Sol chegou às seis e vinte e cinco, e começou a se aquecer. Em seguida as gêmeas Megan entraram no ginásio e espantaram se ao ver a outra fazendo alongamento.
- Chegou mais cedo, Sol! - exclamou Lara.
- Vim para me aquecer e alongar. Preciso estar bem antes de começarmos. Laura a rodeou.
- Você parece diferente...
O coração da jovem parou. Ela tinha absoluta certeza de que estava perfeitamente em ordem ao entrar na quadra, com o batom impecável e os cabelos bem escovados. Nenhum sinal de Anthony era visível no seu exterior, somente seu coração batia adoidado toda vez que lembrava do beijo.
- Diferente como?
- Parece mais alegre que o normal. - Lara respondeu. - Seus olhos parecem duas turmalinas.
Ela pensou um pouco e retrucou:
- Gostavam mais de mim antes de ter os olhos brilhantes?
Elas riram.
- Pelo contrário. Está realmente fazendo jus ao seu nome.
Scarlet, Alice e Pâmela entraram no ginásio, completando assim o time das líderes de torcida. A primeira trazia a bolsa com as fitas, pompons e as braçadeiras com o brasão da SKT bordado em dourado no fundo preto.
- Muito bem garotas. - bradaram as gêmeas. - Posição!
Sol era a primeira da fila, depois Lara e Laura e por último Alice, Pâmela e Scarlet, formando um triângulo. Sol ligou a música e em seguida começou a fazer os passos cronometrados da coreografia. Concentrou-se na dança e fez o melhor ensaio em séculos.
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Demorou um pouco para se transformar no empresário de sucesso que todos imaginavam, pelo menos na aparência. Cortou um pouco dos cabelos e tirou a barba com esmero. Foi com grande pesar que escovou os dentes e usou enxaguante bucal. O gosto doce de Sol ainda estava nítido em sua boca.
Ao sair do banheiro e entrar no quarto, sua mãe estava sentada na borda de sua cama.
- Se não se apressar irá se atrasar.
- Estou quase acabando. - disse ele, ajeitando o nó da gravata.
- Antes de ir, quero falar com você. É sobre o projeto.
Ele colocou a caneta-adaga no bolso da camisa branca e falou:
- Estou ouvindo.
Ela levantou e foi ajudar o filho com o paletó.
- Não coloque muitas expectativas, Thony. Seu pai pode aceitar de bom grado, mas estamos lidando com um estranho. Quem sabe se ele irá gostar ou não?
Anthony beijou a mãe na testa e disse:
- De todos os 453 protótipos apresentados, o meu foi eleito o melhor. Se consegui impressionar a todos do júri de seleção, também conseguirei deixar boquiaberto o senhor Edward Wiggins. - e, olhando ao redor, perguntou. - Onde está minha mala?
- No carro.
O rapaz beijou a mãe mais uma vez e saiu.
A viagem de dez minutos de sua casa ao aeroporto foi regada de sentimentos ambíguos. De um lado, o receio do projeto ser vetado. Do outro, uma espécie de topor que o envolvia toda vez que relembrava os momentos que passara com Sol na montanha. Ele nunca havia levado mais ninguém lá, e sabia que jamais levaria alguém além dela.
Pontualmente as sete, Anthony estacionou no hangar. O jatinho particular da empresa já o aguardava, com todos os empresários reunidos tomando champanhe.
- Boa noite, senhores.
- Bem na hora, senhor Teablyn. Acomode-se e aperte os cintos. Vamos decolar em alguns instantes.
O jovem sentou numa poltrona perto da janela e afivelou o cinto.
- Champanhe senhor? - perguntou a aeromoça.
- Não, obrigado.
O avião taxiou pela pista e decolou rapidamente. Assim que estavam no ar, ele retirou o notebook da pasta e começou a rever o slide que iria apresentar pela manhã. Agora a noite, nas duas horas de vôo e no jantar no hotel em que ficariam hospedados, seriam apenas conversas informais, já que o pai detestava falar de negócios quando estava comendo. Talvez tentasse descobrir alguma coisa sobre Sol. Sim, porque desde quando ouvira o sobrenome do novo sócio de seu pai, não teve dúvidas de que ele era parente de Sol Wiggins.
Seu celular vibrou no bolso da calça. Ao desbloquear a tela, viu que era uma mensagem de sua mae.
"Me deve uma explicação, Anthony Teablyn..."
Ele franziu o cenho.
"Sobre o que? "
Demorou mais ou menos três minutos pare que a mensagem chegasse. Não era texto, e sim uma foto da camisa que o rapaz vestia algumas horas atrás.
Com uma mancha de batom vermelho.
"Deveria ter me contado que estava namorando..." , ela enviou logo depois.
"Não estou namorando..." pensou Anthony.
- Lionel...
O garoto levantou os olhos e viu o pai sentar ao seu lado. Imediatamente guardou o celular no paletó e disse:
- Sim?
- Acha que irá convencê-los?
- Não. - Anthony respondeu, arqueando as sobrancelhas. - Tenho certeza.
O pai abraçou-o, sorrindo.
- Assim que eu gosto de ver... - e depois de alguns instantes de silêncio absoluto ele perguntou. - Como ela está?
O jovem pensou em desconversar, mas queria desabafar, e não havia ninguém mais confiável do que seu pai. Falou:
- Ela me procurou hoje de manhã na biblioteca. Queria agradecer por a ter socorrido na noite passada.
- E...
Anthony pigarreou.
- Eu e ela somos muito diferentes.
- Sua mãe era a patinha feia da classe, e eu o Don Juan. Mas algo mais forte do que isso nos uniu.
- Como você se sentia perto da mamãe?
Gregory sorriu, trazendo recordações guardadas no fundo do seu coração.
- Na verdade, é como ainda me sinto. A eletricidade no toque, o olhar, as conversas, e também nas coisas simples. Acredita que Mary ainda tem a rosa que dei a ela em nosso primeiro encontro?
O rapaz riu.
- Ela é muito sentimental.
- E eu também. - o homem afrouxou um pouco a gravata e tirou um pequeno relicário de prata. Dentro, uma foto dos três sorridente.
- Queria ter algo a me prender assim... - suspirou Anthony. O pai tocou-lhe o ombro.
- Você ainda é jovem, Lionel. Tem muita coisa pra fazer, conhecer, viver... Mas, voltando ao assunto, depois de agradecer ela foi embora?
- Sim. A tarde fui para a montanha pensar.
- Aquele lugar sempre foi sagrado pra você...
- E ela foi também.
Gregory estranhou.
- Você a levou?
- Duas vezes, mas dessa vez Sol foi por conta própria.
- E então?
Anthony baixou a cabeça.
- Conversamos.
- Só isso?
- Ela me beijou.
O homem tentou ficar o mais sério possível, entretanto ainda deixou escapar um sorriso. Perguntou:
- E você, o que fez?
- Fiz o que faz quase uma semana que queria fazer: beijei-a. Eu nunca me senti tão bem. Sol é muito... especial.
O pai levantou e sorriu:
- Está bem, Lionel. Vou deixá-lo curtir seu amor por alguns minutos antes do jantar.
Anthony não ouviu. Seus pensamentos estavam a quilômetros de distância. E dez mil pés abaixo.
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O outro lado da moeda
RomanceUm nerd gênio no mundo da tecnologia. Uma patricinha rica que acha que tudo pode ser rotulado a seu bel prazer. Uma atração irresistível. Embarque na aventura de Sol e Anthony e veja o outro lado da moeda.