Capítulo 15: Surpresas (e descobertas) no jantar

40 4 2
                                    

A noite estava perfeita.
A lua crescente estava dourada e brilhante, e o ar fresco e leve deixou tudo mais bonito.
Sol dava os últimos retoques em sua maquiagem e ajeitava os cabelos. Ainda estava de robe quando Brisa entrou no quarto e disse:
- Está linda, querida.
- Obrigada. - a moça sorriu.- Você também...
Era verdade. O cabelo ruivo e longo da mulher estava solto, descendo em cascata cacheados até as costas. Usava um vestido azul escuro, bordado com pedrarias no busto, sapatos prateados e colar e brincos de pérolas.
- Que roupa irá usar? - perguntou a mãe.
- Será surpresa.
- Sabe que seu pai detesta surpresas...
- Mas não se preocupe, estarei linda e perfeita para o jantar dele. Agora, se me der licença...
A mãe saiu, deixando-a sozinha de novo. Passou o dedo em seu colar de concha e o retirou do pescoço. Trocou-o por um conjunto de brilhantes, presente do pai em seu aniversário de dezoito anos. Mas não desfez-se do colar: enrolou na mão esquerda, como se fosse uma pulseira e calçou as luvas brancas, colocando por cima uma pulseira de brilhantes e rubis. Pegou o vestido e olhou, sorrindo. Era tomara que caia, vermelho-sangue, de cetim até o meio das coxas, mas de renda que arrastava um pouco no chão, apesar do salto dourado.
Estava terminando de fechar o zíper quando ouviu o som de uma Ferrari e uma Mercedes estacionando em frente à sua casa.
*********************************
Anthony ajeitou mais uma vez a gravata vermelha e olhou-se no espelho do carro.
Impecável. Como sempre.
Agora não haviam dúvidas.
Ele iria jantar na casa de Sol Wiggins.
Ainda bem que havia se prevenido e trazido um buquê de lírios, com um pedido de desculpas na ponta da língua e carinho exalando por todos os poros.
Os pais saíram da Mercedes e vieram até o carro do filho. Ele abriu a porta e saiu também com as flores.
- Está realmente bonito, meu querido. - disse a mãe, ajeitando os cabelos cacheados do filho, cortados um pouco acima dos ombros. Ele havia feito a barba e estava sentindo-se estranho e ansioso. Não sabia qual seria a recepção da garota quando o visse. - Deveria ser sempre assim.
- Prometo ser assim daqui por diante, já que ficou tão feliz...
- Deve fazer isso por si mesmo Lionel, não por que os outros acham... - falou o pai, também com flores para oferecer à senhora Wiggins.
- Sei disso. Mas essa é uma decisão minha...
- Deixemos as conversas para depois. - a mulher ajeitou o vestido verde esmeralda e sorriu. - Está na hora de entrar.
*********************************
- Eles chegaram. - avisou o mordomo.
- Muito bem. Aguarde o toque da campainha e abra a porta. - disse Brisa. - Depois os conduza para a sala de estar.
Nem bem havia terminado de falar, o som da campainha ecoou. O mordomo correu para abrir a porta.
- Boa noites senhores. Madame...
- Boa noite. - cumprimentou Gregory.
- Sigam-me, por favor. O senhor e a senhora Wiggins estão esperando na sala de estar.
Eles foram conduzidos a um ambiente bem iluminado por um lustre de cristal dourado, com sofás vitorianos, poltronas altas e um aroma de flores recém colhidas. Haviam velas na mesa de centro, e taças de champanhe francês borbulhante.
- Sejam bem vindos a minha humilde casa... - disse Edward. Levantando com a esposa para cumprimentar os recém chegados. - Esta é minha esposa, Brisa Wiggins.
- Prazer em conhecê-la, senhora Wiggins. - disse Gregory, entregando o buquê.
- Obrigado. O prazer é todo meu. Mas deixemos as formalidades para as reuniões...
- Tudo bem. Esta é a minha esposa, Mary. E meu filho, Anthony.
Um brilho de reconhecimento passou nos olhos de Brisa, que sorriu.
- Ah, então este é o "Inventor". Meu marido falou muito bem de você...
- Obrigado senhora. - disse Anthony, polidamente, de costas para a porta.
- Desculpe, mas acho que não era necessário tantas flores... - disse o homem, pegando uma taça e oferecendo ao pai do rapaz.
- Querido, ele trouxe as flores para nossa filha... - cochichou a mulher.
- Ah... Aurora já está vindo. Ela atrasou-se um pouco porque fez questão de fazer a decoração do jantar.
- E ficou belíssima. - elogiou Mary. - ela deve ter muito bom gosto...
Mas Anthony não ouviu. Estava perdido em seus pensamentos. Aurora? Então aquela não era a casa de Sol?
Sentiu-se idiota por ter trazido aquelas flores para uma desconhecida.
- Aqui está! - disse Edward, transbordando de orgulho. - Gregory, quero que conheça Aurora Wiggins, minha filha.
O rapaz estremeceu, com medo de virar e ver a filha do sócio do pai.
Seu sócio.
Mas virou mesmo assim.
E quase desmaiou ao ver a moça.
- Boa noite senhores. - disse ela, sorrindo. Mas quando os olhos dela encontraram os do rapaz, seu sorriso desapareceu como por encanto.
*********************************
Ela sorriu, vendo o homem e a mulher joviais que já sabia os nomes.
Gregory e Mary Teablyn.
Mas quando seus olhos encontraram os do rapaz intitulado "Inventor" pelo pai, seu sorriso sumiu, deixando apenas espanto em seu rosto.
Anthony.
De repente, veio nítida a lembrança de quando disse a mãe que ele era bolsista da SKT.
Ele era simplesmente um dos donos da empresa que faz parceria com a do seu pai...
- Está tudo bem? - perguntou Mary, tirando-a do transe que estava inserida.
Sol recompôs-se rapidamente, e o sorriso voltou a brilhar em seu rosto.
- Claro, senhora Teablyn. É um prazer conhecê-la. - a garota cumprimentou a mulher, sempre sorridente.
- Por favor, pode chamar de Mary. Tem uma filha maravilhosa Edward...
- Obrigado. - agradeceu o homem, com um sorriso nos lábios.
- Senhor Teablyn, meu pai fala muito bem do senhor... - disse a jovem, cumprimentando Gregory.
- Seu pai é exagerado, senhorita.
- Posso ter sido um pouco com relação a você. - revidou Edward. - Mas não fui nem um pouco em relação ao Inventor...
Dessa vez não tinha mais jeito. Sol respirou fundo e olhou para o rapaz, que sorriu timidamente.
Iria dizer "nós já nos conhecemos" ou agir como estranhos?
- Prazer em conhecê-la senhorita Wiggins. - disse Anthony, tomando-lhe a mão enluvada e beijando delicadamente.
- O prazer é todo meu, senhor Teablyn. - ela respondeu, com um toque de raiva na voz, percebido apenas pelo jovem.
- Espero que goste. - disse ele, entregando o buquê de lírios.
- Obrigada. - o sorriso e o olhar endureceram, como se dissessem:
"Você me paga..."
- Que tal um brinde? - sugeriu Brisa, com uma taça de champanhe na mão.
Todos pegaram sua taça e entreolharam-se.
- Muito bem, - falou o anfitrião. - Vamos brindar à nossa parceria.
- E que o jantar seja perfeito... - Brisa sorriu.
- Brindaremos também para que possamos ter um laço duradouro, não só nas empresas, mas de amizade. - Gregory assentiu com a cabeça, fazendo todos concordarem. - E também que mais coisas desse tipo aconteçam... - completou Mary.
- E então querida... - o pai de Sol fitou-a. - Vai brindar a quê?
- Brindaremos ao sucesso. - e olhando de soslaio para o garoto, completou. - E a inteligência do senhor Teablyn.
- Já eu sugiro o futuro. - Anthony levantou a taça, sendo imitado por todos. - E a beleza da senhorita Wiggins.
Eles riram e disseram em uníssono:
- Saúde!
O tilintar das taças foi a única coisa ouvida depois.
- Senhor, o jantar está servido. - anunciou o mordomo.
- Perfeito. - disse Edward, rindo. - Vamos, hoje temos lasanha. É uma raridade por aqui...

O outro lado da moedaOnde histórias criam vida. Descubra agora