Duvidas

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EMMA

Assim que entro em casa, a primeira coisa que faço é acender a luz da sala. O ambiente se ilumina, mas não escuto passos atrás de mim. Nick deve ter ficado na sala. Não me surpreende, ele sempre foi assim, meio distante. Caminho direto para a cozinha, abro a geladeira e pego duas latas de refrigerante. Ao voltar para a sala, vejo que ele está parado, olhando fixamente para um quadro na parede.

— Toma, pega aí — digo ao parar ao lado dele e entregar uma das latas.

Ele aceita a bebida em silêncio, ainda olhando para a foto. Eu sabia exatamente o que estava atraindo sua atenção: uma imagem minha com meu irmão, tirada no meu aniversário de sete anos.

— Eu tinha acabado de completar sete anos — comento, tentando preencher o vazio do silêncio. Nick abre a lata e toma um gole, sem dizer nada. Esse silêncio dele me deixa sempre um pouco inquieta, mas também é um traço que aprendi a aceitar.

Caminho até o sofá, sentindo sua presença logo atrás.

— Vem, vamos assistir alguma coisa — falo enquanto ligo a TV, passando pelos canais em busca de algo que faça o tempo passar.

Nick finalmente se junta a mim no sofá, jogando-se ao meu lado.

— Não inventa de colocar esses filmes de meninas — diz com aquele tom de provocação que me tira do sério, mas de um jeito quase divertido.

Reviro os olhos, mas retruco sem hesitar.
— Também não vou colocar esses filmes violentos que você provavelmente adora. — Conhecendo ele, já sabia que a conversa ia continuar.

— São cultura, Emma — ele responde, como se estivesse dando uma aula de história.

— Onde que ver pessoas apanhando é cultura? — pergunto, virando-me para ele com uma expressão desafiadora.

Nick não perde tempo. Ele se vira para mim também, um pouco mais perto do que eu esperava. — E Barbie? É cultura para quem?— A maneira como ele fala, tão próximo, faz meu coração acelerar por um breve segundo. Seus olhos nos meus... há algo naquele olhar que me deixa sem reação.

— Coloca algum clássico que todo mundo já assistiu — ele sugere, a voz baixa e grave, me fazendo finalmente desviar o olhar para a TV. Tento me concentrar, mas ainda sinto a intensidade de sua proximidade.

NICK

Emma colocou a série mais chata e entediante que eu já vi na vida. Não tem outra palavra. Mas ela estava tão focada, quase hipnotizada, que eu deixei rolar. Não tinha muito o que fazer. A casa estava completamente vazia, o que só me deixava mais inquieto. Não sei por que ela me convidou para ficar aqui, talvez porque quando chegamos já eram três da manhã e ela não queria que eu voltasse sozinho.

Dois capítulos depois, e a situação não melhora. Sinto algo se encostando no meu ombro. Olho para o lado e vejo Emma dormindo profundamente. Seus traços, tão tranquilos, são quase... serenos. Algo nela me irrita a maior parte do tempo, mas, hoje, foi diferente. Parecia que estávamos em sintonia, mesmo que eu não soubesse explicar o porquê.

O toque do meu celular me tira dos pensamentos. Pego o aparelho do bolso e vejo que é Mary, mandando mensagens. Estou tão cansado dessa série que decido me distrair conversando com ela. Como sempre, Mary elogia minha aparência ou fala sobre coisas superficiais. Ela é exatamente o que eu imaginava. Fico ali conversando com ela por um tempo, até que noto uma luz atravessando a sala pela janela.

Meu coração acelera ao ver o carro do Sr. White entrando na garagem. Ele não faz ideia de que estou aqui. Levanto-me num pulo, deixando Emma dormindo no sofá, e saio pela janela da cozinha antes mesmo de ele entrar em casa e corro o mais rápido que consigo.

EMMA

— Emma, acorde. — A voz do meu pai soa distante, como se estivesse vindo de um sonho. Abro os olhos lentamente e vejo ele parado em minha frente, com aquele sorriso gentil.

— Vai para o quarto, querida. Você parece cansada — ele diz, e só então percebo que adormeci no sofá. Olho para o lado, procurando Nick, mas ele não está mais aqui. Em vez disso, vejo um celular que não reconheço.

Antes que meu pai note, pego o aparelho e subo para o quarto, dando boa noite rapidamente. Algo está estranho, mas estou exausta demais para pensar muito nisso. Deixo o celular de Nick em cima da penteadeira e vou direto tomar um banho. Preciso tirar o cansaço e a confusão do corpo.

Depois de um banho rápido, sento-me à penteadeira e começo a trançar o cabelo. Enquanto passo creme na pele, uma notificação ilumina a tela do celular. O nome "Mary" aparece lá. Meu estômago dá uma leve revirada.

— Fala sério — murmuro para mim mesma, tentando ignorar. Mas outra mensagem chega logo em seguida.

"📷 Boa noite, gatinho. Sonhe comigo."

Fecho o celular na hora. Não sei o que estava naquela foto, e sinceramente, prefiro não saber. Guardo o celular na gaveta da penteadeira, longe da minha vista, e vou para a cama. Mas, mesmo deitada, o desconforto não desaparece.

Nick e Mary. A possibilidade deles estarem juntos não sai da minha cabeça. "Será que eles estão?" "O que tinha naquela foto?", perguntas que ecoam até o limite da minha mente, até que o sono finalmente me vence, mas não sem deixar um gosto amargo de dúvida.




Capítulo curto pra não deixar sem atualização mas a partir do próximo capítulo irá aumentar 😘

Skyfall - Entre o Ódio e o PrazerOnde histórias criam vida. Descubra agora