Capítulo 3: Primeiras impressões

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Depois de ter corrido quase cinco quilômetros na esteira, Anthony achou que já havia gastado toda a sua ansiedade e nervosismo.
Estava redondamente enganado.
E o pior é que sabia disso.
Entrou no chuveiro e tomou um banho frio. Ao sair, escolheu no closet um suéter cinza e calça preta, com sapatos combinando. Depois de muita insistência da mãe, o rapaz concordou em aparar um pouco a barba. Olhou-se no espelho.
É. Era o nerd idiota de sempre com o típico cabelo o-boi-lambeu.
Pegou os óculos e a mochila, descendo as escadas cromadas em passos rápidos.
- Bom dia Lionel.
O pai de Anthony, Gregory Teablyn, abriu os braços e puxou o filho, bagunçando ainda mais aquela cabeleira que mais parecia com a da medusa. Aliás, esse era um dos apelidos que esperava ganhar esse ano. Um dos poucos que faltavam na sua coleção quase infinita...
- Bom dia papai. Onde está mamãe?
- Acho que está dormindo. Acabei de chegar. E então, já vai sair?
-Tenho que ir... - respondeu o garoto, mas o pai perguntou:
- Tão cedo?
-Sim. Sabe que eu detesto atrasos. Até mais!
Anthony saiu em disparada para a porta da frente, atravessou o imenso jardim e quando quase alcançava o portão, lembrou que tinha esquecido do seu "lápis". Porém não se preocupou muito.
Primeiro dia de aula? Não seria a primeira vez que passara por aquilo.
E, pelo que sabia, não seria o último.
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Sol dava os últimos retoques em sua maquiagem perfeita. A blusa branca com mangas de renda que se alargavam nos punhos, junto com a calça preta e botas de couro da mesma cor lhe deram um ar sensual. No cabelo ondulado, ela colocou uma flor, que retirou logo em seguida. Não, era muito estranho. Pegou sua boina favorita, preta com tachinha de metal dourado e seus óculos Ray-Ban de lentes cor de rosa e ajeitou-os. A mochila estava pronta desde a semana passada, então apenas pegou a chave do seu conversível vermelho, colocou a mochila em suas costas e saiu de casa sem se despedir de ninguém.
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A escola SKT ficava em castelo do século XVII, mas remodelado para parecer mais antigo do que realmente era. A enorme escadaria de mármore conduzia ao grande e largo corredor principal, que se ramificava para vários outros corredores menores. Apesar de parecer ser um colégio rústico, era bastante moderno, com vários laboratórios, espaços para esporte, ioga, um enorme salão de festas e uma biblioteca que ocupava quase toda a extensão do terceiro andar. Os jardins que o cercavam eram muito bem cuidados, com uma variedade de árvores incrível, sombreando quase tudo. Os muros eram altos e grossos, como convém a um castelo, e os portões de carvalho ostentavam em alto relevo o brasão da escola.
Anthony passou lentamente pelos portões, com a secreta esperança de que teria uma recepção esperando por ele.
E, por mais impressionante que possa parecer, vários adolescentes estavam de olho nos portões.
- Novato?
O rapaz virou automaticamente para responder.
- Sim.
- Marcello Collins. - O rapaz franzino, de óculos fundo de garrafa, usando um suéter listrado, calças caqui e sapatos pretos espantosamente lustrados estendeu a mão para cumprimentar o recém chegado.
- Anthony Teablyn. - ele retribuiu o aperto de mão sorrindo.
- Prazer. Espero que você se dê bem aqui na SKT.
Anthony notou que as pessoas aglomeravam-se consideravelmente, como se aguardassem algo. Ele inclinou-se para seu novo amigo e perguntou:
- Porque a aglomeração?
O outro riu.
- É um "ritual" que a elite da SKT mantém desde a sua fundação. - ao longe, começaram a ouvir o ronco de motores potentes. -E que irá começar em 3, 2, 1...
No mesmo instante um belíssimo Land Rover laranja atravessou os portões, seguido por um Camaro azul, duas CB 300, uma limousine branca e um HB 20 prata.
- O que é isso? - perguntou Anthony, embasbacado.
- Se conseguirmos chegar a tempo de pegar um bom lugar, talvez eu consiga explicar melhor... - respondeu Marcello, correndo para a entrada e sendo seguido por ele, que ardia de curiosidade para saber o significado de tudo aquilo.
Por sorte, eles conseguiram um lugar bem em frente à porta, onde um longo tapete vermelho estava estendido. Ele empertigou-se em seu lugar com vista privilegiada de todo aquele evento estranho para ver se conseguia entender alguma coisa.
Uma moça de cabelos negros encaracolados, olhos amendoados e pele morena destacou se na multidão. Ela empunhava um microfone e um rapaz a seguia com uma câmera de um lado para o outro.
De repente, com uma voz suave, mas firme, começou a falar:
- Povo da SKT, estamos todos aqui para presenciar a chegada da elite de nossa escola, a nata dos melhores estudantes...
- O que é isso? - Anthony sussurrou.
- Ela é Pâmela Wilson, a nossa "repórter". Ela é quem sempre faz a cobertura do primeiro dia de aula para o jornal da escola.
Os primeiros alunos começaram a sair. Do carro laranja saiu um rapaz de porte atlético, bronzeado, cabelos castanhos e olhos azul escuro, acenando para a multidão.
- Quem é? - perguntou Anthony.
- Adams Sammer. O capitão do time de futebol. É como o "Zeus" da SKT.
Do carro laranja também desceu um casal de gêmeas, que só se diferenciavam pelo fato de uma usar rosa e a outra lilás. Tinham uma pele quase translúcida, olhos verdes esmeralda e cabelos loiros que chegavam a cintura. Usavam bolsa com alça dourada, botas, calça de montaria, blazer e boina. Tudo combinando.
"O estereótipo da patricinha. E em dose dupla.", pensou Anthony.
- Lara Megan, a de rosa, e Laura Megan, a de lilás. As líderes de torcida mais famosas da escola, e fora dela. E os dois casais do Camaro são Alice Smith e Jacob Hopkins, e Scarlet Kristen e Lincoln Swift. São filhos de banqueiros, empresários, médicos e juízes famosos. O cara na moto é Leonardo Sarkozy, o melhor jogador de baseball da SKT...
E assim várias personalidades da SKT foram desfilando e juntando-se todos em uma espécie de "área vip". Quando o último saiu do carro e foi anunciado pela repórter, ela encerrou dizendo:
- E agora, vamos abrir as portas do sub mundo! - e fez um sinal para o câmera, que parou de filmar.
Os populares começaram a entrar na escola, mas antes que um deles pusesse o pé no hall de entrada, um cantar de pneus foi ouvido. A Ferrari vermelha estacionou bem em frente ao grande tapete vermelho, em meio aos sussurros e olhares espantados de todos.
- Essa não... - disse Marcello, balançando a cabeça negativamente, mas com um sorriso nos lábios.
Antes que Anthony pudesse perguntar o porquê da expressão do amigo, uma voz doce, mas irônica, falou:
- Cheguei atrasada?
- Como sempre, mas já nos acostumamos com isso. - respondeu Pâmela, com um sorriso. Fez um gesto para o câmera, que rapidamente recomeçou a filmar.
- E, para coroar nosso primeiro dia de aula, a chegada mais do que esperada de Sol Wiggins!
Anthony olhou-a de cima a baixo. O cabelo ruivo, a pele alva, o jeito altivo e provocante. Não gostou muito dela...
- Obrigada, mas eu detesto câmeras. Então, vamos logo acabar com isso.
Ela subiu as escadas da SKT e entrou com pé direito na escola.

O outro lado da moedaOnde histórias criam vida. Descubra agora