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Já passava das dez da manhã quando saí do quarto, me sentindo renovada, depois de tantas horas de trabalho.

A televisão ligada na sala me atraiu para aquele cômodo e eu encontrei Clara ali, deitada no sofá assistindo a um desenho animado na televisão.

Por um momento cheguei a pensar que a presença dela naquela casa tivesse sido apenas um sonho. Afinal, tinha passado a noite inteira sonhando com ela. Não sei se pela sua chegada que me pegara de surpresa, ou se por eu ter o hábito de sonhar com as coisas que tiveram mais impacto na minha vida durante o dia.

Lembro que o primeiro sonho consistia em Clara correndo atrás de Théo com um machado, enquanto eu corria atrás dela para impedi-la de matar meu filho. Esse sonho tinha me feito acordar cansada no meio da noite, como se estivesse correndo de verdade. Voltei a dormir, apenas para sonhar com ela mais uma vez, que agora recitava o mesmo trecho do poema da noite anterior, chorando, e depois dizia que desistiu de Théo . Que o amor que ela sentia por ele tinha acabado, E eu, honestamente, não duvidava que isso acontecesse fora do sonho também.

E agora ali estava ela rindo enquanto um personagem amarelo, que eu não conhecia, fazia alguma graça,

-Bom dia, Clara .

Seu olhar desviou imediatamente da TV, e ela me encarou aumentando ainda mais o sorriso e levantou, sentando no sofá de forma descontraída.

Descontraída até de mais, eu me atreveria a dizer. Uma perna sua permaneceu no sofá enquanto a outra foi para o chão, deixando-a um tanto exposta de mais por causa da saia muito curta, que mal cobria um terço das suas coxas. E apesar da meia longa que ela usava, mais de metade das suas coxas estavam expostas.

- Bom dia, Helena . Dormiu bem?

Não comentei nada sobre a sua mudança de tratamento, passando a me chamar pelo primeiro nome, já que não era assim tão velha para ser chamado de senhora.

- Muito bem. E você?

- Como um anjo - ela falou, ficando em pé com um salto suave. - Já tomou seu café da manhã?

- Ainda não. Estava indo fazer isso agora.

-Vou lhe fazer companhia então - ela concluiu sem deixar de sorrir e se abaixou para pegar suas sapatilhas que estavam no chão, sem cuidado nenhum, quase fazendo sua calcinha aparecer.

Desviei o olhar enquanto ela calçava os sapatos. Clara passou ao meu lado, me puxando pela mão para que eu a seguisse como se já estivesse completamente à vontade com aquela casa. E só então eu percebi que a sua saia não era a única coisa que ela vestia que era pequena demais para ela. Seu casaco cinza não conseguia cobrir sua barriga, deixando quase quatro dedos de pele exposta e os botões deixariam seu colo completamente de fora se não fosse pelo top preto que ela usava,

- Solaine! - Clara chamou com um grito, assim que chegamos à sala de jantar e ela logo aparecia, saindo da cozinha. - Você pode trazer o café da manhã da Dra. Weinberg , por favor? Ela deve estar faminta.

Sol lançou um olhar questionador para as nossas mãos entrelaçadas, seu cenho franzindo, mas tudo que ela fez foi assentir e se retirar em seguida.

Clara ainda agindo daquela forma estranha, soltou minha mão para puxar a cadeira para que eu sentasse.

- Aqui está o seu jornal - ela falou, pegando o jornal que estava dobrado num canto da mesa e me entregou.

- Você está bem, Clara ? - perguntei preocupada, ignorando o jornal e encarando-a.

- Claro que sim. O mau humor de ontem já passou - ela falou, abanando uma mão no ar como se tentasse afastar uma memória ruim e sentou ao meu lado. - Ainda estou chateada com Théo , é claro, mas não vou deixar isso estragar a minha vida. Há coisa muito melhores para se fazer do que lamentar por uma pessoa que não merece.

Sweet sin (Doce Pecado) - Clarena Onde histórias criam vida. Descubra agora