PRÓLOGO

23 2 5
                                    



Caminhei pelas ruas vazias, o eco solitário dos meus passos era a única trilha sonora para minha chegada tardia. Ao abrir a porta, o ar pesado da casa mesclava-se com a tensão que pairava no ambiente. Luzes fracas destacavam a sala, onde meu padrasto, envolto em uma névoa de fumaça, lançou-me um olhar que anunciava problemas.

— Olha só quem resolveu aparecer. Nick, você tem ideia que horas são? - a voz dele cortava o silêncio, áspera como sempre.

Ignorei o desdém, respirei fundo e encarei aqueles olhos cansados de batalhas perdidas. Não havia medo em mim, apenas uma irritação profunda. O cheiro doentio de substâncias ilícitas impregnava o ambiente, e a indiferença estampada no rosto dele só alimentava minha determinação.

— Não preciso das suas lições. - Minhas palavras foram lançadas com frieza, uma resposta à guerra silenciosa que travávamos. Ele pode ser o dono da casa, mas nunca será dono de mim.

Empurrei a porta do meu quarto com um estrondo, deixando claro que não estava para joguinhos naquela noite. Ouvia os resmungos raivosos ecoarem do andar de baixo enquanto eu me desfazia das camadas de frustração e cansaço. Joguei a mochila no canto do quarto, sabendo que o fardo que carregava não se comparava ao peso das suas expectativas distorcidas.

Liguei a caixa de som baixinho, buscando abrigo nas notas de uma música que sempre me acalmava. Olhei para o espelho e encarei meu próprio reflexo. Os olhos cansados refletiam mais do que apenas a fadiga física; mostravam a exaustão de uma batalha constante contra um inimigo dentro das paredes que deveriam ser seguras.

No entanto, algo em mim se recusava a ceder. Talvez fosse teimosia ou apenas a chama ardente da rebeldia juvenil. Eu não estava disposto a me curvar diante da escuridão que ele tentava projetar sobre mim. E, naquela noite, enquanto a música preenchia o quarto e o cheiro amargo da casa impregnava minhas roupas, eu prometi a mim mesmo que encontraria minha própria luz, mesmo que precisasse enfrentar as sombras do meu próprio lar.

A porta do meu quarto se abriu com um rangido, revelando a silhueta escura do meu padrasto. Seus olhos injetados de raiva refletiam a intensidade do confronto iminente.

— Você pensa que pode desafiar tudo e todos, não é, Nick? - A voz dele era um rugido abafado, mas eu permaneci firme, recusando-me a ser intimidado.

— Não é sobre desafiar, é sobre não me render ao que você representa. - Minha resposta foi pontuada por uma determinação tranquila, quase desafiadora.

Ele se aproximou, a fumaça se arrastando com ele como um espectro sombrio. Uma risada desdenhosa escapou de seus lábios, mas eu mantive meu olhar firme, ignorando a tempestade que se formava.

— Você não vai longe com essa atitude, garoto. - Sua advertência estava carregada de ameaças, mas eu já estava acostumado com suas tentativas de me quebrar.

Fechei a porta com um estrondo, isolando-me da toxicidade que permeava o corredor. No silêncio que se seguiu, respirei fundo, sabendo que essa era apenas mais uma batalha em uma guerra que ainda estava longe de acabar. Eu estava determinado a trilhar meu próprio caminho, mesmo que isso significasse enfrentar as tempestades dentro de casa.

Os minutos se estenderam como horas, uma tensão elétrica pairando no ar. O som abafado da música ecoava meu estado de alerta, como se também sentisse o peso do que estava por vir. De repente, a porta foi arremessada aberta, revelando a figura enfurecida do meu padrasto.

— Você não aprende, garoto inútil! - Seus punhos cerrados indicavam a tempestade iminente, e antes que eu pudesse reagir, um golpe atingiu meu rosto.

A dor reverberou, mas não me deixei tombar. Um calafrio percorreu minha espinha, transformando-se em determinação. Recuperei o equilíbrio e encarei-o, uma chama silenciosa queimando nos olhos.

— Isso é tudo o que você tem? - Minha voz cortava o silêncio, desafiadora.

O segundo golpe veio, mais feroz do que o primeiro, mas eu resisti. Cada soco alimentava a chama, transformando a dor em combustível para a minha resistência. Eu não daria a ele o prazer de me ver quebrar.

Atrás da porta fechada, a música continuava a tocar, como uma trilha sonora sombria para o conflito doméstico. Eu sabia que aquela noite seria lembrada não pela dor física, mas pela promessa silenciosa de que, não importasse o quanto ele tentasse me derrubar, eu ergueria a cabeça mais uma vez e iria fazê-lo pagar.

Skyfall - Entre o Ódio e o PrazerOnde histórias criam vida. Descubra agora