Diante de mim

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A luz da manhã invadiu meu quarto, revelando a noite de insônia que se passou depois de um dia estressante. Decidi me refugiar na música, tentando acalmar a mente, enquanto fumava para relaxar.

Levantei-me, tomei um banho rápido e vesti meu traje costumeiro: calça preta, blusa escura e a jaqueta de couro. Peguei minhas chaves juntamente com a mochila e logo saí do meu quarto. Passo pela sala sem dirigir uma palavra sequer à minha mãe e ao seu marido, que estavam presentes do no local. Era possível sentir minhas costas queimando com seus olhares, mas nenhum se atreveu a dizer algo. Caminho até a garagem, pego o capacete, subo na minha moto e acelero o mais rápido possível para longe dali.

Ao estacionar no campus, observei as pessoas entrando animadas pelos corredores dos prédios. Animadas somente para saber de quem iriam comentar, ou então quais fotos iriam ser tiradas para compartilhar em suas redes sociais. As pessoas daqui são preocupadas apenas com aparência e status social. Bufei levemente antes de tomar coragem para me levantar e caminhar rumo os prédios, tentando evitar os olhares curiosos e comentários que sempre faziam sobre a minha pessoa.

Nas primeiras aulas, permaneci no fundo da sala com meus fones de ouvido, perdido em meus pensamentos, ou simplesmente cochilando, tentando ignorar qualquer tentativa de interação.
As horas haviam passado tão rápido que nem cheguei a ver quando o intervalo foi anunciado. Saio da sala juntamente com os outros e dirigi-me ao meu lugar habitual de sempre, atrás da escola, um local vazio, distante de todas aquelas pessoas e tranquilo, onde acendi um cigarro e passei todo aquele tempo ali, absorvendo a tranquilidade momentânea.

Assim que o sinal tocou anunciando as próximas aulas, decidi ignorá-las e ficar ali por mais um tempo, sem paciência para lidar com qualquer professor ou falatório em minha cabeça naquele momento.

Após alguns horários de aulas acontecendo, ali estava eu, somente observando o tempo passar, decidi sair do prédio e ir para qualquer lugar onde o ar não exalava gente mimada e exibida.

Enquanto caminhava pelos corredores vazios, liberando a fumaça dos meus pulmões, algo colidiu-se contra mim, seguido pelo som de algo caindo no chão. Ao abaixar os olhos, deparei-me com uma figura pequena, de cabelos dourados e olhos claros diante de mim. Emma White, a líder de torcida perfeita e almejada por todos e o principal, integrante da elite escolar.

- Você não olha por onde anda, garota? - Digo em um tom ríspido e indiferente pelo ocorrido, mais para expressar minha frustração do que realmente esperando uma resposta.

- Talvez se você não estivesse mergulhado em uma nuvem de fumaça, conseguiria ver melhor. - Seu atrevimento em me dar uma resposta e rápida e ágio.

Reviro os olhos quando suas falas preenchem meu ouvido e sigo meu caminho pelo corredor, ignorando a mesma e deixando-a para trás.

Chegando ao estacionamento vazio do campus, caminho até a minha moto e após me apoiar nela, acendo mais um cigarro, decidindo aproveitar o tempo restante de aulas ali.

A ideia de voltar para casa parece pouco atraente, então, mesmo com o sinal anunciando o final das aulas, opto por permanecer no campus.

Retorno aos prédios e me encaminho em direção ao ginásio, onde algumas pessoas estariam entretidas assistindo ao treino pouco atrativo das líderes de torcida. Escolho um lugar estratégico nas arquibancadas, um pouco mais distante, puxo meus fones e observo o que acontecia ao meu redor. Alguns conhecidos me cumprimentam, e eu respondo com um simples aceno de cabeça, mantendo minha expressão neutra.

Quando tudo terminou, enrolo mais alguns minutos sentado na arquibancada. Observo as garotas conversando animadamente entre si após o treino, mas não pude deixar de notar o olhar frio que Emma me lançou quando nossos olhares se cruzaram pela primeira vez, desde o ocorrido de mais cedo.

Era facilmente notável quem era o assunto da conversa, ninguém nunca sabia disfarçar ao fazerem comentários sobre mim. Seus olhares e linguagens corporais os denunciavam.

Noto uma de suas colegas me olhando quando sorriso largo no rosto, me deixando brevemente assustado. Então sem delongas, me levanto do lugar e saio calmamente pela portaria do ginásio com o meu péssimo destino, ir para casa.

Ao sair do campus, o sol já começava a se pôr, tingindo o céu com tons quentes de laranja e rosa. Montei na minha moto e segui o caminho de volta para casa, deixando para trás o tumulto da escola e as fofocas que pareciam sempre me seguir.

Ao chegar em casa, a atmosfera estava carregada com a tensão que pairava entre minha mãe e seu marido. Os ignorei mais uma vez e me dirigi diretamente ao meu quarto. Fechei a porta, criando uma barreira simbólica entre mim e o mundo exterior.

Joguei minha mochila no chão e me deixei cair na cama. A música ainda ecoava na minha mente, tentando acalmar os pensamentos turbulentos. A noite se estendia diante de mim, e eu me perguntei se encontraria paz nos meus sonhos ou se seria mais uma vez atormentado por pesadelos.

Enquanto a escuridão envolvia meu quarto, revivi os eventos do dia. Os olhares julgadores, as palavras afiadas, a colisão com Emma. Tudo parecia uma série de eventos interligados que me mantinham à margem daquela realidade superficial que era a vida no campus.

A fumaça do cigarro dançava pelo ar, criando formas efêmeras que se dissipavam no quarto. Refleti sobre a minha atitude indiferente, sobre o escudo que erguia para me proteger do mundo ao meu redor. Às vezes, me perguntava se eu estava escolhendo o caminho certo ou apenas perpetuando um ciclo vicioso de isolamento.

Decidi desligar a música, mergulhando na quietude da noite. Olhei para o teto, perdido em pensamentos, tentando entender o que buscava naquela existência tumultuada. O som distante dos carros na rua, as vozes abafadas dos vizinhos, tudo parecia distante e irrelevante.

A madrugada avançava, e eu me vi perdido entre o desejo de encontrar um propósito e a ânsia de escapar da realidade. O cansaço se misturava com a inquietação, criando um estado de semi-consciência.

E assim, entre o silêncio e a escuridão, me entreguei ao sono.

Skyfall - Entre o Ódio e o PrazerOnde histórias criam vida. Descubra agora