

Soltei seu braço de repente, deixando que ela sentasse em uma das cadeiras da pequena mesa que havia ali e observei enquanto ela continuava a chorar com o rosto escondido entre as mãos, seu corpo pequeno sendo sacudido pelos soluços incessantes.

- Se coloque no meu lugar, Clara . Se eu tivesse feito para você, tudo que você fez para mim, você me perdoaria? – perguntei ainda parada no meio da cozinha apenas observando-a.

Sua resposta veio apenas como um menear de cabeça e levou alguns segundos até que ela

Erguesse o olhar.

-Agora se coloque no meu lugar – ela murmurou depois de respirar fundo. – Se fosse você a ser traída, o que você teria feito?

Havia um tom de desafio na sua voz embargada que me fez pensar duas vezes antes de responder.
Antes de fazê-lo, no entanto, me aproximel dela e sentel na cadeira ao seu lado, ficando de frente para ela.

-Essa é a diferença entre nós duas, Clara . Está aqui-falei, tocando de leve na sua testa com a ponta do indicador, e meu tom calmo pegou até a mim de surpresa. – Quando fui casada com a mãe de Victor, descobri que ela estava me traindo com meu colega de trabalho. Cheguei em casa mais cedo um dia e os dois estavam juntos. Mas ao invés de fazer um escândalo ou me vingar de qualquer um dos dois, simplesmente fui embora e pedi o divórcio no dia seguinte. Já você foi tola em continuar com Theomesmo sabendo que ele estava te traindo, e foi infantil por planejar uma vingança idiota como aquela. – Uma mecha caiu no seu rosto e eu não resisti ao impulso de colocá-la atrás da sua orelha, tocando seu rosto de leve. – Agora me diz como eu posso acreditar em alguma coisa do que você fala? Quando, desde que te conheci, tudo que você fez foi mentir para mim. Tudo que você fez, a forma como você se vestia na minha frente, como se movia, as palavras que saíam da sua boca, a forma como você me tocava como se fosse sem querer. Tudo foi intencional, calculado para me fazer querer você. Uma mentira atrás da outra.

-No começo sim, mas depois... Não era mais, Helena . A última vez que eu menti para você, ou omiti, foi quando não falei que era virgem. Mas se eu não falei, foi apenas porque eu tinha medo que você me rejeitasse. E eu não queria que você se afastasse quando eu já estava tão dependente, Eu posso ter mentido no começo para te seduzir, mas quando você começou a corresponder, minha reação aos seus toques era a mais pura verdade. E você não pode negar que também queria aquilo, Você gostou de cada segundo.

-Sim, eu gostei, Clara . Gostei e não nego – falei, afastando a mão do seu rosto, aproveitando para recuar um pouco. Porque trazer aquele assunto à tona, estando tão perto dela, não fazia muito bem para a minha mente que precisava se manter focada naquela conversa. – Eu estaria te enganando se dissesse que não adorei cada momento ao seu lado. Que eu não perdia a linha de raciocínio sempre que você estava perto demais. E também seria egoísta da minha parte colocar toda a culpa em você por eu ter sido fraca a ponto de não conseguir resistir a você, e de ter me deixado envolver a ponto de me apaixonar. Nós duas erramos. E talvez eu tenha errado um

Pouco mais por ter chegado ao ponto de começar

A pensar num futuro ao seu lado. Então, por isso,

Eu não posso te culpar. Foi um erro meu. Me

Envolvi demais.

Seu olhar caiu para a suas mãos que se torciam em seu colo, e eu cheguei a pensar em levantar e ir embora, quando ela tornou a falar,

- Eu estraguei tudo.

Mais uma vez levei uma mão ao seu rosto, fazendo-a me encarar, e dessa vez, ver seu choro silencioso trouxe de volta aquele aperto sufocante no meu peito.

- Nós duas erramos, Clara . Nós nos deixamos

Levar, indo muito além do que estávamos preparadas. E eu gostaria muito de dizer para deixarmos isso para trás e tentar de novo. Mas eu não sei se poderia te pedir para ficar aqui comigo e largar a sua vida em Phoenix. Eu seria egoísta se te pedisse isso. Não apenas porque não é justo fazer você desistir de tudo por minha causa, mas também porque eu não sei se sou capaz de confiar em você novamente. – E então, antes de falar algo que me arrependesse ou ouvir algo que me fizesse voltar atrás, simplesmente levantei è me afastei.

Ao ouvir sua voz, no entanto, parei com a mão na maçaneta, sem me voltar.

-“Amor não é amor, se quando encontra obstáculos se altera, ou se vacila no mínimo temor. Amor é um marco eterno, dominante, que encara a tempestade com bravura; É astro que norteia a vela errante, cujo valor se ignora lá na altura. Amor não teme o tempo, muito embora, seu alfanje não poupa a mocidade; Amor não se transforma de hora em hora, antes se afirma para a eternidade.”

Por mais que aquela não fosse a primeira vez que Clara  citava um poema inesperado no meio de uma conversa, e por mais que aquele poema específico fosse tão conhecido e até um – “Amor não é amor, se quando encontra obstáculos se altera, ou se vacila no mínimo temor. Amor é um marco eterno, dominante, que encara a tempestade com bravura; É astro que norteia a vela errante, cujo valor se ignora lá na altura. Amor não teme o tempo, muito embora, seu alfanje não poupa a mocidade; Amor não se transforma de hora em hora, antes se afirma para a eternidade.”

Por mais que aquela não fosse a primeira vez que Clara  citava um poema inesperado no meio de uma conversa, e por mais que aquele poema específico fosse tão conhecido e até um pouco gasto, aquelas palavras me pegaram mais de surpresa do que eu queria admitir. E me assustaram até o último fio de cabelo, apenas por se tratar da mais pura verdade. E foi por causa desse medo que eu, contrariando o tanto que tinha acusado Clara  de mentir, fiz o mesmo.

-Acho que o que sentimos pode nunca ter sido amor, afiinal.

Sweet sin (Doce Pecado) - Clarena Onde histórias criam vida. Descubra agora