Capítulo 14: Acontecimentos pré jantar

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Ele havia mentido.
Anthony, o senhor perfeito cavalheiro estava sumido há exatos quatro dias.
Não ia para a escola, não apareceu no jogo da SKT contra Stiffler College, no qual a primeira levou a melhor por 12 pontos de diferença no placar, não atendia o telefone... Até na montanha ela fora procurá-lo. Duas vezes.
Isso já estava deixando Sol Wiggins espumando de raiva. Quem aquele garoto pensava que era pra sumir daquela forma sem dar satisfação?
Afinal de contas, eles estavam juntos, não estavam? Ele a tinha beijado, abraçado e sussurrado em seu ouvido. Tinha dito que gostava dela. Então porque o rapaz simplesmente tinha desaparecido do mapa?
A sexta-feira havia amanhecido cinzenta, e a moça acordou e olhou no celular em busca de alguma mensagem ou chamada perdida de Anthony.
Nada.
"Maldito..."
A jovem espreguiçou-se lentamente, aspirando o ar da manhã e retirando uma a uma as suas cobertas. Uma, duas...
- Bom dia Aurora.
Ela quase caiu da cama.
Era seu pai.
- Bom dia papai... - respondeu ela. Ele deu-lhe um beijo na testa e sentou na borda da cama.
- Está tudo bem?
- Sim, está. - se tinha uma coisa que Sol conhecia, era quando Edward iria dar uma ordem suprema. E do jeito que ele havia chegado, chamando-a pelo nome verdadeiro, era bastante provável que isso ia acontecer. Tentou desconversar. - Eu tenho que ir tomar banho para ir pro colégio...
- Você não vai para o colégio hoje, querida.
"Ainda mais essa agora...", pensou ela.
- E porque?
- Quero que você ajude sua mãe com o jantar de hoje à noite. Escolher louça, flores, velas, essas coisas... Você tem um excelente gosto.
- Obrigada papai, mas ela não pode fazer isso sozinha? Eu não queria perder aula...
- Você não assimila a matéria mesmo estando presente em todas as aulas. - o homem falou, com voz dura.
A moça odiava quando o pai falava aquilo. Era como se uma faça estraçalhasse seu coração,deixando-o sangrar e morrer lentamente. Para ele, as mulheres não serviam para mais nada além de comprar e organizar coisas. Ela crescera ouvindo o discurso de que jamais teria capacidade para assumir a empresa dele, que ele teria que vendê-la quando ficasse velho porque não saberia como tocar para a frente um negócio como aquele.
Resolveu não discutir. Baixou a cabeça em sinal de obediência e disse:
- Sim papai.
Edward sorriu.
- Isso. Ah, quero que está casa esteja impecável. Eles são muito importantes. Seremos parceiros em breve, e uma boa recepção me dará mais prestígio com ele.
- Não se preocupe papai. Estará tudo exatamente como quer...
O homem levantou e foi em direção à porta. Tocou a maçaneta, mas lembrou de algo e girou nos calcanhares para dizer:
- Ah, querida... Apresentarei você por seu verdadeiro nome para o doutor Teablyn e a família dele.
Ela olhou-o, visivelmente chocada.
- Já vieram muitos investidores aqui, e em nenhum momento eu tive que ser chamada por meu outro nome...
- Pois hoje será, e é melhor que se acostume rápido com ele. E acho que não é necessário dizer que que quero você magnífica para esse jantar. Acho que irá gostar do Inventor...
Edward saiu do quarto, deixando uma Sol atônita por estar passando por aquilo. Além de tudo, ele queria arranjar um namorado pra ela...
Sentiu vontade de quebrar qualquer coisa para se acalmar, mas tudo ali ela gostava. Tocou o pescoço e sentiu o colar de concha, presente do seu garoto. Que estava muito mal na fita por não estar atendendo.
Ela abriu a gaveta do criado mudo e tirou um chocolate. As trufas que Anthony lhe havia dado estavam no fim, e a garota suspirou. Quanto tempo fazia que ela comia doces, frituras e salgadinhos? Duas semanas? Entretanto, mantinha a forma esguia e bonita de sempre.
"Minha mãe tinha razão...", pensou. "E aquele nerd idiota também."
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Ele estava enlouquecendo. Se ficasse mais um dia sem falar com Sol, com certeza se atiraria do vigésimo sexto andar do prédio-sede da empresa... Seu celular havia sido confiscado pela mãe depois que chegara de viagem e ela só iria devolvê-lo depois do jantar na casa do senhor Wiggins. Um consolo para Anthony, era imaginar que Sol era realmente filha dele, e estar presente no jantar de hoje.
Uma salva de palmas encerrou o discurso de Anthony Teablyn no auditório da empresa do pai. Sua empresa, também. Uma chuva de flashs quase o deixou cego. Edward Wiggins subiu ao palco e em posse de um microfone, disse:
- Desde já, agradeço ao senhor Teablyn pelo projeto perfeito. Teremos uma longa jornada pela frente com essa parceria entre as duas maiores empresas de tecnologia do país!
Mais palmas ecoaram e uma moça loira de olhos azuis entrou no palco, trazendo uma almofada de veludo vermelho. Encima, uma caneta dourada e um termo de compromisso.
Edward sorriu e falou baixinho:
- Vamos selar a parceria entre as empresas publicamente. Estaremos em todos os jornais amanhã...
O rapaz suspirou. Detestava fazer aquilo parecer amigável, pois sabia que não seria. Ainda mais com aquele homem que tratara mal sua secretaria. Se não fosse um jantar em família, ele com certeza a levaria, só para irritá-lo.
Deu de ombros. Pegou a caneta e assinou da forma mais rápida que conseguiu. O outro o imitou, sempre com um sorriso no rosto. Por fim, o aperto de mão simbolizando a união das duas equipes. Com sorrisos e tapinhas nas costas, eles foram fotografados também, e em seguida Gregory Teablyn subiu ao palco para agradecer. O jovem aproveitou o momento e escapuliu para os bastidores. Correu pelos corredores e entrou em sua sala de convivência, espaço criado por ele mesmo para quando queria relaxar.
- Estava bastante bonito, Thony. - disse Mary, sua mãe, que estava sentada em um divã de couro branco próximo à fachada de vidro. Ela pensara em tudo antes de mandar construir aquele prédio. Eles usavam placas solares para abastecer 15% da energia elétrica utilizada, água da chuva para regar os jardins e dar a descarga, e toa a fachada de vidro polido, possibilitando assim que a luz solar entre e ilumine tudo, economizando eletricidade. Ele sentia muito orgulho dela.
- Obrigado. - o garoto ajeitou a gravata e frente o espelho e deu uma checada em seu email. Mais de quinhentas mensagens haviam chegado. Mas nenhuma deles era de quem ele queria realmente. A mãe tocou-lhe o ombro.
- Sabe, a sua garota é muito insistente...
- Mamãe, pela milésima vez, devolva meu celular!
- Não enquanto não descobrir quem ela é.
- Talvez descubra hoje no jantar, talvez não...
- Você é bastante esperto na área de informática e técnicas. Mas um leigo na hora de esconder algum segredo.
- Isso não faz sentido! - ele reclamou. - Já tenho dezenove anos, quase vinte! Trabalho quase oitenta horas por semana, incluindo a escola e nao tenho tempo para romances. Mas quando começo a gostar de alguém, você quer por uma pedra no caminho...
- Está certo. Eu vou enviar uma mensagem a ela dizendo que você a ama.
A mulher saiu, deixando um Anthony furioso ante a perspectiva de ficar mais um dia incomunicável, mas feliz por ter um tempo sozinho para pensar. Em olhos dourados e cabelos ruivos...
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Lírios ou tulipas amarelas?
A moça ficou em dúvida. Os lírios eram suas flores favoritas, mas as tulipas pareciam ser as melhores para uma ocasião como aquela.
- Vou levar as tulipas. Algumas rosas brancas e copos de leite.
Sol entregou o cartão com o endereço de sua casa e saiu da floricultura. O dia estava limpo, sem nuvens e um sol perfeito. Ela examinou sua agenda, riscando o quesito flores.
- Muito bem, agora vejamos... Acho que algumas lâmpadas e velas seria muito bom.
A garota entrou no conversível vermelho e percorreu as ruas em busca do que queria.
Uma hora depois ela já tinha encontrado tudo o que precisava para decorar a casa. Agora só precisava de uma coisa.
Um vestido.
Ela circulou pelas lojas, procurando alguma coisa que lhe chamasse a atenção. Até que viu na vitrine de uma boutique, o traje perfeito.
Combinava muito bem com a ocasião. Não era vulgar, nem sério demais. A fazia parecer bonita e respeitada, a verdadeira herdeira da Gleen Cklonds Corporation, pelo menos na frente dos investidores do seu pai.
Agora só restava voltar para casa, organizar e torcer para que seu pai não bancasse o cupido jogando-a pra cima do tal Inventor Teablyn.
Ela ainda esperava que Anthony retornasse suas ligações ou torpedos. Mas até agora, nada...
É. Talvez o Inventor não fosse tão ruim assim.
Sacudiu a cabeça, tentando recuperar a razão. Tinha problemas demais, e procurou se concentrar em algo para não pensar constantemente naquele rapaz...
E ainda tinha que suportar o jantar.
Meu Deus!
Só queria que aquilo acabasse logo para sair rumo à montanha...

O outro lado da moedaOnde histórias criam vida. Descubra agora